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OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2005) Turismo em Minas Gerais: os casos de Araxá e Uberlândia. http://profelipego.weebly.com/
SUMÁRIO
1. Prefácio
2. Grande Hotel e Araxaenses: Uma Relação Ambígüa
3. Turismo em Araxá: Os dados do Poder Público
4. Crítica ou elogio: considerações sobre o discurso uberlandense
5. Uberlândia, Turismo e Desenvolvimento (1997-2000)
6. Plano Municipal de Turismo de Uberlândia (2001-2002)
7. Turismo e Hospitalidade em Uberlândia
1. PREFÁCIO
Trabalho, como professor universitário, em cursos de Turismo desde 1994. No ano passado, eu organizei um livro relacionado a este tema, com o título de "Turismo de Negócios". Ele foi publicado pela Rápida Editora.
Tenho interesse especial por questões regionais – os meus outros livros tratam de Minas Gerais - "Poder e política em Minas Gerais" e "Minas Gerais na ditadura militar" - ou mais especificamente sobre o Triângulo Mineiro – como foi o caso da obra "Crescimento urbano e ideologia burguesa".
Neste momento, resolvi divulgar as minhas análises sobre duas cidades mineiras: Araxá e Uberlândia. O eixo temático, claro, foi o Turismo. São textos pequenos, que devem ser considerados como um ponto de partida para um debate mais aprofundado sobre o desenvolvimento turístico regional.
2. GRANDE HOTEL E ARAXAENSES: UMA RELAÇÃO AMBÍGÜA
Seria possível imaginar a cidade de Araxá sem o Grande Hotel? Provavelmente não. Trata-se de uma relação complexa o que ocorre entre os araxaenses e o imponente hotel.
Em primeiro lugar, qualquer cidade pequena ficaria honrada em ser a escolhida para um empreendimento deste porte, como aconteceu com Araxá na década de 1930. A idéia inicial era a criação de um casino e um grande hotel, aproveitando o potencial natural das termas. A grandiosidade do projeto logo transformou o Grande Hotel em um ícone na hotelaria brasileira.
A proibição dos casinos no país foi apenas um primeiro problema a ser enfrentado pelo Estado, responsável pela administração do hotel. Provavelmente as Termas do Barreiro não foram suficientes para manter a ocupação de um empreendimento deste porte. Após a crise internacional do petróleo, em 1974, o Brasil entrou numa séria crise econômica, com uma inflação sem controle e um aumento constante da dívida externa. Nos anos de 1980, "o Grande Hotel (...) começou a entrar em decadência por falta de investimentos. Mas o grande golpe na economia araxaense ocorreu em 96, quando o hotel foi fechado para reforma."
Com a re-inauguração e privatização do Grande Hotel, os araxaenses novamente viram a perspectiva da cidade ser confirmada como um destino turístico. O problema é que essa nova administração, de certa forma, afastou a população do Complexo do Barreiro. O que antes era um lugar de encontro, de passeio, de interação entre os moradores e os turistas, foi fechado com grades, sendo a entrada permitida somente depois da pessoa ser identificada numa guarita.
Talvez nesta visão administrativa tenha predominado a idéia – questionável - do resort, que tenta ser "uma ilha da fantasia", quando o turista não tem contato com o "lado de fora". Isso é um problema, pois o turismo é sempre social e integrador. Não faz sentido um turismo que não valorize a população local. Da mesma maneira, para o turista, não faz sentido visitar um local que ele não possa efetivamente conhecer, ou seja, ter contato com as pessoas, com a cultura, participar das festas locais, visitar museus, saber da história ou mesmo conhecer a culinária regional.
A criação de um convetion & visitors bureau, de uma faculdade de Turismo e mesmo os programas da prefeitura municipal demonstram uma vontade de transformar o município em um dos principais destinos turísticos nacionais. Contudo, sem uma maior integração do Grande Hotel nestes projetos, dificilmente se conseguirá atingir o resultado esperado.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Selmane Felipe. Crescimento urbano e ideologia burguesa. Uberlândia: Rápida Editora, 2002.
OLIVEIRA, Françoise M. Araxá enquanto município turístico e a importância do Grande Hotel do Barreiro. Monografia.Uberlândia: Unitri, 2003.
ROCHA, Rute. O Grande Hotel é a saída. Estado de Minas – Economia, Belo Horizonte, (28): 31, agosto de 2000.
3. TURISMO EM ARAXÁ: OS DADOS DO PODER PÚBLICO
O turismo aparece como um dos principais setores econômicos para o desenvolvimento da cidade de Araxá. Certamente um importante instrumento de divulgação dos dados do municípi seria o site da prefeitura municipal. O objetivo deste texto é analisar as informações turísticas disponibilizadas pelo poder público.
Em primeiro lugar, a própria organização das secretarias demonstra um lugar de destaque para o setor turístico. Entre as quatro secretarias municipais, a que aparece primeiro é a do Turismo e Desenvolvimento Econômico, seguida da Educação, da Fazenda e da Fundação Cultural Calmon Barreto.
Apesar de ser um site de fácil navegação, com quadros disponibilizando as principais áreas de atuação da prefeitura, um problema ocorre quando nos deparamos com alguns links que não funcionam, como acontece com o Projeto Turismo.
Entre os quadros que estão associados diretamente com o turismo, podemos destacar:
. Projetos – com os links: CAT/SINE; CAMI; PRODER; COMTUR; PRODER e Projeto Turismo.
. Turismo – com os links: Rural; Circuito da Canastra; Ecológico; Pontos Turísticos; Religioso e Aventura.
. Serviços – com o link: Informe ao Turista.
. Catálogo de Produtos de Araxá – com os links: Bordado; Cachaça; Cosméticos; Doces; Modelagem; Móveis; Objetos em Madeira; Patchwork; Pintura; Produtos da Roça e Velas Artesanais.
No caso do quadro Projetos, os dados turísticos mais pertinentes estão no link COMTUR. Trata-se, basicamente, do processo histórico do Conselho Municipal de Turismo, com suas iniciativas que a cidade seja "consolidada como destino turístico."
O quadro Turismo, do ponto de vista deste setor, é mais interessante, pois apresenta os programas da prefeitura para esta área. Três links não estão funcionando:Circuito da Canastra, Ecológico, e Aventura. O link Rural começa com uma longa citação de Glaura Teixeira Nogueira Lima, retirada do livro "Das Águas Passadas À Terra do Sol: Ensaio Sobre a História de Araxá". Trata-se de uma descrição histórica de Araxá. Em seguida aparecem dois parágrafos esclarecendo o potencial do turismo rural na região:
"Atualmente contamos não só com a pecuária tradicional mas com: produção de rosas, lavouras de café, milho e batata, criação de animais exóticos como o javali, criação de gado leiteiro como jersey, o holandês e o mestiço; gado próprio para corte; alambiques desde o mais artesanal ao industrializado.
A riqueza da região conta também com a vegetação típica de cerrado, serras, cachoeiras, animais silvestres, como a seriema, tamduá-bandeira, ema, entre outros possíveis de serem apreciados em um simples passeio pelas trilhas do cerrado, além da Serra da Canastra com o Parque Nacional e as tradições típicas da região."
Assim, o cerrado é apresentado como uma região exótica. Isso não ocorre por acaso, afinal, os turistas querem conhecer algo diferente. Certamente esse é um dos principais motivos que leva as pessoas a viajar. Para complementar essas informações, o site oferece ainda algumas fotos das fazendas, chácaras e outras localidades do turismo rural.
No link Pontos Turísticos, também aparecem as fotos dos atrativos e um texto de apresentação:
"Araxá, terra de Dona Beja, situa-se no planalto do Alto Paranaíba.
A palavra Araxá, vem da linguagem Tupi e significa ‘lugar onde primeiro se avista o sol.’ O nome foi atribuído aos índios Arachás, procedentes da Tribo dos Cataguás, antigos habitantes do lugar.
Araxá é uma cidade hospitaleira e tem como cartão de visitas a Estância do Barreiro, um belíssimo complexo termal.
A mineração, a agropecuária e o turismo são as nossas principais fontes de renda.
Nossos deliciosos doces e queijos, somados à culinária, são sinônimos de qualidade, através de receitas passadas de geração para geração.
Sinta-se em casa, aqui em nossa cidade."
Em suma, a cidade é apresentada como um lugar agradável e diferente, com características próprias, o que, naturalmente, justificaria uma visita. O texto lembra ainda alguns aspectos que são associados aos mineiros, como a produção de queijos e sua culinária. Ou seja, o aspecto da mineiridade não é esquecido quando tenta se reforçar o município de Araxá como um importante atrativo turístico do Estado.
Associado à mineiridade está a própria religiosidade. Neste sentido, a prefeitura disponibiliza um link de turismo religioso, destacando os atrativos araxaenses neste segmento:
"Centenárias e com estilos que passam pelo gótico e barroco, as igrejas de Araxá além de abrigar imagens sacras de grandes artistas, são o símbolo maior da religiosidade do seu povo.
Araxá respeita a opção religiosa e doutrinária de cada crença que convivem harmoniosamente no seio de sua moderna sociedade, dentro dos templos de diversas religiões."
A religiosidade, a mineiridade e o clima de cidade do interior tentam criar uma imagem coesa e atraente de Araxá. Em outras palavras, trata-se de um lugar ideal para quem quer fugir da agitação e do stress das grandes cidades. As Termas do Barreiro reforçam essa idéia de tranqüilidade e de uma vida saudável.
Apesar de todos esses dados e da ênfase ao espírito hospitaleiro do povo de Araxá, falta, em um site que trata de um destino turístico, um ponto relevante: ressaltar a qualidade da mão-de-obra dos profissionais da cidade. Deveria ser destacado, por exemplo, que o município possui, além de cursos técnicos, uma faculdade de turismo, que fornece profissionais gabaritados para assumir qualquer função exigida no trade turístico.
Certamente, com o tempo, melhorias serão feitas no site da prefeitura, com informações mais completas e atualizadas. Talvez um caminho para o enriquecimento deste banco de dados fosse estabelecer parceiras com instituições ligadas diretamente ao turismo da cidade, como o convetion & visitors bureau e o curso de turismo do UNIARAXÁ.
BIBLIOGRAFIA
ANSARAH, Marília G. R. (org.) Turismo – segmentação de mercado. São Paulo: Futura, 1999.
CRUZ, Rita C. Política de turismo e território. São Paulo, Contexto, 2000
OLIVEIRA, Selmane Felipe. Turismo de Negócios. Uberlândia: Rápida Editora, 2004.
ROCHA, Rute. O Grande Hotel é a saída. Estado de Minas – Economia, Belo Horizonte, (28): 31, agosto de 2000.
TRIGO, Luiz Gonzaga G. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. Campinas: Papirus, 1993.
4. CRÍTICA OU ELOGIO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O DISCURSO UBERLANDENSE
Uberlândia ainda é uma cidade que se coloca como modelo, que se apresenta como vanguarda da região ou mesmo do país (em termos de cidades de médio porte). As suas pretensões não estão ligadas aos valores culturais e tradicionais de Minas Gerais. A sua vocação, de acordo com a elite local, sempre foi a economia, aproveitando-se da sua localização geográfica privilegiada.
