OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2011). Liebe. Http://profelipego.weebly.com/liebe.html
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Direitos Autorais Protegidos
Obra registrada na Fundação Biblioteca Nacional
Copyright 2011 / Selmane Felipe de Oliveira
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SONHO, FANTASIA E REALIDADE
QUESTÕES DE UM "PROFILE"
FALTA DE APETITE, INSÔNIA E IRRITABILIDADE
CIDADES EUROPÉIAS
BOXING HELENA
PAIS, FILHOS E ASSASSINATOS
ESTILOS MUSICAIS
UMA SIMPLES, SAUDÁVEL E NECESSÁRIA AUTO-CRÍTICA...
TEMPO, TRABALHO E PROPRIEDADE
EGO JORNALISMO
A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA
O MUNDINHO DO FELIPE
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SONHO, FANTASIA E REALIDADE
Para os neurocientistas, o sonho seria como um "organizador do cérebro". Para os freudianos, o sonho representa o desejo que não pôde ser realizado. É o lugar do inconsciente.
O sonho é diferente da fantasia, pois nele, assim como na vida, o indivíduo não tem controle do que pode acontecer. Isso o torna mais interessante. Se a vida não é "real", o sonho representaria outra "dimensão", que, assim, valeria a pena ser "vivida".
Bobagem? O que importa são os fatos "reais" na vida de uma pessoa que encerram, necessariamente, com a certeza de sua morte?
Nesta perspectiva, sonho, fantasia e realidade aparecem como três dimensões que teríamos acesso. Nas duas últimas, há uma escolha, na medida em que o tempo que você gasta para fantasiar é o tempo que você gasta para viver. Viver é melhor.
Houve uma época que o "Second Life" fez sucesso. Fiz meu "avatar", mas nunca me empolguei com a idéia. Qual seria a graça de ir num bar virtual? Por favor. Não é algo que deve ser considerado.
Dormir é necessário. O sonho acontece. Ele revela desejos, mas muitos esquecem que ele existe em si, na sua própria dinâmica.
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QUESTÕES DE UM "PROFILE"
Não tenho interesse em fazer "profiles" das pessoas. [Acho que a palavra inglesa define melhor do que "perfil" em português.] Se fosse fazer, usaria questões gerais e específicas, três perguntas diretas e a técnica da observação.
Começaria com cinco questões gerais:
. (qual seria a) idade
. (fez ou faz) faculdade
. (opinião sobre o) politicamente correto
. (sabe) inglês
. (viajou para algum país do) exterior
A partir disto, poderia buscar informações mais específicas, verificando se a pessoa conhece:
. Beethoven, Mozart e Chopin
. Marx, Nietzsche e Freud
. "O Sétimo Selo" e "Cidadão Kane"
. Miles Davis
. William Burroughs e Timothy Leary
. Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison
. "Sgt. Peppers" (dos Beatles), "Exile on Main Street" (dos Rolling Stones) e "Led Zeppelin IV"
. Frank Miller e Alan Moore
. C.S.I., Seinfeld, Sex and the City, Two and Half Men e Charmed
Posteriormente, faria três perguntas:
. Você tem medo de quê?
. O que você provoca no outro?
. O que você faz no seu tempo, no presente?
Completaria estas informações, utilizando a técnica da observação quanto a aparência e o comportamento do indivíduo.
O objetivo não seria identificar se a pessoa seria um psicopata ou não. Eu saberia apenas se ela seria uma companhia interessante para mim. Simples assim...
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FALTA DE APETITE, INSÔNIA E IRRITABILIDADE
O indivíduo lembra de Deus quando está em apuros. Para muitos, a psiquiatria é para loucos e a psicanálise não tem utilidade. Isso ocorre até surgir um problema que não é identificado nos exames médicos. Existe algo errado, o cotidiano da pessoa não é mais o mesmo. Ela não alimenta direito, tem dificuldades para dormir, desinteresse sexual e ainda fica nervosa demais, mais do que o normal, no trabalho. Algumas vezes, aquilo que era insegurança torna-se medo. O convívio social a incomoda. Multidões levam ao sentimento do pânico. Quanto mais grave, maior é a ansiedade. Sente fobia. Sente saudade da sua "normalidade", da sua zona de conforto.
Diante deste quadro, alguns admitem conversar com o psicanalista. A maioria procura uma solução rápida. A ida ao psiquiatria está associada ao remédio "milagroso" que irá tomar e tudo ficará resolvido. E os preconceitos quanto aos pacientes dos psicanalistas e psiquiatras ? Ah, isso nem é considerado mais...
Dizem que o Prozac seria a pílula da felicidade. Tal coisa não existe. Os remédios podem amenizar o problema, mas ele não desaparece. Seria como o álcool. Após algumas doses de whisky, a vida fica suportável e até divertida. Mas o efeito passa e o problema ainda está lá. O que fazer ?
Primeiro, reconhecer que a dor derrubou preconceitos no que dizia respeito aos psicanalistas e psiquiatras. Foi uma avanço, para quem se considerava um "super homem" ou uma "mulher maravilha", Segundo, é saudável recorrer a terapia, aos remédios e à diversão. Terceiro, admitir que não existe segurança na vida. Nada garante a felicidade. Ela não é plena. Acontece, aliás em momentos inesperados, que devem ser vividos intensamente. Quarto, assumir o problema é ir além da máscara da normalidade, ajuda, inclusive, a perceber que todos estão no mesmo barco.
As pessoas não admitem, mas por trás dos seus carros, jóias, celulares e roupas da moda, existem seres fragilizados, inseguros e ansiosos. Acreditam que a "armadura" proporcionada por esses acessórios disfarçam a sua insignificância. Acreditam que enganam os outros. Acreditam que podem fugir delas mesmas. Quando estão no "porto seguro", os problemas insistem em aparecer: falta de apetite, insônia, irritabilidade, entre outros. Aí... bem, basta volta ao primeiro parágrafo deste texto.
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CIDADES EUROPÉIAS
Estou vendo a chuva bater no sacada. Adoro chuva. Está anoitecendo. As luzes na rua e a chuva me lembram Paris em julho de 2001. Bons tempos. Ia a pé ao museu de Rodin. Belo jardim. Me impressionava "o pensador" e "a porta do inferno". As esculturas espalhadas pelo jardim pareciam algo natural. O local, centro da cidade, facilidade o acesso a outros pontos de Paris. Caminhar assim é um prazer.