Uberlândia se mostrava como moderna, como a cidade do asfalto e das luzes neon antes mesmo da década de 50, período que o município de maior destaque na região era Uberaba – cidade que se destacava pela agropecuária, sobretudo pela criação do gado zebu.
Na verdade, para Uberlândia concorrer com Uberaba não restava muitas opções a não ser o discurso da modernização, baseado nas atividades comerciais e industriais. Tratou-se, portanto, da construção de um discurso que buscava unir vários elementos para dar coesão à elite local e que justificasse a sua liderança, mais do que isso, que transformasse o seu discurso no discurso da cidade.
Se, por um lado, não se pode afirmar que a Cia. Mineira de Autoviação (1912) de Fernando Vilela, que criava as estradas na região tendo Uberlândia como ponto central, fazia parte de um plano estratégico para transformar a cidade em um pólo de desenvolvimento da região, por outro, não há como negar que, a partir da década de 50, os projetos levados adiante pela ACIUB e as lideranças políticas locais visavam não somente o crescimento da cidade mas também representavam a luta pela conquista da liderança da região. A rivalidade entre Uberlândia e Uberaba era clara nesta época.
Os projetos mais importantes de Uberlândia estavam associados à criação de faculdades, de uma unidade do exército no município e de uma cidade industrial. Estes projetos se justificariam na medida em que eles representavam a vinda de pessoas e investimentos para o município. De uma maneira geral, sobretudo entre as décadas de 30 e 80, o processo de urbanização brasileiro era realizado sobretudo a partir da industrialização. São Paulo ganhou destaque na economia nacional investindo neste setor, enquanto a decadência do Rio de Janeiro se explicaria por sua especialização administrativa – foi a capital do país até 1960 – e ênfase no setor de serviços. Aliás, a mudança da capital e os projetos do governo Juscelino Kubitschek, foram bem aproveitados pelas lideranças uberlandenses. Muitos dos antigos traçados da cia. de Fernando Vilela iriam se transformar em rodovias – como incentivo às empresas automobilísticas multinacionais que viriam a se instalar no país – que se dirigiam para Brasília, passando por Uberlândia, transformando essa cidade em um entreposto comercial, ligando o norte e o sul do Brasil.
A elite uberlandense se colocava moderna em termos de projetos econômicos – entenda-se a industrialização contra o antigo setor agrário – e conservadora no que dizia respeito às questões sociais. Esta prática iria coincidir com o projeto defendido pelo regime instaurado com o golpe de 1964. As lideranças políticas conheceram o seu melhor momento (nesta época): a indicação do uberlandense Rondon Pacheco para o cargo de governador de Estado em 1971. Não foi por acaso, aliás, que durante este regime ocorreram a criação do Distrito Industrial e da Universidade Federal de Uberlândia.
Nos anos 19 80, com a decadência dos governos militares e a ascensão da oposição, representada, sobretudo, pelos ideais pemedebistas, a elite local viu, provavelmente pela primeira vez, a vitória de um candidato a prefeito estranho a sua tradição. Tratava-se de Zaire Rezende, candidato do PMDB, que pautava seu discurso principalmente em questões sociais (ele foi, por exemplo, um grande incentivador das associações de bairros). Esta diferença, porém, não significava um rompimento com a prática política local em termos da exclusão da maioria da população dos benefícios que o crescimento econômico trazia para a cidade. A sua vitória se explicaria também pelo momento político da época, quando o PMDB sairia vencedor nos principais municípios brasileiros. Pelo menos no caso de Uberlândia, tratou-se mesmo de um momento, pois nas eleições seguintes as lideranças do grupo tradicional tornaram-se vencedoras. Talvez o principal marco deste processo tenha sido as eleições de 1996, quando os dois maiores líderes políticos (do período) se enfrentaram. De um lado, Zaire Rezende, com temáticas mais sociais e de outro, Virgílio Galassi, prefeito da cidade durante o regime militar, e com um discurso para os uberlandenses (que se forem identificados somente os que nasceram na cidade, certamente tratava-se de uma minoria naquele momento). No entanto, o resultado da eleição foi a vitória de Galassi por uma pequena margem de votos. Isso pode ser explicado se for considerado o fato de que ser uberlandense mais do que nascer na cidade passou a significar um projeto de vida, que foi construído pela a elite local como o único discurso possível, tentando transformar os seus valores burgueses, a sua postura moderna e a ênfase na aparência das coisas (e das pessoas) na verdadeira imagem da cidade e de sua população. Não foi coincidência, portanto, o tratamento que Uberlândia teve em uma matéria da revista Veja:
"Rica, poderosa e fútil. Desfila com roupas extravagantes, celular a tiracolo e não perde a chance de dar um pulinho ao shopping center. Se a sociedade de Uberlândia fosse uma mulher teria todas essas características."
Apesar dos termos utilizados na reportagem, o interessante foi perceber que as pessoas destacavam muito mais o fato da cidade sair na revista do que o conteúdo da matéria. Talvez elas realmente estivessem em dúvida se se tratava de uma crítica ou de um elogio.
BIBLIOGRAFIA
ALVARENGA. Nizia N. As Associações de moradores em Uberlândia. Dissertação de mestrado. São Paulo: PUC, 1988.
GRANATO, Alice. Quero ser ela: o sonho nos arredores da BR-153 é um dia virar a rica. Uberlândia. Veja, São Paulo, 33 (1): 84, 5 de janeiro de 2000.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. A Rivalidade entre Uberlândia e Uberaba. Cadernos de História, Uberlândia, 4 (4): 89-97, jan./dez. 1993.
RODRIGUES, Jane de Fátima S. Trabalho, ordem e progresso: uma discussão sobre a trajetória da classe trabalhadora uberlandense - setor de serviços - 1924-1964. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 1989.
5. UBERLÂNDIA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO (1997-2000)
As lideranças da cidade de Uberlândia sempre se preocuparam com os projetos de crescimento da cidade. Foram várias lutas neste sentido, destacando-se as campanhas para a criação de faculdades no município, de uma unidade do exército, de uma Cidade Industrial, a construção de rodovias, isto sem falar na mudança na capital federal para Brasília, que beneficiou muito a região do Triangulo Mineiro.
De todos estes projetos, havia uma preocupação especial com a Cidade Industrial, pois ela significava abertura de empresas e empregos, o que reforçaria o fluxo migratório para a cidade, consolidando assim o seu desenvolvimento. Em um determinado momento a própria ACIUB chegou a abrir mão da luta por faculdades desde que se construísse uma Cidade Industrial em Uberlândia. Com a atuação destas lideranças juntamente com os poderes executivo e legislativo da cidade, em 1965 este projeto foi concretizado, sendo que em 1972 transformou-se em Distrito Industrial (sendo uma iniciativa do governador na época, o uberlandense Rondon Pacheco).
Atualmente, em um contexto de globalização e revolução tecnológica, admite-se, do ponto de vista da geração de empregos, um certo declínio do setor industrial tradicional e uma ascensão das áreas ligas ao setor de serviços. Dentre estas áreas, destaca-se o Turismo. Não é por acaso, portanto, que para permanecer como pólo de desenvolvimento da região, a prefeitura municipal tem, entre os seus projetos, a criação de um Distrito Turístico. Neste distrito seria construído, de acordo com o poder público, um parque temático, cujo projeto estaria sendo "elaborado pela Torres & Baldacci Associados (uma das principais empresas nacionais de consultoria para implantação de parques, responsável inclusive pelo projeto Parque do Gugu)."
Na análise da prefeitura, este projeto "será o primeiro Distrito Turístico do Brasil, para o qual Uberlândia possui todos os requisitos necessários como acesso, topografia, espaço e estrutura física na região da Cachoeira de Sucupira. O Distrito Turístico, que está em fase de elaboração, será a exemplo do que foi o Distrito Industrial, um elemento catalisador de investimentos, de forma organizada e produtiva, dentro do qual se criarão as condições ideais de convivência positiva de inúmeras atrações turísticas de lazer, permitindo assim divulgar às agências de turismo e operadoras um destino com grande comodidade e diversidade de opções. Para os investidores que queiram apostar no segmento do futuro - o turismo, o projeto é uma excelente oportunidade de iniciar um empreendimento com todo o planejamento estruturado."
Além do projeto do Distrito Turístico, a prefeitura procurou destacar outras ações na área do Turismo, como a declaração da EMBRATUR colocando Uberlândia como Município Prioritário para o Desenvolvimento do Turismo, o City Tour Escolar e City Tour "Conheça Uberlândia", a Revista Cerradinho e o Centro de Convenções do Center Shopping.
Somando-se a estas ações, na análise do poder público municipal, havia ainda o projeto de criação do Uberlândia Convention & Visitors Bureau. Este projeto seria fundamental pois ele auxiliaria "o Turismo de Eventos e Negócios em nossa cidade, (...) [além de] atrair eventos, fomentar a entrada de visitantes e dirigir seu marketing para outros segmentos do turismo." O Uberlândia Convention & Visitors Bureau possibilitaria "ainda aglutinar todo o trade turístico para realizar um esforço conjunto na divulgação de Uberlândia, gerando inúmeras perspectivas de novos negócios."
Estes projetos da prefeitura de Uberlândia demonstram uma preocupação com o futuro da cidade enquanto um pólo de desenvolvimento. Soma-se a idéia do Distrito Turístico a criação de várias universidades no município. Aliás, o que estes projetos têm em comum é que eles são importantes elementos de atração de migrantes para a cidade. No caso das universidades, outro ponto que chama a atenção é a preocupação com a formação de mão-de-obra especializada. Se nos anos 60, antes mesmo da inauguração da Cidade Industrial, foi necessária a criação de cursos técnicos para formar os trabalhadores, o que ocorreu com a Escola Renee Gianetti a partir de 1964, atualmente, em 2000, a revolução tecnológica requer profissionais mais qualificados, o que justificaria, assim, o incentivo em relação à criação de universidades, faculdades e de novos cursos de graduação e pós-graduação na cidade.
Em suma, não pode se afirmar que os projetos da prefeitura de Uberlândia sejam equivocados. Desenvolver novas áreas econômicas na cidade, atrair investimentos e novas empresas, gerar novos postos de trabalho, não há como lutar contra estas bandeiras, afinal, tudo isso é fundamental para se criar mais riquezas no município; o problema em Uberlândia, como nas demais cidades brasileiras, é justamente a distribuição desta riqueza, ou seja, o objetivo que deveria estar por trás de todos estes projetos seria uma melhor qualidade de vida para um número cada vez maior de pessoas. A realização deste objetivo talvez até justificasse a insistência das lideranças da cidade em colocar Uberlândia como modelo ou vanguarda dos municípios brasileiros.
BIBLIOGRAFIA
ALVARENGA. Nizia N. As Associações de moradores em Uberlândia. Dissertação de mestrado. São Paulo: PUC, 1988.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. A separação do Triângulo: a História de uma luta. Ícone, Uberlândia, 5 (1): 29-57, jan./jun. 1997.
___. A Rivalidade entre Uberlândia e Uberaba. Cadernos de História, Uberlândia, 4 (4): 89-97, jan./dez. 1993.
SILVA, Antonio Pereira. ACIUB em revista. Uberlândia: Gráfica Sabe, 1985.
6. PLANO MUNICIPAL DE TURISMO DE UBERLÂNDIA (2001-2002)
O setor do turismo passou por várias fases no Brasil. O primeiro decreto-lei que tratava do setor foi criado em 1938, normatizando as agências de turismo e de venda de passagens. Na prática, porém, não havia uma preocupação em estabelecer uma política para o setor no país. Esta proposta seria discutida em 1958, com a criação da COMBRATUR. Mas, apesar dos debates, nada aconteceu.
Para muitos, a história do turismo brasileiro começaria em 1966, com a criação da EMBRATUR. Nesta época, havia uma política de incentivos fiscais e financeiros. O próprio Estado administrava empresas turísticas. Isso pode ser explicado pelo contexto político, afinal, tratava-se de uma ditadura militar, com forte intervencionismo estatal e com um importante apoio do capital estrangeiro.
Em 1985, ocorreu a redemocratização do país. O regime militar havia deixado uma dívida de mais de 100 bilhões de dólares e uma inflação anual de mais de 400 %, o que significava mudanças na política governamental. Era o fim dos incentivos fiscais. O governo Sarney, apesar de todos os planos econômicos, congelamento de preços e mesmo a moratória da dívida externa, não conseguiu resolver a grave crise econômica brasileira. Com a eleição de Fernando Collor e sua proposta de abertura de mercado e modernização do país, surgiram novas propostas para o turismo, que foram sintetizadas no Plantur (Plano Nacional de Turismo). Entretanto, com o impeachment do presidente, todo o projeto foi abandonado.
A gestão do presidente Itamar Franco foi importante, basicamente, por causa do Plano Real, que conseguiu estabilizar a inflação. Ele conseguiu eleger o seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, que procurou tratar o turismo de uma maneira mais profissional, seguindo as diretrizes da OMT (Organização Mundial de Turismo). Foi criado, assim, o principal documento do setor: a Política Nacional do Turismo (1996-1999). Entre os seus 23 programas, destacava-se o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, que dava assessoria técnica aos municípios, sobretudo através de oficinas, no sentido de se criar o Conselho Municipal de Turismo e, posteriormente, tratar da elaboração de um plano turístico para a cidade.
Foi neste contexto que surgiu a idéia do Plano Municipal de Turismo (PMT) de Uberlândia, a partir da eleição do prefeito Zaire Rezende. Com a sua posse em 2001, foi criada a Secretaria de Turismo, que ficou a cargo de Kenner Santos Garcia. Foram apresentadas, assim, as diretrizes de uma política de turismo da cidade através da divulgação do PMT. Este artigo visa analisar este documento, mesmo considerando a curta existência da secretaria – com a reforma administrativa do governo municipal, ela foi, após 2003, incorporada à Secretaria de Indústria, Comércio, Agropecuária e Turismo.
Inicialmente o PMT apresentava-se como um documento representativo de toda a sociedade e não apenas como uma proposta do governo municipal. Isso não acontecia por acaso, afinal tratava-se de uma recomendação do PNMT, ou seja, o plano deveria ser o resultado dos debates ocorridos a partir da criação de um conselho municipal de turismo. Outro ponto que deve ser levado em conta, especificamente neste caso, era a visão política da administração municipal, que se colocava como uma "democracia participativa", ou seja, de acordo com o documento da prefeitura:
"A equipe da Secretaria Municipal de Turismo, na atual gestão, sob o comando do Secretário Kenner Santos Garcia, elaborou, com ampla participação de todos os setores, direta ou indiretamente envolvidos com a atividade turística no Município e, observando rigoroso cumprimento do compromisso de governo assumido pelo prefeito Zaire Rezende, o Plano Municipal de Turismo que consubstancia antigas aspirações e estabelece novos rumos para o turismo receptivo de nossa Cidade. (...) O Plano Municipal de Turismo também foi apresentado a direção do CDL e aos membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Turismo - COMDETUR, formado por uma equipe multidisciplinar composta por personalidades representativas de nossa sociedade."
Outro ponto que chamou atenção na introdução do plano foi crítica à administração anterior – do prefeito Virgílio Galassi – quando se afirmava que:
"O Plano surgiu como resposta a duas realidades: a verificação da importância do turismo no desenvolvimento sócio -econômico da Cidade e a constatação da ausência de uma política adequada para o setor, alicerçada num planejamento de médio e longo prazos. A equipe da Secretaria de Turismo, propôs à sociedade uma discussão séria e ampla sobre a cidade como produto turístico."
Dois pontos merecem destaque. Primeiro, a "ausência de uma política adequada para o setor", ou seja, a política de turismo de Galassi – como o projeto de Distrito Turístico, o City Tour Escolar e a criação de um Convention & Visitors Bureau na cidade – era considerada equivocada e, indiretamente, era mostrada como autoritária na medida em que somente com o governo Zaire Rezende surgiria "uma discussão séria e ampla sobre a cidade como produto turístico."
O PMT era apresentado em quarto partes: as etapas de elaboração, estratégias de desenvolvimento, estratégias de médio e longo prazo e o plano operacional. Além disto, havia o Projeto Linha Verde, que seria um "Circuito Turístico idealizado pela Secretaria de Turismo da Prefeitura Municipal de Uberlândia, que [abrangeria] as (...) avenidas e logradouros."
A primeira parte do PMT – as Etapas de Elaboração - estava sub-dividida em: organização, diagnóstico, o plano operacional e implementação. Na organização, apareciam apenas dois parágrafos destacando a importância da parceria "do poder público e da iniciativa privada." A fase do diagnóstico era mostrada como a coleta de dados inicial, visando "obter um retrato da cidade de Uberlândia." No plano operacional, seria "necessário o apoio e a parceria de todas as Secretarias direta ou indiretamente envolvidas nas ações técnicas e operacionais dos projetos selecionados, bem como o envolvimento da iniciativa privada." Finalmente, a implementação era apresentada como a "próxima fase" do PMT, dando a entender que toda a fase de pesquisa já havia sido feita. De acordo com o PMT:
"A Implementação será caracterizada pela efetiva implantação dos projetos apontados como prioritários, selecionados segundo critérios de necessidade e viabilidade. Este processo será acompanhado tecnicamente, de forma a que se possa garantir seu sucesso e mensurar o crescimento do turismo na cidade. Este é sem dúvida o maior desafio do Plano Municipal de Turismo: a implantação dos projetos e a participação e avaliação efetivas da sociedade."
Entretanto, estes projetos não foram implantados, pois, entre outras coisas, houve a reforma administrativa e a extinção da secretaria de turismo, o que enfraqueceu a política do setor. Na prática, depois de 2003, desapareceram as ações efetivas do poder público no sentido de desenvolver o turismo municipal.
Voltando a análise do PMT, a segunda parte do plano era constituída pelas Estratégias de Desenvolvimento. Primeiro, era ressaltado que o PMT seguia "o padrão internacional dos planejamentos de turismo para grandes cidades," destacando ainda a defesa de "uma visão compartilhada do futuro, possível e realista, levando em conta o que se deseja para a cidade." Naturalmente, nesta perspectiva, o poder público municipal era colocado como o verdadeiro e legítimo interlocutor dos interesses da população.
Uberlândia era mostrada como "uma cidade com grande potencial turístico e com personalidade própria." Essa personalidade estava baseada sobretudo no turismo de negócios. Tudo isso seria confirmado em uma matéria de capa da revista Negócios, com a foto do secretário de turismo e com o título "Turismo de gravatas":
"Segundo Kenner Garcia, das pessoas que visitam Uberlândia, 80% são turistas de negócios, atraídas por diversos fatores, entre os quais pode-se destacar a presença de grandes empresas na cidade, tais como Algar, Martins, Souza Cruz, Monsanto e a recém-chegada BPO. ‘Temos que buscar uma identidade neste segmento para Uberlândia e o turismo de eventos e negócios é o que está mais próximo de nossa realidade. Não quero dizer que não haverá turismo de lazer na cidade. Tem que haver, mas acredito que o lazer que vamos precisar, em curtíssimo prazo, é o entretenimento noturno porque precisamos atender esses executivos de negócios.’"
Ainda nas Estratégias de Desenvolvimento do PMT era descritos os objetivos e os resultados do plano. Quanto aos objetivos, seria necessário "incrementar os fluxos turísticos para Uberlândia; consolidar a liderança regional de Uberlândia, no turismo receptivo; criar e consolidar uma nova imagem turística de Uberlândia como cidade referência da Região e do Estado, com atrativos integrados capazes de motivar os segmentos de: congressos e convenções; feiras e cultura, lazer, esportes." Para realizar esses objetivos, de acordo com o PMT, seria importante conscientizar a sociedade uberlandense de que "a melhora da qualidade turística é um trabalho permanente (e) o marketing turístico é um elemento chave na gestão da cidade e seus custos não representam um gasto, mas investimento."
Todos estes aspectos do PMT estavam corretos, exceto quando se falava em criar uma nova imagem turística de Uberlândia para em seguida afirmar que essa imagem seria associada ao turismo de negócios, como se isso tivesse sido descoberto na gestão do prefeito Zaire Rezende, o que não era verdade, afinal, quando se discutia o turismo nas administrações anteriores, era sempre lembrado o potencial da cidade na área de negócios. Portanto, tornava-se questionável afirmar que o turismo de negócios seria a nova imagem do turismo uberlandense depois de 2001.
Quanto aos resultados, era destacada a "modernização da cidade; [o] dinamismo na geração da oferta turística; [a] cultura de serviço ao turista [e a] ação resultante da atuação conjunta do setor público e do setor privado."
Na terceira parte do plano, eram tratadas as estratégias de médio e longo prazo:
"O desenvolvimento integrado da Cidade, em termos sociais, econômicos, urbanos e naturais, é condição básica para um bom desenvolvimento turístico. Só pode haver desenvolvimento turístico sustentável em cidades que proporcionem qualidade de vida aos seus habitantes. O Plano, ao desenvolver e implantar suas ações, tem como base a visão simultânea da Cidade como pólo turístico e sede da vida cotidiana de seu cidadão."
Em suma, tratava-se da velha idéia de que o turismo somente seria bom para os visitantes se fosse bom também para os próprios moradores. O desenvolvimento turístico deveria ser integrado, ou seja, o turismo não existe sozinho, para crescer é necessário considerar os aspectos sociais, econômicos, urbanos e naturais de uma localidade.
O Plano Operacional representava a quarta parte do PMT. Eram apresentados alguns programas específicos para o turismo uberlandense. Um deles tratava de valorizar o morador, conscientizá-lo do potencial do município e dos seus próprios atrativos. No Programa "Uberlândia é nossa" era destacado que:
"Uma cidade só é boa para os turistas quando é boa para seus cidadãos. Este pensamento norteou o Plano Municipal de Turismo na criação do programa ‘Uberlândia é Nossa’, que tem como prioridade atender às necessidades de lazer do uberlandense em sua própria cidade. Uberlândia oferece a seus habitantes pouca diversificação de produtos de entretenimento e lazer e, muitas vezes, a oferta não chega ao conhecimento de seu morador. Um ponto importante, diagnosticado pelo Plano, foi que o uberlandense não conhece sua cidade. Áreas importantes, como o Parque do Sabiá, são completamente esquecidas e desconhecidas por grande parte da população. Deve-se estimular entre os uberlandenses o desejo do redescobrimento da cidade."