Gostava de andar em Berlim, mesmo quando nevava. Fui duas vezes à cidade. A ilha de museus é fantástica, não tanto pelas obras, mas pela idéia de concentrar tudo num lugar só.
Lisboa é diferente. As atrações turísticas são cópias de outras cidades. Gostava do metrô. Para mim, era novidade não existir roletas. Ia ao shopping de metrô. Lá, claro, era tudo igual como em qualquer shopping em qualquer cidade do mundo.
Londres e chuva são sinônimos. Isso faz com você respire bem na cidade. Caminhar no Hyde Park é agradável, assim como na Oxford Street.
Toledo, na Espanha, é fantástica. Existe uma música do Dire Straits que diz "tão bonita como uma cidade espanhola." É isso.
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BOXING HELENA
Kim Basinger pagou uma alta multa por ter assinado contrato e depois não ter aceitado participar das gravações de "Encaixotando Helena" ("Boxing Helena"). A atriz que fez o filme foi Sherilyn Fenn, que havia participado de "Twin Peaks" e de "Two Moon Junction". O filme trata da obsessão de um médico por uma garota bonita e normal. Ele é rejeitado, a seqüestra, corta seus braços e pernas e a usa, viva, como um objeto, chegando a "guardá-la" numa caixa.
O perfil do médico está associado aquela paixão doentia e fora de controle que pode ser vivida por algumas pessoas. Esse perfil, na maioria dos casos, está relacionado a alguma patologia grave ou algum trauma vivido na infância. O excesso seria uma forma de preencher um vazio, como a ausência da figura de um pai. Muitos escolhem os seus parceiros na vida adulta, com base nos defeitos e nas qualidades dos pais. Poucos admitem isso, mas basta um pouco de auto-crítica e alguma associação poderá ser feita.
"Encaixotando Helena" não fez sucesso. Não foi a toa que a Kim Basinger não quis participar do filme. Trata-se de algo radical, de um sentimento doentio levado as últimas conseqüências. O fato do doente ser um médico é algo interessante, pois ocorre uma inversão de papéis. Ajuda na construção da história, quando são amputados os braços e as pernas. A beleza da garota leva a problematizar até que ponto haveria culpa na sua sedução. Enfim, uma história que possibilita pensar em várias possibilidades. Os atores não são os melhores e nunca foram ícones de Hollywood. Talvez isso ajuda a explica o descaso quanto ao filme. O exagero da história deve ter assustado muita gente. Talvez isso tenha contribuído também. Em todo caso, o filme incomoda. Não é algo agradável de admitir o que acontece com a personagem. No entanto, aberrações como essa fazem parte da natureza humana. Se encontrar em DVD, vale a pena assistir.
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PAIS, FILHOS E ASSASSINATOS*
*Esse texto foi escrito em 04 de março de 2011.
Ontem um rapaz de 22 anos matou o pai e a mãe pois eles queriam que ele arrumasse um trabalho e ajudasse nas despesas, inclusive das duas filhas dele. Matou e foi comprar cervejas. Parece texto do Nelson Rodrigues, "matou e foi ao cinema." Uma mulher, no Rio de Janeiro, matou a filha do amante, para atingi-lo. Conseguiu. O pai ficou arrasado. A mulher foi presa. Recentemente, houve aquele casal em São Paulo que jogou a filha do prédio, pois a madrasta não a aceitava. os dois estão cumprindo pena em presídio. Outro caso, foi uma mulher, com a ajuda do marido, matou os dois pais. Em 2002, com a ajuda do namorado e do irmão dele, outra filha matou os pais por causa de dinheiro.
Em São Paulo, muitos crimes, atualmente, são cometidos por motivos fúteis, como ciúmes ou discussões em bares. Muitas pessoas morrem em acidentes nas rodovias, principalmente na época de feriados. Existe um propaganda que destaca a importância do trem como transporte no Brasil. O problema é que, desde o governo Juscelino Kubitschek, ele foi deixado de lado para atender os interesses das multinacionais. A cidade de Uberlândia, por exemplo, possui uma rodoviária moderna e houve uma modernização do aeroporto, mas, na estação ferroviária, não existe embarque de passageiros.
As escolhas dos governantes geram conseqüências no cotidiano dos cidadãos. A ausência de investimento na educação e a impunidade favorecem o aumento de crimes. O excesso de individualismo gera a falta de percepção do outro, seja quanto ao pai, filho, amante, professor, padre, policial, entre outros. A violência que ocorre hoje é resultado de anos, talvez décadas, de erros dos dirigentes, da conveniência da população e de uma ideologia que incita o consumismo e o egoísmo.
Não existe respeito. Não existe solidariedade. As pessoas tornaram-se céticas. Muitos são cínicas. Houve um período que se destacava a malandragem, o "jeitinho brasileiro" era visto como uma qualidade". O jogador Gérson ficou famoso numa propaganda que dizia: "o que importa é levar vantagem." O desprezo pelo conhecimento feito pelo
Lula, nos seus oito anos de governo, afirmava que fazer faculdade ou saber inglês não era importante, já que ele exercia a presidência sem possuir esses cursos. Na época, foi defendido por dirigentes de faculdades, que as universidades não precisariam de mestrado e doutorado. Os bolsistas foram criticados pelo presidente da República. O desprezo pelo conhecimento desestimula a educação. Resultado? Basta ler os jornais ou ver na televisão: impunidade no trânsito, ataques aos homossexuais, filhos matando pais, mortes nas rodovias... Se vierem todas as conseqüências dos atos irresponsáveis das últimas décadas, o que acontece hoje - e já assusta - seria só o começo.
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ESTILOS MUSICAIS*
*Esse texto foi escrito em 03 de março de 2011.
É comum, dentro de um estilo musical, existir facções. O rock possui divisões como progressivo, punk, industrial, heavy metal, surf music, rockabilly, hard rock e grunge. A mesma coisa acontece com o jazz e outros estilos.