Essas observações estavam corretas. Mas a questão era um pouco mais complexa. Talvez o problema não fosse o fato do uberlandense não conhecer os atrativos da cidade – como o Parque do Sabiá -, mas sim o que ele se identifica, gosta e valoriza. Para os moradores, o principal atrativo do município seria o seu shopping center. Nos finais de semana, a população costuma passear no shopping e não no Parque do Sabiá. Isso não ocorre por acaso, afinal a construção da imagem da cidade sempre esteve associada aos valores burgueses – como ordem e progresso – e seus moradores procuram se apresentar como modernos, com belos carros e roupas de marca. Certamente não seria fácil mudar a mentalidade de uma população que historicamente foi criada para acreditar que morava numa cidade moderna – comercial e industrial – e que isso significava valorizar somente a aparência das coisas e das pessoas.
Outro programa do Plano Operacional dizia respeito aos "Novos Produtos e Pacotes para Turistas". Aqui mais uma vez a cidade era mostrada como inadequada para o desenvolvimento do Turismo:
"Quanto ao lucrativo turismo de congressos, feiras e exposições, é necessário aumentar a oferta de produtos específicos e estabelecer critérios e metas para a captação de eventos de âmbito regional, estadual, nacional e internacional. A indústria turística não está estruturada de forma satisfatória a comercialização da cidade. O mercado turístico mundial se caracteriza, dentre outras coisas, pelo aumento da demanda por serviços de qualidade e pela maior personalização e flexibilidade dos pacotes turísticos oferecidos. É preciso que a oferta turística passe a ser estruturada em pacotes, montados de acordo com as preferências de cada turista."
De acordo com as diretrizes do PMT, uma forma de melhorar o turismo uberlandense seria através da valorização da "Vocação Esportiva da Cidade":
"O turismo esportivo na cidade de Uberlândia é pouco explorado, se considerada a diversidade de locais que é oferecido. Mesmo apresentando características propícias a várias modalidades de esportes, a cidade continua perdendo oportunidades turísticas, por não oferecer ao visitante possibilidades de usufruir de seu potencial esportivo. Uma cidade com a geografia e o clima de Uberlândia pode proporcionar eventos esportivos variados. A cidade precisa, para isso, elaborar um calendário de eventos que inclua regatas (Parque do Sabiá e Miranda), maratonas, entre outras formas de atrações que situem Uberlândia no centro do panorama esportivo nacional. Vale lembrar que temos um estádio considerado entre os dez melhores do País: João Havelange; temos uma equipe de basquete entre as três melhores do Brasil: UNITRI Uberlândia; temos a equipe campeã do Rally de Velocidade; temos vários desportistas de destaque nas mais variadas modalidades."
A avaliação geral mostrada no PMT era que Uberlândia tinha "um conjunto potencial de recursos amplo e equilibrado, com deficiência em serviços complementares e sérios problemas de estruturação, informação, comercialização e comunicação." Assim, com esta realidade seria necessário a elaboração do macroprograma Melhoria de Produtos Atuais que serviria para "valorizar os produtos atuais, diversificando seus serviços e melhorando sua qualidade para consolidar o destino Uberlândia."
Complementando o Plano Municipal de Turismo, havia o Projeto Linha Verde. Trata-se, basicamente, da criação de um zoneamento turístico na cidade, a partir de suas principais avenidas. A idéia seria adequar a própria infra-estrutura urbana para o desenvolvimento do turismo, incentivando a criação de atrativos e empreendimentos turísticos nessas vias.A Linha Verde apresentava algumas características importantes:
". 90 % é composta de avenidas de duas pistas;
. Todo o trajeto é arborizado;
. Toda Linha Verde é interligada;
. O trajeto apresenta, ao longo de sua extensão, cultura de acesso para o deficiente físico;
. Tem iluminação pública diferenciada e é sinalizada;
. Alguns dos principais hotéis da cidade estão instalados sobre a Linha Verde;
. Oferece acesso rápido ao Aeroporto e ao Terminal Rodoviário;
.Aproximadamente 70% da Linha Verde é composta de empreendimentos comerciais, hoteleiros, gastronômicos , de lazer e entretenimento;
. A Linha Verde já é dotada de infra-estrutura básica e serviços públicos essenciais : Pronto Socorro, Posto Policial, Corpo de Bombeiros, etc."
Em termos práticos, no que dizia respeito a esse projeto, deve se destacar que foram distribuídos, entre 2001 e 2003, vários Guias de Bolso, com informações sobre a cidade e o próprio mapa da Linha Verde. Nos dois primeiros anos da administração Zaire Rezende foram apresentados ainda dois projetos:
"Guia Turístico Mirim - Um projeto social entre a Prefeitura e uma instituição que presta assistência a menores em Uberlândia, a Icaso, prevê trabalho com adolescentes entre 16 e 18 anos de idade. Eles serão treinados para serem guias em pontos de maior fluxo de turistas, como aeroporto, rodoviária e o centro da cidade.
Turismo e Cidadania - Três vezes por semana, crianças da rede escolar serão levadas para um tour pela cidade. O objetivo é que elas conheçam como funciona o turismo e aprendam um pouco mais sobre a história de Uberlândia."
Quanto ao primeiro projeto, Guia Turístico Mirim, ele ficou somente na intenção, sem resultados práticos. O Turismo e Cidadania era basicamente uma repetição do projeto City Tour Escolar da administração Virgílio Galassi (1997-2000). Entretanto, isso não diminuía a importância de um projeto que tratava da conscientização das crianças tanto quanto ao turismo como no que dizia respeito ao processo histórico do município.
Em suma, a criação de uma secretaria exclusiva para o turismo e a elaboração, mesmo com alguns pontos questionáveis, de um plano municipal turístico, demonstraram, inicialmente, a preocupação do governo Zaire Rezende com o desenvolvimento do setor. Entretanto, após 2003, houve um retrocesso, pois, com a reforma administrativa, o turismo voltou a fazer parte da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio e, na prática, os seus projetos foram abandonados, ou seja, as propostas do Plano Municipal de Turismo não foram concretizadas.
BIBLIOGRAFIA
ANSARAH, Marília G. R. (org.) Turismo – segmentação de mercado. São Paulo: Futura, 1999.
BARCELOS, Cecília e RAMOS, Claiton.Turismo de gravatas: O negócio do turismo de gravatas tem movimentado bilhões de reais no Brasil. Negócios, Uberlândia, 6 (43): 20-27, 2002.
CRUZ, Rita de Cássia. Política de turismo e território. São Paulo: Contexto, 2000.
DAMAZO, Priscilla Schiavinato. Infra-estrutura turística e urbana de Uberlândia. Uberlândia: UNITRI, 2003.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. Crescimento urbano e ideologia burguesa. Uberlândia: Rápida Editora, 2002.
TRIGO, Luiz Gonzaga G. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. Campinas: Papirus, 1993.
7. TURISMO E HOSPITALIDADE EM UBERLÂNDIA
Historicamente, a imagem de Uberlândia esteve associada ao modelo de entreposto comercial. A cidade foi lembrada também pelo seu desenvolvimento industrial. A construção de uma imagem de município moderno aparecia nos meios de comunicação e nas discussões de políticos e empresários uberlandenses, mesmo quando Uberlândia ainda não era a principal cidade do Triângulo Mineiro.
A "opção" de ser uma cidade moderna se colocava como uma alternativa para Uberlândia concorrer com Uberaba, que era identificada com a agropecuária. A rivalidade entre os dois municípios foi clara, sobretudo entre 1950 e 1980, quando Uberaba deixou de ser o principal município da região.
O problema era que a criação da imagem do moderno em Uberlândia esteve associada aos valores burgueses e ao incentivo de uma postura elitista dos moradores da cidade. O desenvolvimento do município era colocado como uma ação dos uberlandenses. Os problemas – mendigos, criminalidade, favelas, entre outros – eram associados aos forasteiros.
Tratar mal os migrantes não é uma exclusividade de Uberlândia. Em qualquer lugar do mundo, existe uma diferença clara no tratamento do "forasteiro": para o migrante, a polícia, a lei; para o turista, o tratamento vip, o tapete vermelho. Um exemplo é a cidade de Londres, onde as pessoas – policiais, motoristas de táxi, etc – são extremamente cordiais com os turistas enquanto os migrantes são tratados como criminosos, com polícias especais, leis rigorosas e com deportações.
Talvez este seja o problema de Uberlândia. O ideal seria tratar todos da mesma maneira: ser cordial e civilizado. Entretanto, tratar o turista como sempre lidou com o migrante é um erro grave para um município que pretende ser destaque no turismo de negócios e eventos.
Não existe turismo sem hospitalidade. Esta é a questão. Uma cidade fechada e elitista não terá sucesso como destino turístico. Não adianta negar o óbvio. Quem nunca foi mal recebido numa loja do shopping, só porque o vendedor achou que você não estava vestido adequadamente ou imaginou que você não tivesse dinheiro? Quem nunca passou por uma situação em que companheiros de trabalho ou colegas de sala de aula deixam de te cumprimentar só porque você estaria "mal vestido" ou em um ponto de ônibus? Quem nunca ouviu a pergunta: qual é a sua família mesmo?
Alguns poderiam argumentar que estas são características de cidade pequena. No entanto, isso não resolve o problema. Aliás, este tipo de afirmação faz parte do problema. Ou seja, algumas pessoas apresentam Uberlândia como uma metrópole, como uma cidade grande, coisa que ela não é. Ela é uma cidade de médio porte. O problema, mais uma vez, é defender uma imagem que não corresponde à realidade. Por quê? Por que a cidade tem que parecer uma coisa que, de fato, não é? Por que as pessoas te cumprimentam a partir da roupa que você está vestindo? Lembram quando Uberlândia foi capa da revista Veja em 18 de novembro de 1987 (p. 66-67)? Na matéria dizia: "em Uberlândia, é quase inacreditável, não existem mendigos." Entretanto, mesmo nos anos 80, a realidade demonstrava o contrário: havia sim mendigos, assim como favelas e outros problemas de qualquer cidade brasileira.
Tentar ser o que não é, esse é um problema que deve ser discutido e enfrentado por aqueles que se consideram lideranças no município. Trata-se de problematizar o que se convenceu acreditar que seria a "imagem de Uberlândia". É pertinente, neste debate, resgatar o respeito ao outro, ao diferente, afinal, a própria política "baseia-se na pluralidade do ser humano."
É neste contexto que deve ser resgatada a temática da hospitalidade. Talvez a mudança de comportamento diante do turista – mesmo objetivando o retorno financeiro de um destino turístico – leve também a uma transformação na vida cotidiana dos uberlandenses, quando a valorização de aspectos como solidariedade, emotividade e ética pudesse efetivamente contribuir para a construção de uma verdadeira cidadania no município.