Nesta perspectiva, seria razoável imaginar um festival de rock que apresentasse numa noite, grupos de heavy metal, na outra, bandas de hard rock e, em outra, aqueles que se identificassem com o punk.
A mistura de estilos nem sempre é uma boa idéia. Pode gerar conflitos entre o público ou mesmo representar uma deturpação de uma festa cultural.
Um dia, vi um anúncio que mostrava um dupla sertaneja e grupos de axé como atrações do carnaval de Belo Horizonte. Axé e samba, obviamente, tem a ver com carnaval. Mas... música sertaneja???
Isso me lembrou os grupos que se apresentaram numa noite do Festival de Verão de Salvador. Eram, respectivamente, Jorge & Mateus, Beto, Jota Quest e Ivete Sangalo. O estilos musicais seriam: sertanejo, pagode, pop rock e axé music... numa mesma noite ?!
Dentro do rock, como foi citado, existem várias facções, mas se colocarem, numa mesmo noite, atrações de heavy metal e de samba, por exemplo, ocorrerá problema. O Lobão passou por isso, quando levou a bateria escola de samba Mangueira, numa das edições do Rock in Rio. As vaias impediram o show. Justin Timberlake quase não conseguiu cantar num festival em Montreal no Canadá, pois no mesmo dia, além do Rush, outra atração seria o AC/DC. Nesta noite, os Rolling Stones tiveram problemas com o público, pois convidaram o mesmo Timberlake para fazer dueto com Mick Jagger na música "I Miss You".
Os exemplos de Belo Horizonte e Salvador demonstram uma falta de critério por parte dos organizadores e do público. Aparentemente, pode qualquer coisa. No caso dos shows do Rio e de Montreal, acontece o oposto: um sectarismo e falta de respeito com qualquer outra coisa que não seja heavy metal. Quem tem razão?
O certo seria valorizar o que existe de bom, do ponto de vista musical, em cada estilo. Claro, existem cantores que não sabem cantar e músicos que não tocam instrumentos. Esses não devem ser considerados. O bom gosto depende da opinião de cada um. O mal gosto é óbvio demais.
Deveriam existir critérios razoáveis na organização de um evento. Seria uma forma de educar as pessoas.
Fazer só o que o público deseja representa não existir espaço para o novo, o que tornaria a existência de um festival, por exemplo, sem sentido. Fui em muitos festivais para ver determinados grupos que, na prática, me decepcionaram, enquanto outros que eu não conhecia, me surpreenderam e passei a ser fã.
Novidade não significa falta de critério. O Faith No More, que cobrou 25.000 dólares para tocar no Rock in Rio II, agradou tanto quanto o Guns n' Roses, que cobrou 500.000 dólares. Muitos foram para ver o Guns, mas saíram felizes foi mesmo com o show do Faith No More. Isso é uma coisa. Outra seria, numa mesma noite, se empolgar com bandas de pagode, pop rock, sertanejo e axé music, como se tudo fosse parte de um mesmo estilo musical.
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UMA SIMPLES, SAUDÁVEL E NECESSÁRIA AUTO-CRÍTICA...
Ironicamente, no meu sabático, gosto de refletir por que as pessoas trabalham tanto, correm de um lado para o outro e nunca têm tempo para elas. Uma lenda associada ao trabalho, é que o indivíduo precisa sobreviver. Atualmente, isso não é verdade. As necessidades básicas - como alimentação, moradia e vestuário - não são tão caras. A pessoa trabalha muito é para ter o que não precisa: trocar de carro todo ano, comprar novos modelos de aparelhos eletrônicos (sobretudo as TVs) ou passar os feriados em lugares da moda, onde não é raro encontrar o vizinho de condomínio.
Existe uma hipótese interessante que pode explicar este processo: o indivíduo usa o excesso de trabalho e inventa "a falta de tempo" para fugir da auto-crítica. Afinal, as empresas, após a revolução tecnológica, proporcionada principalmente pelos computadores e pela internet, não precisam de tantos trabalhadores. Mais importante, elas não querem os trabalhadores. É comum multinacionais demitirem milhares de operários de uma vez. O que acontece com essas pessoas? A maioria procura outro emprego. Mas as outras grandes empresas demitem trabalhadores em massa e os que ficam sofrem com excesso de trabalho e redução de salário, e acreditam que são os felizardos do processo ! Hello ?
No capitalismo, "a figura do homem trabalhador representou o ideal desta sociedade. Resta-nos perguntar: o que irá acontecer quando (...) à sociedade do trabalho, faltar o trabalho?" (Dahrendorf apud Masi) Corinne Maier é clara (p. 43): "todo mundo trabalha por dinheiro e pela montanha de coisas que se pode comprar com ele." Essas coisas não têm a ver com a sobrevivência do indivíduo. Elas são inventadas e produzidas. Posteriormente, com a ajuda do marketing, as pessoas são convencidas de que não poderiam viver sem elas. Compram carros e celulares. São produzidos novos modelos. Elas "precisam" dos novos modelos e assim por diante.
Existem ainda aqueles que adoram o próprio dinheiro:
"O amor ao dinheiro como propriedade, diferente do amor pelo dinheiro como meio de aproveitar dos prazeres da vida, será reconhecido por aquilo que é: uma paixão doentia, um pouco repugnante." (Masi, p. 100)
Domenico de Masi está correto. Como alguém pode ser feliz com a sua conta bancária - e não com o que pode fazer com aquele dinheiro? Avareza? Acumular capital para o futuro? Mas, como já disse em outros textos, o futuro do indivíduo não é a morte? Qual seria a vantagem de ter muito dinheiro neste momento (dinheiro que foi poupado porque a pessoa deixou de viver os prazeres da vida, como diria Masi, e trocou a felicidade do momento pela economia de capital para o futuro)? A "posse" do dinheiro gera uma satisfação parecida com a "posse" de um carro, uma fazenda ou um iate. É a ideologia da propriedade. Possuir uma conta bancária milionária e bens materiais como aviões e mansões, que foram conquistados ao longo da vida, teria qual utilidade no momento final, na hora de avaliar o que o indivíduo fez da sua história? Tanto esforço, tantas economias, tantos conflitos... Tanta riqueza material que, na hora da morte, deixa de ser da pessoa. Pior, nesse momento, tudo aquilo não tem utilidade alguma para o indivíduo.
O que acontece? Por que insistir em participar de uma festa que não foi convidado? Querer, a todo custo, entrar numa empresa que não precisa de você e se conseguir, ser humilhado em funções inadequadas a sua capacidade e ainda ter que aceitar reduções de salário... qual seria o sentido desta obsessão? Medo de si. Fugir. Correr. Vale qualquer coisa para não ficar parado e "pensar na vida". O que importa seria evitar uma simples, saudável e necessária auto-crítica.
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SIR MICK JAGGER
"Mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso. Estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias." Henry Miller - 1976.
O ritmo de "Sympathy For The Devil" foi influenciado pelo samba, que Jagger e Richards conheceram em sua visita ao Brasil. A letra é excelente:. a formalidade do início, os eventos históricos e, no final, a revelação do nome do sujeito. É interessante que os Rolling Stones não insistiram na fórmula e nem em coisas associadas ao ocultismo.
O Black Sabbath, por exemplo, construiu a sua história a partir desta idéia, mesmo os seus membros não sendo ocultistas. Na verdade, eles queriam que a música e as letras do grupo tivessem o impacto parecido ao que os filmes de terror causavam. Nem todos entenderam a mensagem do grupo desta maneira.
Os músicos do Led Zeppelin, especialmente o Jimmy Page, não escondiam a simpatia pelo ocultismo. Apesar de influenciar algumas letras da banda, Robert Plant tratou de outros temas nas músicas do Zeppelin. Cada álbum era diferente e eles tocavam diversos estilos, incluindo o "folk" e o "blues".
Ao longo da história do rock, o ocultismo acabou associado ao heavy metal e aos estilos parecidos. O som pesado parecia adequado. Entretanto, não pode deixar de ser levar em conta que, na sua origem, na década de 1950, o rock era tido como a "música do diabo". Certamente, a dança, considerada sensual, na época, e o sentimento de rebeldia dos jovens devem ter contribuído para o rótulo. Contudo, algumas décadas depois, o rock não assusta mais. Ao contrário, foi incorporado na indústria cultural e seus líderes, antes rebeldes, passaram a receber condecorações da rainha da Inglaterra, como "Sir" Mick Jagger.
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TEMPO, TRABALHO E PROPRIEDADE
Quando faltam argumentos para os pais, nas discussões com os filhos, eles utilizam dois discursos: o do trabalho e o da propriedade. Ou seja, um deles costuma dizer: "eu TRABALHO e sustento essa casa" ou "essa CASA é minha, quando você morar no que é seu..." Claro que não são só os pais. Estes discursos são utilizados em brigas de casais ou mesmo entre amigos que dividem o mesmo lugar.
Historicamente, o trabalho foi mal visto nas sociedades, era associado a punição ou a tortura. No capitalismo, há o elogio do trabalho e a propriedade individual aparece como símbolo de riqueza. Dahrendorf (apud Masi, p. 82) destaca:
" A educação era orientada como preparação para o mundo do trabalho, o tempo livre como descanso para o novo trabalho, a aposentadoria como recompensa por uma vida de trabalho. Além disso, o trabalho não era apenas considerado necessário para ganhar a vida, mas também como valor em si. Havia um orgulho no trabalho e nas realizações no trabalho. A preguiça era estigmatizada."
Esse mundo não existe mais, porém a ideologia permanece. A base do discurso é o sentimento de culpa: se eu trabalhei o dia inteiro, eu posso tomar um chopp no fim do dia. O trabalho é a referência. Tenho que sofrer primeiro (e muito - o dia inteiro, por exemplo), para ter prazer no final (poucas horas no "happy hour"). Tudo existe em função do trabalho. O tempo livre não existe sozinho. Ele é o intervalo para um "novo trabalho."
Muitas pessoas não precisam trabalhar e trabalham. Por quê? Porque são cobradas. O ócio é criticado. O trabalho ganhou um "valor em si." Isso significa que ele existe mesmo quando não é necessário. Por isso, aliás, as pessoas passam horas dentro de uma repartição pública ou de um escritório fingindo que trabalham. Na verdade, ficam jogando paciência no computador ou navegando na internet ou, pior, gastam o tempo em reuniões para inventar regras (improdutivas) para controlar o tempo dos outros.
Tempo. Eis a palavra chave. Como você "vive" o seu tempo, no "aqui e agora"? "Tempo é dinheiro?" Então as pessoas estão muito pobres, afinal elas não têm tempo para nada...
Os homens, em cada época, definem o conceito de tempo e a maneira correta de usá-lo. O que se vive hoje tem a ver com o capitalismo (não é por acaso que o tempo é associado ao dinheiro). O problema é que vender o seu tempo para o outro seria como vender a sua alma, na medida em que você venderia aquilo que você é. Tempo perdido (ou tempo vendido) é tempo não recuperado. Não se vive o mesmo momento duas vezes. É uma escolha. Abrir mão de viver o "aqui e agora" é simplesmente abrir mão de viver.
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EGO JORNALISMO
Teoricamente, o jornalista é um profissional que resume ou analisa um fato que aconteceu. O importante é o fato. Porém, nos últimos tempos, aparece cada vez mais o chamado "Ego Journalism", ou seja, o jornalista se considera mais importante do que a notícia ou do que o entrevistado.
É comum em críticas de shows musicais, o jornalista falar dele mesmo, fazer análises (pseudo) filosóficas e só no final fazer considerações sobre o seu objeto. Toni Iommi ficou indignado com uma crítica que o seu grupo Black Sabbath recebeu nos Estados Unidos, publicada num jornal. O problema não foi o conteúdo da crítica e sim que, por algum motivo, o show não pôde ser realizado ! O jornalista publicou uma crítica de algo que simplesmente não aconteceu.
Pela natureza do seu trabalho, o fotógrafo não deveria aparecer nas fotos que tira. Não é o que acontece. Existe fotógrafo que dá um jeito da "sua" sombra aparecer na foto. Outros aparecem nos espelhos, atrás do seu objeto, uma celebridade, como que querendo fazer parte de um mundo que não é o seu. Esse é o dilema do jornalista. Ele entrevista presidentes, participa de banquetes, é convidado para trabalhar em eventos e festas de milionários, mas ele não pertence aqueles lugares.