BIBLIOGRAFIA
ALVARENGA. Nizia N. As Associações de moradores em Uberlândia. Dissertação de mestrado. São Paulo: PUC, 1988.
ARENDT, Was ist Politik? In.: Was ist Politik? München: Piper, 1993, p. 9-12
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GOLEMAN, Daniel. Working Emocional Intelligence. New York: Bantam Books, 1998.
GOTMAN, Anne. La question de l’hospitalité aujourd’hui. Communications, Paris, (65): 5-19, 1997.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. Crescimento urbano e ideologia burguesa. Uberlândia: Rápida Editora, 2002.
___ (org.) Turismo de Negócios. Uberlândia: Rápida Editora, 2004.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2005) Turismo em Minas Gerais: os casos de Araxá e Uberlândia. http://profelipego.weebly.com/
SUMÁRIO
1. Prefácio
2. Grande Hotel e Araxaenses: Uma Relação Ambígüa
3. Turismo em Araxá: Os dados do Poder Público
4. Crítica ou elogio: considerações sobre o discurso uberlandense
5. Uberlândia, Turismo e Desenvolvimento (1997-2000)
6. Plano Municipal de Turismo de Uberlândia (2001-2002)
7. Turismo e Hospitalidade em Uberlândia
1. PREFÁCIO
Trabalho, como professor universitário, em cursos de Turismo desde 1994. No ano passado, eu organizei um livro relacionado a este tema, com o título de "Turismo de Negócios". Ele foi publicado pela Rápida Editora.
Tenho interesse especial por questões regionais – os meus outros livros tratam de Minas Gerais - "Poder e política em Minas Gerais" e "Minas Gerais na ditadura militar" - ou mais especificamente sobre o Triângulo Mineiro – como foi o caso da obra "Crescimento urbano e ideologia burguesa".
Neste momento, resolvi divulgar as minhas análises sobre duas cidades mineiras: Araxá e Uberlândia. O eixo temático, claro, foi o Turismo. São textos pequenos, que devem ser considerados como um ponto de partida para um debate mais aprofundado sobre o desenvolvimento turístico regional.
2. GRANDE HOTEL E ARAXAENSES: UMA RELAÇÃO AMBÍGÜA
Seria possível imaginar a cidade de Araxá sem o Grande Hotel? Provavelmente não. Trata-se de uma relação complexa o que ocorre entre os araxaenses e o imponente hotel.
Em primeiro lugar, qualquer cidade pequena ficaria honrada em ser a escolhida para um empreendimento deste porte, como aconteceu com Araxá na década de 1930. A idéia inicial era a criação de um casino e um grande hotel, aproveitando o potencial natural das termas. A grandiosidade do projeto logo transformou o Grande Hotel em um ícone na hotelaria brasileira.
A proibição dos casinos no país foi apenas um primeiro problema a ser enfrentado pelo Estado, responsável pela administração do hotel. Provavelmente as Termas do Barreiro não foram suficientes para manter a ocupação de um empreendimento deste porte. Após a crise internacional do petróleo, em 1974, o Brasil entrou numa séria crise econômica, com uma inflação sem controle e um aumento constante da dívida externa. Nos anos de 1980, "o Grande Hotel (...) começou a entrar em decadência por falta de investimentos. Mas o grande golpe na economia araxaense ocorreu em 96, quando o hotel foi fechado para reforma."
Com a re-inauguração e privatização do Grande Hotel, os araxaenses novamente viram a perspectiva da cidade ser confirmada como um destino turístico. O problema é que essa nova administração, de certa forma, afastou a população do Complexo do Barreiro. O que antes era um lugar de encontro, de passeio, de interação entre os moradores e os turistas, foi fechado com grades, sendo a entrada permitida somente depois da pessoa ser identificada numa guarita.
Talvez nesta visão administrativa tenha predominado a idéia – questionável - do resort, que tenta ser "uma ilha da fantasia", quando o turista não tem contato com o "lado de fora". Isso é um problema, pois o turismo é sempre social e integrador. Não faz sentido um turismo que não valorize a população local. Da mesma maneira, para o turista, não faz sentido visitar um local que ele não possa efetivamente conhecer, ou seja, ter contato com as pessoas, com a cultura, participar das festas locais, visitar museus, saber da história ou mesmo conhecer a culinária regional.
A criação de um convetion & visitors bureau, de uma faculdade de Turismo e mesmo os programas da prefeitura municipal demonstram uma vontade de transformar o município em um dos principais destinos turísticos nacionais. Contudo, sem uma maior integração do Grande Hotel nestes projetos, dificilmente se conseguirá atingir o resultado esperado.
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, Selmane Felipe. Crescimento urbano e ideologia burguesa. Uberlândia: Rápida Editora, 2002.
OLIVEIRA, Françoise M. Araxá enquanto município turístico e a importância do Grande Hotel do Barreiro. Monografia.Uberlândia: Unitri, 2003.
ROCHA, Rute. O Grande Hotel é a saída. Estado de Minas – Economia, Belo Horizonte, (28): 31, agosto de 2000.
3. TURISMO EM ARAXÁ: OS DADOS DO PODER PÚBLICO
O turismo aparece como um dos principais setores econômicos para o desenvolvimento da cidade de Araxá. Certamente um importante instrumento de divulgação dos dados do municípi seria o site da prefeitura municipal. O objetivo deste texto é analisar as informações turísticas disponibilizadas pelo poder público.
Em primeiro lugar, a própria organização das secretarias demonstra um lugar de destaque para o setor turístico. Entre as quatro secretarias municipais, a que aparece primeiro é a do Turismo e Desenvolvimento Econômico, seguida da Educação, da Fazenda e da Fundação Cultural Calmon Barreto.
Apesar de ser um site de fácil navegação, com quadros disponibilizando as principais áreas de atuação da prefeitura, um problema ocorre quando nos deparamos com alguns links que não funcionam, como acontece com o Projeto Turismo.
Entre os quadros que estão associados diretamente com o turismo, podemos destacar:
. Projetos – com os links: CAT/SINE; CAMI; PRODER; COMTUR; PRODER e Projeto Turismo.
. Turismo – com os links: Rural; Circuito da Canastra; Ecológico; Pontos Turísticos; Religioso e Aventura.
. Serviços – com o link: Informe ao Turista.
. Catálogo de Produtos de Araxá – com os links: Bordado; Cachaça; Cosméticos; Doces; Modelagem; Móveis; Objetos em Madeira; Patchwork; Pintura; Produtos da Roça e Velas Artesanais.
No caso do quadro Projetos, os dados turísticos mais pertinentes estão no link COMTUR. Trata-se, basicamente, do processo histórico do Conselho Municipal de Turismo, com suas iniciativas que a cidade seja "consolidada como destino turístico."
O quadro Turismo, do ponto de vista deste setor, é mais interessante, pois apresenta os programas da prefeitura para esta área. Três links não estão funcionando:Circuito da Canastra, Ecológico, e Aventura. O link Rural começa com uma longa citação de Glaura Teixeira Nogueira Lima, retirada do livro "Das Águas Passadas À Terra do Sol: Ensaio Sobre a História de Araxá". Trata-se de uma descrição histórica de Araxá. Em seguida aparecem dois parágrafos esclarecendo o potencial do turismo rural na região:
"Atualmente contamos não só com a pecuária tradicional mas com: produção de rosas, lavouras de café, milho e batata, criação de animais exóticos como o javali, criação de gado leiteiro como jersey, o holandês e o mestiço; gado próprio para corte; alambiques desde o mais artesanal ao industrializado.
A riqueza da região conta também com a vegetação típica de cerrado, serras, cachoeiras, animais silvestres, como a seriema, tamduá-bandeira, ema, entre outros possíveis de serem apreciados em um simples passeio pelas trilhas do cerrado, além da Serra da Canastra com o Parque Nacional e as tradições típicas da região."
Assim, o cerrado é apresentado como uma região exótica. Isso não ocorre por acaso, afinal, os turistas querem conhecer algo diferente. Certamente esse é um dos principais motivos que leva as pessoas a viajar. Para complementar essas informações, o site oferece ainda algumas fotos das fazendas, chácaras e outras localidades do turismo rural.
No link Pontos Turísticos, também aparecem as fotos dos atrativos e um texto de apresentação:
"Araxá, terra de Dona Beja, situa-se no planalto do Alto Paranaíba.
A palavra Araxá, vem da linguagem Tupi e significa ‘lugar onde primeiro se avista o sol.’ O nome foi atribuído aos índios Arachás, procedentes da Tribo dos Cataguás, antigos habitantes do lugar.
Araxá é uma cidade hospitaleira e tem como cartão de visitas a Estância do Barreiro, um belíssimo complexo termal.
A mineração, a agropecuária e o turismo são as nossas principais fontes de renda.
Nossos deliciosos doces e queijos, somados à culinária, são sinônimos de qualidade, através de receitas passadas de geração para geração.
Sinta-se em casa, aqui em nossa cidade."
Em suma, a cidade é apresentada como um lugar agradável e diferente, com características próprias, o que, naturalmente, justificaria uma visita. O texto lembra ainda alguns aspectos que são associados aos mineiros, como a produção de queijos e sua culinária. Ou seja, o aspecto da mineiridade não é esquecido quando tenta se reforçar o município de Araxá como um importante atrativo turístico do Estado.
Associado à mineiridade está a própria religiosidade. Neste sentido, a prefeitura disponibiliza um link de turismo religioso, destacando os atrativos araxaenses neste segmento:
"Centenárias e com estilos que passam pelo gótico e barroco, as igrejas de Araxá além de abrigar imagens sacras de grandes artistas, são o símbolo maior da religiosidade do seu povo.
Araxá respeita a opção religiosa e doutrinária de cada crença que convivem harmoniosamente no seio de sua moderna sociedade, dentro dos templos de diversas religiões."
A religiosidade, a mineiridade e o clima de cidade do interior tentam criar uma imagem coesa e atraente de Araxá. Em outras palavras, trata-se de um lugar ideal para quem quer fugir da agitação e do stress das grandes cidades. As Termas do Barreiro reforçam essa idéia de tranqüilidade e de uma vida saudável.
Apesar de todos esses dados e da ênfase ao espírito hospitaleiro do povo de Araxá, falta, em um site que trata de um destino turístico, um ponto relevante: ressaltar a qualidade da mão-de-obra dos profissionais da cidade. Deveria ser destacado, por exemplo, que o município possui, além de cursos técnicos, uma faculdade de turismo, que fornece profissionais gabaritados para assumir qualquer função exigida no trade turístico.
Certamente, com o tempo, melhorias serão feitas no site da prefeitura, com informações mais completas e atualizadas. Talvez um caminho para o enriquecimento deste banco de dados fosse estabelecer parceiras com instituições ligadas diretamente ao turismo da cidade, como o convetion & visitors bureau e o curso de turismo do UNIARAXÁ.
BIBLIOGRAFIA
ANSARAH, Marília G. R. (org.) Turismo – segmentação de mercado. São Paulo: Futura, 1999.