Na entrevista de Vladimir Zhirinovsky à Plaboy norte-americana, a jornalista Jennifer Gould tentou chamar mais a atenção para si do revelar o pensamento do entrevistado. Em vários trechos da entrevista, ela abre parênteses e coloca a sua opinião, em itálico, sobre o que estava acontecendo e qual era o seu ponto de vista. Chega um momento que o leitor, interessando em ler sobre as idéias de Zhirinovsky, questiona quem seria Jennifer Gould ? O que ela teria a ver com o entrevistado ? Nada. É uma jornalista que aproveitou o interesse do público pelo seu entrevistado para aparecer, para mostrar a sua opinião. Ela levanta questões sobre o assédio sexual sofrido por jornalistas - temática polêmica, que deveria ser tratada nos tribunais ou em congressos da categoria. Ela chega afirmar que as mulheres trazem "para o mundo - somente coisas positivas" (p. 154) ao invés de se preocupar em mostrar o ponto de vista do entrevistado.
Muitas vezes, a vaidade é associada aos profissionais que atuam na comunicação social, como no jornalismo, nas relações públicas, na publicidade e na propaganda. Sem problemas. O que não pode acontecer é uma confusão nos papéis. Especificamente no caso do jornalista, não dá para querer ter mais destaque do que a notícia que dever ser divulgada.
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A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA
Historicamente, a diplomacia brasileira sempre foi pautada por posturas serenas e ficava distante de líderes internacionais polêmicos e radicais, como seriam os casos de Hugo Chávez da Venezuela e Mahmoud Ahmadinejad do Irã. O ex-presidente Lula mudou isso, achando que seria considerado uma nova liderança mundial. Entretanto, o efeito foi o contrário. A liderança brasileira tornou-se motivo de piada e comprometeu a imagem do país no cenário internacional.
Um exemplo foi uma sátira na tv de Israel (http://www.youtube.com/watch?v=gw78mc8zcnI). Lula foi mostrado como um líder inexperiente e desinformado, que não deveria interferir nas questões do oriente médio.
Outro exemplo foi o jornal norte-americano Washington Post. O jornalista Jackson Diel analisou os fracassos de Lula no exterior. Foi lembrado o apoio do presidente brasileiro ao Irã e a resposta negativa do governo desse país quando Lula ofereceu asilo à uma mulher condenada a morte. O jornal Folha de São Paulo, no artigo "Lula é melhor amigo dos tiranos do mundo democrático, diz colunista do Post" (03/08/2010), traduziu trechos do colunista norte-americano:
"Diehl diz que Lula 'foi mais uma vez humilhado por um de seus clientes', o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, 'patrocinador do terrorismo e que nega o Holocausto, a quem Lula publicamente abraçou - literalmente'. Segundo Diehl, o governo de Ahmadinejad usou de 'condescendência refinada' para descrever Lula como 'mole'."
Ironicamente, a sátira da tv israelense, quando mostrava um Lula mal informado, foi, de certa forma, confirmada na nota do governo do Irã - Lula "é uma pessoa muito humana e emotiva que provavelmente não recebeu informações suficientes sobre o caso", o que ainda deu a entender que o líder brasileiro seria "fraco", como lembrou Jackson Diel. Além disto a preocupação em dar asilo à uma condenada a morte contradizia com o apoio de presidente brasileiro ao governo cubano, como foi citado no jornal:
"O líder iraniano 'não é o único ditador a explorar o apoio incondicional de Lula', continua Diehl em seu artigo. 'Lula estava ocupado, alisando Raul e Fidel Castro em Cuba em fevereiro passado, quando o regime anunciou que um dissidente preso, Orlando Zapata Tamayo, morreu em greve de fome'."
A defesa constante de Hugo Chávez da Venezuela, que Lula insistia em dizer que era democrático, foi outro exemplo do seu governo no que dizia respeito à política externa.
Com dois meses de governo e diante das crises dos ditadores africanos - Egito e Líbia -, a presidente Dilma Roussef deu sinais que mudaria de rumo e que não seria uma aliada dos regimes autoritários. Na sua visita à Argentina, a presidente fez questão de receber as líderes das mães dos desaparecidos políticos. Tratou-se de uma postura clara em favor dos direitos humanos. Aparentemente, a diplomacia brasileira retomará o caminho certo nas relações internacionais.
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O MUNDINHO DO FELIPE
Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como "o mundinho do Felipe". Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu "mundinho". Mas o que seria isso?
Vejamos uma seqüência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no "mundo dela". As barreiras podem ser reais - uma cela numa prisão, por exemplo - ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:
"o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)
Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem "os cachorros de apartamento". Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.
No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu "cárcere". Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.
Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:
"Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão."
O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo "mesmo cárcere".
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FALTA DE APETITE, INSÔNIA E IRRITABILIDADE
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BOXING HELENA
PAIS, FILHOS E ASSASSINATOS
ESTILOS MUSICAIS
UMA SIMPLES, SAUDÁVEL E NECESSÁRIA AUTO-CRÍTICA...
TEMPO, TRABALHO E PROPRIEDADE
EGO JORNALISMO
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O MUNDINHO DO FELIPE
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SONHO, FANTASIA E REALIDADE
Para os neurocientistas, o sonho seria como um "organizador do cérebro". Para os freudianos, o sonho representa o desejo que não pôde ser realizado. É o lugar do inconsciente.
O sonho é diferente da fantasia, pois nele, assim como na vida, o indivíduo não tem controle do que pode acontecer. Isso o torna mais interessante. Se a vida não é "real", o sonho representaria outra "dimensão", que, assim, valeria a pena ser "vivida".
Bobagem? O que importa são os fatos "reais" na vida de uma pessoa que encerram, necessariamente, com a certeza de sua morte?
Nesta perspectiva, sonho, fantasia e realidade aparecem como três dimensões que teríamos acesso. Nas duas últimas, há uma escolha, na medida em que o tempo que você gasta para fantasiar é o tempo que você gasta para viver. Viver é melhor.
Houve uma época que o "Second Life" fez sucesso. Fiz meu "avatar", mas nunca me empolguei com a idéia. Qual seria a graça de ir num bar virtual? Por favor. Não é algo que deve ser considerado.