CRUZ, Rita C. Política de turismo e território. São Paulo, Contexto, 2000
OLIVEIRA, Selmane Felipe. Turismo de Negócios. Uberlândia: Rápida Editora, 2004.
ROCHA, Rute. O Grande Hotel é a saída. Estado de Minas – Economia, Belo Horizonte, (28): 31, agosto de 2000.
TRIGO, Luiz Gonzaga G. Turismo e qualidade: tendências contemporâneas. Campinas: Papirus, 1993.
4. CRÍTICA OU ELOGIO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O DISCURSO UBERLANDENSE
Uberlândia ainda é uma cidade que se coloca como modelo, que se apresenta como vanguarda da região ou mesmo do país (em termos de cidades de médio porte). As suas pretensões não estão ligadas aos valores culturais e tradicionais de Minas Gerais. A sua vocação, de acordo com a elite local, sempre foi a economia, aproveitando-se da sua localização geográfica privilegiada.
Uberlândia se mostrava como moderna, como a cidade do asfalto e das luzes neon antes mesmo da década de 50, período que o município de maior destaque na região era Uberaba – cidade que se destacava pela agropecuária, sobretudo pela criação do gado zebu.
Na verdade, para Uberlândia concorrer com Uberaba não restava muitas opções a não ser o discurso da modernização, baseado nas atividades comerciais e industriais. Tratou-se, portanto, da construção de um discurso que buscava unir vários elementos para dar coesão à elite local e que justificasse a sua liderança, mais do que isso, que transformasse o seu discurso no discurso da cidade.
Se, por um lado, não se pode afirmar que a Cia. Mineira de Autoviação (1912) de Fernando Vilela, que criava as estradas na região tendo Uberlândia como ponto central, fazia parte de um plano estratégico para transformar a cidade em um pólo de desenvolvimento da região, por outro, não há como negar que, a partir da década de 50, os projetos levados adiante pela ACIUB e as lideranças políticas locais visavam não somente o crescimento da cidade mas também representavam a luta pela conquista da liderança da região. A rivalidade entre Uberlândia e Uberaba era clara nesta época.
Os projetos mais importantes de Uberlândia estavam associados à criação de faculdades, de uma unidade do exército no município e de uma cidade industrial. Estes projetos se justificariam na medida em que eles representavam a vinda de pessoas e investimentos para o município. De uma maneira geral, sobretudo entre as décadas de 30 e 80, o processo de urbanização brasileiro era realizado sobretudo a partir da industrialização. São Paulo ganhou destaque na economia nacional investindo neste setor, enquanto a decadência do Rio de Janeiro se explicaria por sua especialização administrativa – foi a capital do país até 1960 – e ênfase no setor de serviços. Aliás, a mudança da capital e os projetos do governo Juscelino Kubitschek, foram bem aproveitados pelas lideranças uberlandenses. Muitos dos antigos traçados da cia. de Fernando Vilela iriam se transformar em rodovias – como incentivo às empresas automobilísticas multinacionais que viriam a se instalar no país – que se dirigiam para Brasília, passando por Uberlândia, transformando essa cidade em um entreposto comercial, ligando o norte e o sul do Brasil.
A elite uberlandense se colocava moderna em termos de projetos econômicos – entenda-se a industrialização contra o antigo setor agrário – e conservadora no que dizia respeito às questões sociais. Esta prática iria coincidir com o projeto defendido pelo regime instaurado com o golpe de 1964. As lideranças políticas conheceram o seu melhor momento (nesta época): a indicação do uberlandense Rondon Pacheco para o cargo de governador de Estado em 1971. Não foi por acaso, aliás, que durante este regime ocorreram a criação do Distrito Industrial e da Universidade Federal de Uberlândia.
Nos anos 19 80, com a decadência dos governos militares e a ascensão da oposição, representada, sobretudo, pelos ideais pemedebistas, a elite local viu, provavelmente pela primeira vez, a vitória de um candidato a prefeito estranho a sua tradição. Tratava-se de Zaire Rezende, candidato do PMDB, que pautava seu discurso principalmente em questões sociais (ele foi, por exemplo, um grande incentivador das associações de bairros). Esta diferença, porém, não significava um rompimento com a prática política local em termos da exclusão da maioria da população dos benefícios que o crescimento econômico trazia para a cidade. A sua vitória se explicaria também pelo momento político da época, quando o PMDB sairia vencedor nos principais municípios brasileiros. Pelo menos no caso de Uberlândia, tratou-se mesmo de um momento, pois nas eleições seguintes as lideranças do grupo tradicional tornaram-se vencedoras. Talvez o principal marco deste processo tenha sido as eleições de 1996, quando os dois maiores líderes políticos (do período) se enfrentaram. De um lado, Zaire Rezende, com temáticas mais sociais e de outro, Virgílio Galassi, prefeito da cidade durante o regime militar, e com um discurso para os uberlandenses (que se forem identificados somente os que nasceram na cidade, certamente tratava-se de uma minoria naquele momento). No entanto, o resultado da eleição foi a vitória de Galassi por uma pequena margem de votos. Isso pode ser explicado se for considerado o fato de que ser uberlandense mais do que nascer na cidade passou a significar um projeto de vida, que foi construído pela a elite local como o único discurso possível, tentando transformar os seus valores burgueses, a sua postura moderna e a ênfase na aparência das coisas (e das pessoas) na verdadeira imagem da cidade e de sua população. Não foi coincidência, portanto, o tratamento que Uberlândia teve em uma matéria da revista Veja:
"Rica, poderosa e fútil. Desfila com roupas extravagantes, celular a tiracolo e não perde a chance de dar um pulinho ao shopping center. Se a sociedade de Uberlândia fosse uma mulher teria todas essas características."
Apesar dos termos utilizados na reportagem, o interessante foi perceber que as pessoas destacavam muito mais o fato da cidade sair na revista do que o conteúdo da matéria. Talvez elas realmente estivessem em dúvida se se tratava de uma crítica ou de um elogio.
BIBLIOGRAFIA
ALVARENGA. Nizia N. As Associações de moradores em Uberlândia. Dissertação de mestrado. São Paulo: PUC, 1988.
GRANATO, Alice. Quero ser ela: o sonho nos arredores da BR-153 é um dia virar a rica. Uberlândia. Veja, São Paulo, 33 (1): 84, 5 de janeiro de 2000.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. A Rivalidade entre Uberlândia e Uberaba. Cadernos de História, Uberlândia, 4 (4): 89-97, jan./dez. 1993.
RODRIGUES, Jane de Fátima S. Trabalho, ordem e progresso: uma discussão sobre a trajetória da classe trabalhadora uberlandense - setor de serviços - 1924-1964. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 1989.
5. UBERLÂNDIA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO (1997-2000)
As lideranças da cidade de Uberlândia sempre se preocuparam com os projetos de crescimento da cidade. Foram várias lutas neste sentido, destacando-se as campanhas para a criação de faculdades no município, de uma unidade do exército, de uma Cidade Industrial, a construção de rodovias, isto sem falar na mudança na capital federal para Brasília, que beneficiou muito a região do Triangulo Mineiro.
De todos estes projetos, havia uma preocupação especial com a Cidade Industrial, pois ela significava abertura de empresas e empregos, o que reforçaria o fluxo migratório para a cidade, consolidando assim o seu desenvolvimento. Em um determinado momento a própria ACIUB chegou a abrir mão da luta por faculdades desde que se construísse uma Cidade Industrial em Uberlândia. Com a atuação destas lideranças juntamente com os poderes executivo e legislativo da cidade, em 1965 este projeto foi concretizado, sendo que em 1972 transformou-se em Distrito Industrial (sendo uma iniciativa do governador na época, o uberlandense Rondon Pacheco).
Atualmente, em um contexto de globalização e revolução tecnológica, admite-se, do ponto de vista da geração de empregos, um certo declínio do setor industrial tradicional e uma ascensão das áreas ligas ao setor de serviços. Dentre estas áreas, destaca-se o Turismo. Não é por acaso, portanto, que para permanecer como pólo de desenvolvimento da região, a prefeitura municipal tem, entre os seus projetos, a criação de um Distrito Turístico. Neste distrito seria construído, de acordo com o poder público, um parque temático, cujo projeto estaria sendo "elaborado pela Torres & Baldacci Associados (uma das principais empresas nacionais de consultoria para implantação de parques, responsável inclusive pelo projeto Parque do Gugu)."
Na análise da prefeitura, este projeto "será o primeiro Distrito Turístico do Brasil, para o qual Uberlândia possui todos os requisitos necessários como acesso, topografia, espaço e estrutura física na região da Cachoeira de Sucupira. O Distrito Turístico, que está em fase de elaboração, será a exemplo do que foi o Distrito Industrial, um elemento catalisador de investimentos, de forma organizada e produtiva, dentro do qual se criarão as condições ideais de convivência positiva de inúmeras atrações turísticas de lazer, permitindo assim divulgar às agências de turismo e operadoras um destino com grande comodidade e diversidade de opções. Para os investidores que queiram apostar no segmento do futuro - o turismo, o projeto é uma excelente oportunidade de iniciar um empreendimento com todo o planejamento estruturado."
Além do projeto do Distrito Turístico, a prefeitura procurou destacar outras ações na área do Turismo, como a declaração da EMBRATUR colocando Uberlândia como Município Prioritário para o Desenvolvimento do Turismo, o City Tour Escolar e City Tour "Conheça Uberlândia", a Revista Cerradinho e o Centro de Convenções do Center Shopping.
Somando-se a estas ações, na análise do poder público municipal, havia ainda o projeto de criação do Uberlândia Convention & Visitors Bureau. Este projeto seria fundamental pois ele auxiliaria "o Turismo de Eventos e Negócios em nossa cidade, (...) [além de] atrair eventos, fomentar a entrada de visitantes e dirigir seu marketing para outros segmentos do turismo." O Uberlândia Convention & Visitors Bureau possibilitaria "ainda aglutinar todo o trade turístico para realizar um esforço conjunto na divulgação de Uberlândia, gerando inúmeras perspectivas de novos negócios."
Estes projetos da prefeitura de Uberlândia demonstram uma preocupação com o futuro da cidade enquanto um pólo de desenvolvimento. Soma-se a idéia do Distrito Turístico a criação de várias universidades no município. Aliás, o que estes projetos têm em comum é que eles são importantes elementos de atração de migrantes para a cidade. No caso das universidades, outro ponto que chama a atenção é a preocupação com a formação de mão-de-obra especializada. Se nos anos 60, antes mesmo da inauguração da Cidade Industrial, foi necessária a criação de cursos técnicos para formar os trabalhadores, o que ocorreu com a Escola Renee Gianetti a partir de 1964, atualmente, em 2000, a revolução tecnológica requer profissionais mais qualificados, o que justificaria, assim, o incentivo em relação à criação de universidades, faculdades e de novos cursos de graduação e pós-graduação na cidade.