Dormir é necessário. O sonho acontece. Ele revela desejos, mas muitos esquecem que ele existe em si, na sua própria dinâmica.
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QUESTÕES DE UM "PROFILE"
Não tenho interesse em fazer "profiles" das pessoas. [Acho que a palavra inglesa define melhor do que "perfil" em português.] Se fosse fazer, usaria questões gerais e específicas, três perguntas diretas e a técnica da observação.
Começaria com cinco questões gerais:
. (qual seria a) idade
. (fez ou faz) faculdade
. (opinião sobre o) politicamente correto
. (sabe) inglês
. (viajou para algum país do) exterior
A partir disto, poderia buscar informações mais específicas, verificando se a pessoa conhece:
. Beethoven, Mozart e Chopin
. Marx, Nietzsche e Freud
. "O Sétimo Selo" e "Cidadão Kane"
. Miles Davis
. William Burroughs e Timothy Leary
. Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison
. "Sgt. Peppers" (dos Beatles), "Exile on Main Street" (dos Rolling Stones) e "Led Zeppelin IV"
. Frank Miller e Alan Moore
. C.S.I., Seinfeld, Sex and the City, Two and Half Men e Charmed
Posteriormente, faria três perguntas:
. Você tem medo de quê?
. O que você provoca no outro?
. O que você faz no seu tempo, no presente?
Completaria estas informações, utilizando a técnica da observação quanto a aparência e o comportamento do indivíduo.
O objetivo não seria identificar se a pessoa seria um psicopata ou não. Eu saberia apenas se ela seria uma companhia interessante para mim. Simples assim...
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FALTA DE APETITE, INSÔNIA E IRRITABILIDADE
O indivíduo lembra de Deus quando está em apuros. Para muitos, a psiquiatria é para loucos e a psicanálise não tem utilidade. Isso ocorre até surgir um problema que não é identificado nos exames médicos. Existe algo errado, o cotidiano da pessoa não é mais o mesmo. Ela não alimenta direito, tem dificuldades para dormir, desinteresse sexual e ainda fica nervosa demais, mais do que o normal, no trabalho. Algumas vezes, aquilo que era insegurança torna-se medo. O convívio social a incomoda. Multidões levam ao sentimento do pânico. Quanto mais grave, maior é a ansiedade. Sente fobia. Sente saudade da sua "normalidade", da sua zona de conforto.
Diante deste quadro, alguns admitem conversar com o psicanalista. A maioria procura uma solução rápida. A ida ao psiquiatria está associada ao remédio "milagroso" que irá tomar e tudo ficará resolvido. E os preconceitos quanto aos pacientes dos psicanalistas e psiquiatras ? Ah, isso nem é considerado mais...
Dizem que o Prozac seria a pílula da felicidade. Tal coisa não existe. Os remédios podem amenizar o problema, mas ele não desaparece. Seria como o álcool. Após algumas doses de whisky, a vida fica suportável e até divertida. Mas o efeito passa e o problema ainda está lá. O que fazer ?
Primeiro, reconhecer que a dor derrubou preconceitos no que dizia respeito aos psicanalistas e psiquiatras. Foi uma avanço, para quem se considerava um "super homem" ou uma "mulher maravilha", Segundo, é saudável recorrer a terapia, aos remédios e à diversão. Terceiro, admitir que não existe segurança na vida. Nada garante a felicidade. Ela não é plena. Acontece, aliás em momentos inesperados, que devem ser vividos intensamente. Quarto, assumir o problema é ir além da máscara da normalidade, ajuda, inclusive, a perceber que todos estão no mesmo barco.
As pessoas não admitem, mas por trás dos seus carros, jóias, celulares e roupas da moda, existem seres fragilizados, inseguros e ansiosos. Acreditam que a "armadura" proporcionada por esses acessórios disfarçam a sua insignificância. Acreditam que enganam os outros. Acreditam que podem fugir delas mesmas. Quando estão no "porto seguro", os problemas insistem em aparecer: falta de apetite, insônia, irritabilidade, entre outros. Aí... bem, basta volta ao primeiro parágrafo deste texto.
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CIDADES EUROPÉIAS
Estou vendo a chuva bater no sacada. Adoro chuva. Está anoitecendo. As luzes na rua e a chuva me lembram Paris em julho de 2001. Bons tempos. Ia a pé ao museu de Rodin. Belo jardim. Me impressionava "o pensador" e "a porta do inferno". As esculturas espalhadas pelo jardim pareciam algo natural. O local, centro da cidade, facilidade o acesso a outros pontos de Paris. Caminhar assim é um prazer.
Gostava de andar em Berlim, mesmo quando nevava. Fui duas vezes à cidade. A ilha de museus é fantástica, não tanto pelas obras, mas pela idéia de concentrar tudo num lugar só.
Lisboa é diferente. As atrações turísticas são cópias de outras cidades. Gostava do metrô. Para mim, era novidade não existir roletas. Ia ao shopping de metrô. Lá, claro, era tudo igual como em qualquer shopping em qualquer cidade do mundo.
Londres e chuva são sinônimos. Isso faz com você respire bem na cidade. Caminhar no Hyde Park é agradável, assim como na Oxford Street.
Toledo, na Espanha, é fantástica. Existe uma música do Dire Straits que diz "tão bonita como uma cidade espanhola." É isso.
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BOXING HELENA
Kim Basinger pagou uma alta multa por ter assinado contrato e depois não ter aceitado participar das gravações de "Encaixotando Helena" ("Boxing Helena"). A atriz que fez o filme foi Sherilyn Fenn, que havia participado de "Twin Peaks" e de "Two Moon Junction". O filme trata da obsessão de um médico por uma garota bonita e normal. Ele é rejeitado, a seqüestra, corta seus braços e pernas e a usa, viva, como um objeto, chegando a "guardá-la" numa caixa.
O perfil do médico está associado aquela paixão doentia e fora de controle que pode ser vivida por algumas pessoas. Esse perfil, na maioria dos casos, está relacionado a alguma patologia grave ou algum trauma vivido na infância. O excesso seria uma forma de preencher um vazio, como a ausência da figura de um pai. Muitos escolhem os seus parceiros na vida adulta, com base nos defeitos e nas qualidades dos pais. Poucos admitem isso, mas basta um pouco de auto-crítica e alguma associação poderá ser feita.
"Encaixotando Helena" não fez sucesso. Não foi a toa que a Kim Basinger não quis participar do filme. Trata-se de algo radical, de um sentimento doentio levado as últimas conseqüências. O fato do doente ser um médico é algo interessante, pois ocorre uma inversão de papéis. Ajuda na construção da história, quando são amputados os braços e as pernas. A beleza da garota leva a problematizar até que ponto haveria culpa na sua sedução. Enfim, uma história que possibilita pensar em várias possibilidades. Os atores não são os melhores e nunca foram ícones de Hollywood. Talvez isso ajuda a explica o descaso quanto ao filme. O exagero da história deve ter assustado muita gente. Talvez isso tenha contribuído também. Em todo caso, o filme incomoda. Não é algo agradável de admitir o que acontece com a personagem. No entanto, aberrações como essa fazem parte da natureza humana. Se encontrar em DVD, vale a pena assistir.
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PAIS, FILHOS E ASSASSINATOS*
*Esse texto foi escrito em 04 de março de 2011.
Ontem um rapaz de 22 anos matou o pai e a mãe pois eles queriam que ele arrumasse um trabalho e ajudasse nas despesas, inclusive das duas filhas dele. Matou e foi comprar cervejas. Parece texto do Nelson Rodrigues, "matou e foi ao cinema." Uma mulher, no Rio de Janeiro, matou a filha do amante, para atingi-lo. Conseguiu. O pai ficou arrasado. A mulher foi presa. Recentemente, houve aquele casal em São Paulo que jogou a filha do prédio, pois a madrasta não a aceitava. os dois estão cumprindo pena em presídio. Outro caso, foi uma mulher, com a ajuda do marido, matou os dois pais. Em 2002, com a ajuda do namorado e do irmão dele, outra filha matou os pais por causa de dinheiro.
Em São Paulo, muitos crimes, atualmente, são cometidos por motivos fúteis, como ciúmes ou discussões em bares. Muitas pessoas morrem em acidentes nas rodovias, principalmente na época de feriados. Existe um propaganda que destaca a importância do trem como transporte no Brasil. O problema é que, desde o governo Juscelino Kubitschek, ele foi deixado de lado para atender os interesses das multinacionais. A cidade de Uberlândia, por exemplo, possui uma rodoviária moderna e houve uma modernização do aeroporto, mas, na estação ferroviária, não existe embarque de passageiros.
As escolhas dos governantes geram conseqüências no cotidiano dos cidadãos. A ausência de investimento na educação e a impunidade favorecem o aumento de crimes. O excesso de individualismo gera a falta de percepção do outro, seja quanto ao pai, filho, amante, professor, padre, policial, entre outros. A violência que ocorre hoje é resultado de anos, talvez décadas, de erros dos dirigentes, da conveniência da população e de uma ideologia que incita o consumismo e o egoísmo.
Não existe respeito. Não existe solidariedade. As pessoas tornaram-se céticas. Muitos são cínicas. Houve um período que se destacava a malandragem, o "jeitinho brasileiro" era visto como uma qualidade". O jogador Gérson ficou famoso numa propaganda que dizia: "o que importa é levar vantagem." O desprezo pelo conhecimento feito pelo
Lula, nos seus oito anos de governo, afirmava que fazer faculdade ou saber inglês não era importante, já que ele exercia a presidência sem possuir esses cursos. Na época, foi defendido por dirigentes de faculdades, que as universidades não precisariam de mestrado e doutorado. Os bolsistas foram criticados pelo presidente da República. O desprezo pelo conhecimento desestimula a educação. Resultado? Basta ler os jornais ou ver na televisão: impunidade no trânsito, ataques aos homossexuais, filhos matando pais, mortes nas rodovias... Se vierem todas as conseqüências dos atos irresponsáveis das últimas décadas, o que acontece hoje - e já assusta - seria só o começo.
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ESTILOS MUSICAIS*
*Esse texto foi escrito em 03 de março de 2011.
É comum, dentro de um estilo musical, existir facções. O rock possui divisões como progressivo, punk, industrial, heavy metal, surf music, rockabilly, hard rock e grunge. A mesma coisa acontece com o jazz e outros estilos.
Nesta perspectiva, seria razoável imaginar um festival de rock que apresentasse numa noite, grupos de heavy metal, na outra, bandas de hard rock e, em outra, aqueles que se identificassem com o punk.
A mistura de estilos nem sempre é uma boa idéia. Pode gerar conflitos entre o público ou mesmo representar uma deturpação de uma festa cultural.
Um dia, vi um anúncio que mostrava um dupla sertaneja e grupos de axé como atrações do carnaval de Belo Horizonte. Axé e samba, obviamente, tem a ver com carnaval. Mas... música sertaneja???
Isso me lembrou os grupos que se apresentaram numa noite do Festival de Verão de Salvador. Eram, respectivamente, Jorge & Mateus, Beto, Jota Quest e Ivete Sangalo. O estilos musicais seriam: sertanejo, pagode, pop rock e axé music... numa mesma noite ?!
Dentro do rock, como foi citado, existem várias facções, mas se colocarem, numa mesmo noite, atrações de heavy metal e de samba, por exemplo, ocorrerá problema. O Lobão passou por isso, quando levou a bateria escola de samba Mangueira, numa das edições do Rock in Rio. As vaias impediram o show. Justin Timberlake quase não conseguiu cantar num festival em Montreal no Canadá, pois no mesmo dia, além do Rush, outra atração seria o AC/DC. Nesta noite, os Rolling Stones tiveram problemas com o público, pois convidaram o mesmo Timberlake para fazer dueto com Mick Jagger na música "I Miss You".
Os exemplos de Belo Horizonte e Salvador demonstram uma falta de critério por parte dos organizadores e do público. Aparentemente, pode qualquer coisa. No caso dos shows do Rio e de Montreal, acontece o oposto: um sectarismo e falta de respeito com qualquer outra coisa que não seja heavy metal. Quem tem razão?
O certo seria valorizar o que existe de bom, do ponto de vista musical, em cada estilo. Claro, existem cantores que não sabem cantar e músicos que não tocam instrumentos. Esses não devem ser considerados. O bom gosto depende da opinião de cada um. O mal gosto é óbvio demais.