Em suma, não pode se afirmar que os projetos da prefeitura de Uberlândia sejam equivocados. Desenvolver novas áreas econômicas na cidade, atrair investimentos e novas empresas, gerar novos postos de trabalho, não há como lutar contra estas bandeiras, afinal, tudo isso é fundamental para se criar mais riquezas no município; o problema em Uberlândia, como nas demais cidades brasileiras, é justamente a distribuição desta riqueza, ou seja, o objetivo que deveria estar por trás de todos estes projetos seria uma melhor qualidade de vida para um número cada vez maior de pessoas. A realização deste objetivo talvez até justificasse a insistência das lideranças da cidade em colocar Uberlândia como modelo ou vanguarda dos municípios brasileiros.
BIBLIOGRAFIA
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OLIVEIRA, Selmane Felipe de. A separação do Triângulo: a História de uma luta. Ícone, Uberlândia, 5 (1): 29-57, jan./jun. 1997.
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SILVA, Antonio Pereira. ACIUB em revista. Uberlândia: Gráfica Sabe, 1985.
6. PLANO MUNICIPAL DE TURISMO DE UBERLÂNDIA (2001-2002)
O setor do turismo passou por várias fases no Brasil. O primeiro decreto-lei que tratava do setor foi criado em 1938, normatizando as agências de turismo e de venda de passagens. Na prática, porém, não havia uma preocupação em estabelecer uma política para o setor no país. Esta proposta seria discutida em 1958, com a criação da COMBRATUR. Mas, apesar dos debates, nada aconteceu.
Para muitos, a história do turismo brasileiro começaria em 1966, com a criação da EMBRATUR. Nesta época, havia uma política de incentivos fiscais e financeiros. O próprio Estado administrava empresas turísticas. Isso pode ser explicado pelo contexto político, afinal, tratava-se de uma ditadura militar, com forte intervencionismo estatal e com um importante apoio do capital estrangeiro.
Em 1985, ocorreu a redemocratização do país. O regime militar havia deixado uma dívida de mais de 100 bilhões de dólares e uma inflação anual de mais de 400 %, o que significava mudanças na política governamental. Era o fim dos incentivos fiscais. O governo Sarney, apesar de todos os planos econômicos, congelamento de preços e mesmo a moratória da dívida externa, não conseguiu resolver a grave crise econômica brasileira. Com a eleição de Fernando Collor e sua proposta de abertura de mercado e modernização do país, surgiram novas propostas para o turismo, que foram sintetizadas no Plantur (Plano Nacional de Turismo). Entretanto, com o impeachment do presidente, todo o projeto foi abandonado.
A gestão do presidente Itamar Franco foi importante, basicamente, por causa do Plano Real, que conseguiu estabilizar a inflação. Ele conseguiu eleger o seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, que procurou tratar o turismo de uma maneira mais profissional, seguindo as diretrizes da OMT (Organização Mundial de Turismo). Foi criado, assim, o principal documento do setor: a Política Nacional do Turismo (1996-1999). Entre os seus 23 programas, destacava-se o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, que dava assessoria técnica aos municípios, sobretudo através de oficinas, no sentido de se criar o Conselho Municipal de Turismo e, posteriormente, tratar da elaboração de um plano turístico para a cidade.
Foi neste contexto que surgiu a idéia do Plano Municipal de Turismo (PMT) de Uberlândia, a partir da eleição do prefeito Zaire Rezende. Com a sua posse em 2001, foi criada a Secretaria de Turismo, que ficou a cargo de Kenner Santos Garcia. Foram apresentadas, assim, as diretrizes de uma política de turismo da cidade através da divulgação do PMT. Este artigo visa analisar este documento, mesmo considerando a curta existência da secretaria – com a reforma administrativa do governo municipal, ela foi, após 2003, incorporada à Secretaria de Indústria, Comércio, Agropecuária e Turismo.
Inicialmente o PMT apresentava-se como um documento representativo de toda a sociedade e não apenas como uma proposta do governo municipal. Isso não acontecia por acaso, afinal tratava-se de uma recomendação do PNMT, ou seja, o plano deveria ser o resultado dos debates ocorridos a partir da criação de um conselho municipal de turismo. Outro ponto que deve ser levado em conta, especificamente neste caso, era a visão política da administração municipal, que se colocava como uma "democracia participativa", ou seja, de acordo com o documento da prefeitura:
"A equipe da Secretaria Municipal de Turismo, na atual gestão, sob o comando do Secretário Kenner Santos Garcia, elaborou, com ampla participação de todos os setores, direta ou indiretamente envolvidos com a atividade turística no Município e, observando rigoroso cumprimento do compromisso de governo assumido pelo prefeito Zaire Rezende, o Plano Municipal de Turismo que consubstancia antigas aspirações e estabelece novos rumos para o turismo receptivo de nossa Cidade. (...) O Plano Municipal de Turismo também foi apresentado a direção do CDL e aos membros do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Turismo - COMDETUR, formado por uma equipe multidisciplinar composta por personalidades representativas de nossa sociedade."
Outro ponto que chamou atenção na introdução do plano foi crítica à administração anterior – do prefeito Virgílio Galassi – quando se afirmava que:
"O Plano surgiu como resposta a duas realidades: a verificação da importância do turismo no desenvolvimento sócio -econômico da Cidade e a constatação da ausência de uma política adequada para o setor, alicerçada num planejamento de médio e longo prazos. A equipe da Secretaria de Turismo, propôs à sociedade uma discussão séria e ampla sobre a cidade como produto turístico."
Dois pontos merecem destaque. Primeiro, a "ausência de uma política adequada para o setor", ou seja, a política de turismo de Galassi – como o projeto de Distrito Turístico, o City Tour Escolar e a criação de um Convention & Visitors Bureau na cidade – era considerada equivocada e, indiretamente, era mostrada como autoritária na medida em que somente com o governo Zaire Rezende surgiria "uma discussão séria e ampla sobre a cidade como produto turístico."
O PMT era apresentado em quarto partes: as etapas de elaboração, estratégias de desenvolvimento, estratégias de médio e longo prazo e o plano operacional. Além disto, havia o Projeto Linha Verde, que seria um "Circuito Turístico idealizado pela Secretaria de Turismo da Prefeitura Municipal de Uberlândia, que [abrangeria] as (...) avenidas e logradouros."
A primeira parte do PMT – as Etapas de Elaboração - estava sub-dividida em: organização, diagnóstico, o plano operacional e implementação. Na organização, apareciam apenas dois parágrafos destacando a importância da parceria "do poder público e da iniciativa privada." A fase do diagnóstico era mostrada como a coleta de dados inicial, visando "obter um retrato da cidade de Uberlândia." No plano operacional, seria "necessário o apoio e a parceria de todas as Secretarias direta ou indiretamente envolvidas nas ações técnicas e operacionais dos projetos selecionados, bem como o envolvimento da iniciativa privada." Finalmente, a implementação era apresentada como a "próxima fase" do PMT, dando a entender que toda a fase de pesquisa já havia sido feita. De acordo com o PMT:
"A Implementação será caracterizada pela efetiva implantação dos projetos apontados como prioritários, selecionados segundo critérios de necessidade e viabilidade. Este processo será acompanhado tecnicamente, de forma a que se possa garantir seu sucesso e mensurar o crescimento do turismo na cidade. Este é sem dúvida o maior desafio do Plano Municipal de Turismo: a implantação dos projetos e a participação e avaliação efetivas da sociedade."
Entretanto, estes projetos não foram implantados, pois, entre outras coisas, houve a reforma administrativa e a extinção da secretaria de turismo, o que enfraqueceu a política do setor. Na prática, depois de 2003, desapareceram as ações efetivas do poder público no sentido de desenvolver o turismo municipal.
Voltando a análise do PMT, a segunda parte do plano era constituída pelas Estratégias de Desenvolvimento. Primeiro, era ressaltado que o PMT seguia "o padrão internacional dos planejamentos de turismo para grandes cidades," destacando ainda a defesa de "uma visão compartilhada do futuro, possível e realista, levando em conta o que se deseja para a cidade." Naturalmente, nesta perspectiva, o poder público municipal era colocado como o verdadeiro e legítimo interlocutor dos interesses da população.
Uberlândia era mostrada como "uma cidade com grande potencial turístico e com personalidade própria." Essa personalidade estava baseada sobretudo no turismo de negócios. Tudo isso seria confirmado em uma matéria de capa da revista Negócios, com a foto do secretário de turismo e com o título "Turismo de gravatas":
"Segundo Kenner Garcia, das pessoas que visitam Uberlândia, 80% são turistas de negócios, atraídas por diversos fatores, entre os quais pode-se destacar a presença de grandes empresas na cidade, tais como Algar, Martins, Souza Cruz, Monsanto e a recém-chegada BPO. ‘Temos que buscar uma identidade neste segmento para Uberlândia e o turismo de eventos e negócios é o que está mais próximo de nossa realidade. Não quero dizer que não haverá turismo de lazer na cidade. Tem que haver, mas acredito que o lazer que vamos precisar, em curtíssimo prazo, é o entretenimento noturno porque precisamos atender esses executivos de negócios.’"
Ainda nas Estratégias de Desenvolvimento do PMT era descritos os objetivos e os resultados do plano. Quanto aos objetivos, seria necessário "incrementar os fluxos turísticos para Uberlândia; consolidar a liderança regional de Uberlândia, no turismo receptivo; criar e consolidar uma nova imagem turística de Uberlândia como cidade referência da Região e do Estado, com atrativos integrados capazes de motivar os segmentos de: congressos e convenções; feiras e cultura, lazer, esportes." Para realizar esses objetivos, de acordo com o PMT, seria importante conscientizar a sociedade uberlandense de que "a melhora da qualidade turística é um trabalho permanente (e) o marketing turístico é um elemento chave na gestão da cidade e seus custos não representam um gasto, mas investimento."
Todos estes aspectos do PMT estavam corretos, exceto quando se falava em criar uma nova imagem turística de Uberlândia para em seguida afirmar que essa imagem seria associada ao turismo de negócios, como se isso tivesse sido descoberto na gestão do prefeito Zaire Rezende, o que não era verdade, afinal, quando se discutia o turismo nas administrações anteriores, era sempre lembrado o potencial da cidade na área de negócios. Portanto, tornava-se questionável afirmar que o turismo de negócios seria a nova imagem do turismo uberlandense depois de 2001.
Quanto aos resultados, era destacada a "modernização da cidade; [o] dinamismo na geração da oferta turística; [a] cultura de serviço ao turista [e a] ação resultante da atuação conjunta do setor público e do setor privado."
Na terceira parte do plano, eram tratadas as estratégias de médio e longo prazo:
"O desenvolvimento integrado da Cidade, em termos sociais, econômicos, urbanos e naturais, é condição básica para um bom desenvolvimento turístico. Só pode haver desenvolvimento turístico sustentável em cidades que proporcionem qualidade de vida aos seus habitantes. O Plano, ao desenvolver e implantar suas ações, tem como base a visão simultânea da Cidade como pólo turístico e sede da vida cotidiana de seu cidadão."
Em suma, tratava-se da velha idéia de que o turismo somente seria bom para os visitantes se fosse bom também para os próprios moradores. O desenvolvimento turístico deveria ser integrado, ou seja, o turismo não existe sozinho, para crescer é necessário considerar os aspectos sociais, econômicos, urbanos e naturais de uma localidade.
O Plano Operacional representava a quarta parte do PMT. Eram apresentados alguns programas específicos para o turismo uberlandense. Um deles tratava de valorizar o morador, conscientizá-lo do potencial do município e dos seus próprios atrativos. No Programa "Uberlândia é nossa" era destacado que:
"Uma cidade só é boa para os turistas quando é boa para seus cidadãos. Este pensamento norteou o Plano Municipal de Turismo na criação do programa ‘Uberlândia é Nossa’, que tem como prioridade atender às necessidades de lazer do uberlandense em sua própria cidade. Uberlândia oferece a seus habitantes pouca diversificação de produtos de entretenimento e lazer e, muitas vezes, a oferta não chega ao conhecimento de seu morador. Um ponto importante, diagnosticado pelo Plano, foi que o uberlandense não conhece sua cidade. Áreas importantes, como o Parque do Sabiá, são completamente esquecidas e desconhecidas por grande parte da população. Deve-se estimular entre os uberlandenses o desejo do redescobrimento da cidade."
Essas observações estavam corretas. Mas a questão era um pouco mais complexa. Talvez o problema não fosse o fato do uberlandense não conhecer os atrativos da cidade – como o Parque do Sabiá -, mas sim o que ele se identifica, gosta e valoriza. Para os moradores, o principal atrativo do município seria o seu shopping center. Nos finais de semana, a população costuma passear no shopping e não no Parque do Sabiá. Isso não ocorre por acaso, afinal a construção da imagem da cidade sempre esteve associada aos valores burgueses – como ordem e progresso – e seus moradores procuram se apresentar como modernos, com belos carros e roupas de marca. Certamente não seria fácil mudar a mentalidade de uma população que historicamente foi criada para acreditar que morava numa cidade moderna – comercial e industrial – e que isso significava valorizar somente a aparência das coisas e das pessoas.
Outro programa do Plano Operacional dizia respeito aos "Novos Produtos e Pacotes para Turistas". Aqui mais uma vez a cidade era mostrada como inadequada para o desenvolvimento do Turismo:
"Quanto ao lucrativo turismo de congressos, feiras e exposições, é necessário aumentar a oferta de produtos específicos e estabelecer critérios e metas para a captação de eventos de âmbito regional, estadual, nacional e internacional. A indústria turística não está estruturada de forma satisfatória a comercialização da cidade. O mercado turístico mundial se caracteriza, dentre outras coisas, pelo aumento da demanda por serviços de qualidade e pela maior personalização e flexibilidade dos pacotes turísticos oferecidos. É preciso que a oferta turística passe a ser estruturada em pacotes, montados de acordo com as preferências de cada turista."
De acordo com as diretrizes do PMT, uma forma de melhorar o turismo uberlandense seria através da valorização da "Vocação Esportiva da Cidade":
"O turismo esportivo na cidade de Uberlândia é pouco explorado, se considerada a diversidade de locais que é oferecido. Mesmo apresentando características propícias a várias modalidades de esportes, a cidade continua perdendo oportunidades turísticas, por não oferecer ao visitante possibilidades de usufruir de seu potencial esportivo. Uma cidade com a geografia e o clima de Uberlândia pode proporcionar eventos esportivos variados. A cidade precisa, para isso, elaborar um calendário de eventos que inclua regatas (Parque do Sabiá e Miranda), maratonas, entre outras formas de atrações que situem Uberlândia no centro do panorama esportivo nacional. Vale lembrar que temos um estádio considerado entre os dez melhores do País: João Havelange; temos uma equipe de basquete entre as três melhores do Brasil: UNITRI Uberlândia; temos a equipe campeã do Rally de Velocidade; temos vários desportistas de destaque nas mais variadas modalidades."
A avaliação geral mostrada no PMT era que Uberlândia tinha "um conjunto potencial de recursos amplo e equilibrado, com deficiência em serviços complementares e sérios problemas de estruturação, informação, comercialização e comunicação." Assim, com esta realidade seria necessário a elaboração do macroprograma Melhoria de Produtos Atuais que serviria para "valorizar os produtos atuais, diversificando seus serviços e melhorando sua qualidade para consolidar o destino Uberlândia."
Complementando o Plano Municipal de Turismo, havia o Projeto Linha Verde. Trata-se, basicamente, da criação de um zoneamento turístico na cidade, a partir de suas principais avenidas. A idéia seria adequar a própria infra-estrutura urbana para o desenvolvimento do turismo, incentivando a criação de atrativos e empreendimentos turísticos nessas vias.A Linha Verde apresentava algumas características importantes:
". 90 % é composta de avenidas de duas pistas;
. Todo o trajeto é arborizado;
. Toda Linha Verde é interligada;
. O trajeto apresenta, ao longo de sua extensão, cultura de acesso para o deficiente físico;
. Tem iluminação pública diferenciada e é sinalizada;
. Alguns dos principais hotéis da cidade estão instalados sobre a Linha Verde;
. Oferece acesso rápido ao Aeroporto e ao Terminal Rodoviário;
.Aproximadamente 70% da Linha Verde é composta de empreendimentos comerciais, hoteleiros, gastronômicos , de lazer e entretenimento;
. A Linha Verde já é dotada de infra-estrutura básica e serviços públicos essenciais : Pronto Socorro, Posto Policial, Corpo de Bombeiros, etc."
Em termos práticos, no que dizia respeito a esse projeto, deve se destacar que foram distribuídos, entre 2001 e 2003, vários Guias de Bolso, com informações sobre a cidade e o próprio mapa da Linha Verde. Nos dois primeiros anos da administração Zaire Rezende foram apresentados ainda dois projetos:
"Guia Turístico Mirim - Um projeto social entre a Prefeitura e uma instituição que presta assistência a menores em Uberlândia, a Icaso, prevê trabalho com adolescentes entre 16 e 18 anos de idade. Eles serão treinados para serem guias em pontos de maior fluxo de turistas, como aeroporto, rodoviária e o centro da cidade.
Turismo e Cidadania - Três vezes por semana, crianças da rede escolar serão levadas para um tour pela cidade. O objetivo é que elas conheçam como funciona o turismo e aprendam um pouco mais sobre a história de Uberlândia."
Quanto ao primeiro projeto, Guia Turístico Mirim, ele ficou somente na intenção, sem resultados práticos. O Turismo e Cidadania era basicamente uma repetição do projeto City Tour Escolar da administração Virgílio Galassi (1997-2000). Entretanto, isso não diminuía a importância de um projeto que tratava da conscientização das crianças tanto quanto ao turismo como no que dizia respeito ao processo histórico do município.
Em suma, a criação de uma secretaria exclusiva para o turismo e a elaboração, mesmo com alguns pontos questionáveis, de um plano municipal turístico, demonstraram, inicialmente, a preocupação do governo Zaire Rezende com o desenvolvimento do setor. Entretanto, após 2003, houve um retrocesso, pois, com a reforma administrativa, o turismo voltou a fazer parte da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio e, na prática, os seus projetos foram abandonados, ou seja, as propostas do Plano Municipal de Turismo não foram concretizadas.
BIBLIOGRAFIA
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7. TURISMO E HOSPITALIDADE EM UBERLÂNDIA
Historicamente, a imagem de Uberlândia esteve associada ao modelo de entreposto comercial. A cidade foi lembrada também pelo seu desenvolvimento industrial. A construção de uma imagem de município moderno aparecia nos meios de comunicação e nas discussões de políticos e empresários uberlandenses, mesmo quando Uberlândia ainda não era a principal cidade do Triângulo Mineiro.
A "opção" de ser uma cidade moderna se colocava como uma alternativa para Uberlândia concorrer com Uberaba, que era identificada com a agropecuária. A rivalidade entre os dois municípios foi clara, sobretudo entre 1950 e 1980, quando Uberaba deixou de ser o principal município da região.
O problema era que a criação da imagem do moderno em Uberlândia esteve associada aos valores burgueses e ao incentivo de uma postura elitista dos moradores da cidade. O desenvolvimento do município era colocado como uma ação dos uberlandenses. Os problemas – mendigos, criminalidade, favelas, entre outros – eram associados aos forasteiros.
Tratar mal os migrantes não é uma exclusividade de Uberlândia. Em qualquer lugar do mundo, existe uma diferença clara no tratamento do "forasteiro": para o migrante, a polícia, a lei; para o turista, o tratamento vip, o tapete vermelho. Um exemplo é a cidade de Londres, onde as pessoas – policiais, motoristas de táxi, etc – são extremamente cordiais com os turistas enquanto os migrantes são tratados como criminosos, com polícias especais, leis rigorosas e com deportações.
Talvez este seja o problema de Uberlândia. O ideal seria tratar todos da mesma maneira: ser cordial e civilizado. Entretanto, tratar o turista como sempre lidou com o migrante é um erro grave para um município que pretende ser destaque no turismo de negócios e eventos.
Não existe turismo sem hospitalidade. Esta é a questão. Uma cidade fechada e elitista não terá sucesso como destino turístico. Não adianta negar o óbvio. Quem nunca foi mal recebido numa loja do shopping, só porque o vendedor achou que você não estava vestido adequadamente ou imaginou que você não tivesse dinheiro? Quem nunca passou por uma situação em que companheiros de trabalho ou colegas de sala de aula deixam de te cumprimentar só porque você estaria "mal vestido" ou em um ponto de ônibus? Quem nunca ouviu a pergunta: qual é a sua família mesmo?
Alguns poderiam argumentar que estas são características de cidade pequena. No entanto, isso não resolve o problema. Aliás, este tipo de afirmação faz parte do problema. Ou seja, algumas pessoas apresentam Uberlândia como uma metrópole, como uma cidade grande, coisa que ela não é. Ela é uma cidade de médio porte. O problema, mais uma vez, é defender uma imagem que não corresponde à realidade. Por quê? Por que a cidade tem que parecer uma coisa que, de fato, não é? Por que as pessoas te cumprimentam a partir da roupa que você está vestindo? Lembram quando Uberlândia foi capa da revista Veja em 18 de novembro de 1987 (p. 66-67)? Na matéria dizia: "em Uberlândia, é quase inacreditável, não existem mendigos." Entretanto, mesmo nos anos 80, a realidade demonstrava o contrário: havia sim mendigos, assim como favelas e outros problemas de qualquer cidade brasileira.
Tentar ser o que não é, esse é um problema que deve ser discutido e enfrentado por aqueles que se consideram lideranças no município. Trata-se de problematizar o que se convenceu acreditar que seria a "imagem de Uberlândia". É pertinente, neste debate, resgatar o respeito ao outro, ao diferente, afinal, a própria política "baseia-se na pluralidade do ser humano."
É neste contexto que deve ser resgatada a temática da hospitalidade. Talvez a mudança de comportamento diante do turista – mesmo objetivando o retorno financeiro de um destino turístico – leve também a uma transformação na vida cotidiana dos uberlandenses, quando a valorização de aspectos como solidariedade, emotividade e ética pudesse efetivamente contribuir para a construção de uma verdadeira cidadania no município.
BIBLIOGRAFIA
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