Deveriam existir critérios razoáveis na organização de um evento. Seria uma forma de educar as pessoas.
Fazer só o que o público deseja representa não existir espaço para o novo, o que tornaria a existência de um festival, por exemplo, sem sentido. Fui em muitos festivais para ver determinados grupos que, na prática, me decepcionaram, enquanto outros que eu não conhecia, me surpreenderam e passei a ser fã.
Novidade não significa falta de critério. O Faith No More, que cobrou 25.000 dólares para tocar no Rock in Rio II, agradou tanto quanto o Guns n' Roses, que cobrou 500.000 dólares. Muitos foram para ver o Guns, mas saíram felizes foi mesmo com o show do Faith No More. Isso é uma coisa. Outra seria, numa mesma noite, se empolgar com bandas de pagode, pop rock, sertanejo e axé music, como se tudo fosse parte de um mesmo estilo musical.
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UMA SIMPLES, SAUDÁVEL E NECESSÁRIA AUTO-CRÍTICA...
Ironicamente, no meu sabático, gosto de refletir por que as pessoas trabalham tanto, correm de um lado para o outro e nunca têm tempo para elas. Uma lenda associada ao trabalho, é que o indivíduo precisa sobreviver. Atualmente, isso não é verdade. As necessidades básicas - como alimentação, moradia e vestuário - não são tão caras. A pessoa trabalha muito é para ter o que não precisa: trocar de carro todo ano, comprar novos modelos de aparelhos eletrônicos (sobretudo as TVs) ou passar os feriados em lugares da moda, onde não é raro encontrar o vizinho de condomínio.
Existe uma hipótese interessante que pode explicar este processo: o indivíduo usa o excesso de trabalho e inventa "a falta de tempo" para fugir da auto-crítica. Afinal, as empresas, após a revolução tecnológica, proporcionada principalmente pelos computadores e pela internet, não precisam de tantos trabalhadores. Mais importante, elas não querem os trabalhadores. É comum multinacionais demitirem milhares de operários de uma vez. O que acontece com essas pessoas? A maioria procura outro emprego. Mas as outras grandes empresas demitem trabalhadores em massa e os que ficam sofrem com excesso de trabalho e redução de salário, e acreditam que são os felizardos do processo ! Hello ?
No capitalismo, "a figura do homem trabalhador representou o ideal desta sociedade. Resta-nos perguntar: o que irá acontecer quando (...) à sociedade do trabalho, faltar o trabalho?" (Dahrendorf apud Masi) Corinne Maier é clara (p. 43): "todo mundo trabalha por dinheiro e pela montanha de coisas que se pode comprar com ele." Essas coisas não têm a ver com a sobrevivência do indivíduo. Elas são inventadas e produzidas. Posteriormente, com a ajuda do marketing, as pessoas são convencidas de que não poderiam viver sem elas. Compram carros e celulares. São produzidos novos modelos. Elas "precisam" dos novos modelos e assim por diante.
Existem ainda aqueles que adoram o próprio dinheiro:
"O amor ao dinheiro como propriedade, diferente do amor pelo dinheiro como meio de aproveitar dos prazeres da vida, será reconhecido por aquilo que é: uma paixão doentia, um pouco repugnante." (Masi, p. 100)
Domenico de Masi está correto. Como alguém pode ser feliz com a sua conta bancária - e não com o que pode fazer com aquele dinheiro? Avareza? Acumular capital para o futuro? Mas, como já disse em outros textos, o futuro do indivíduo não é a morte? Qual seria a vantagem de ter muito dinheiro neste momento (dinheiro que foi poupado porque a pessoa deixou de viver os prazeres da vida, como diria Masi, e trocou a felicidade do momento pela economia de capital para o futuro)? A "posse" do dinheiro gera uma satisfação parecida com a "posse" de um carro, uma fazenda ou um iate. É a ideologia da propriedade. Possuir uma conta bancária milionária e bens materiais como aviões e mansões, que foram conquistados ao longo da vida, teria qual utilidade no momento final, na hora de avaliar o que o indivíduo fez da sua história? Tanto esforço, tantas economias, tantos conflitos... Tanta riqueza material que, na hora da morte, deixa de ser da pessoa. Pior, nesse momento, tudo aquilo não tem utilidade alguma para o indivíduo.
O que acontece? Por que insistir em participar de uma festa que não foi convidado? Querer, a todo custo, entrar numa empresa que não precisa de você e se conseguir, ser humilhado em funções inadequadas a sua capacidade e ainda ter que aceitar reduções de salário... qual seria o sentido desta obsessão? Medo de si. Fugir. Correr. Vale qualquer coisa para não ficar parado e "pensar na vida". O que importa seria evitar uma simples, saudável e necessária auto-crítica.
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SIR MICK JAGGER
"Mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso. Estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias." Henry Miller - 1976.
O ritmo de "Sympathy For The Devil" foi influenciado pelo samba, que Jagger e Richards conheceram em sua visita ao Brasil. A letra é excelente:. a formalidade do início, os eventos históricos e, no final, a revelação do nome do sujeito. É interessante que os Rolling Stones não insistiram na fórmula e nem em coisas associadas ao ocultismo.
O Black Sabbath, por exemplo, construiu a sua história a partir desta idéia, mesmo os seus membros não sendo ocultistas. Na verdade, eles queriam que a música e as letras do grupo tivessem o impacto parecido ao que os filmes de terror causavam. Nem todos entenderam a mensagem do grupo desta maneira.
Os músicos do Led Zeppelin, especialmente o Jimmy Page, não escondiam a simpatia pelo ocultismo. Apesar de influenciar algumas letras da banda, Robert Plant tratou de outros temas nas músicas do Zeppelin. Cada álbum era diferente e eles tocavam diversos estilos, incluindo o "folk" e o "blues".
Ao longo da história do rock, o ocultismo acabou associado ao heavy metal e aos estilos parecidos. O som pesado parecia adequado. Entretanto, não pode deixar de ser levar em conta que, na sua origem, na década de 1950, o rock era tido como a "música do diabo". Certamente, a dança, considerada sensual, na época, e o sentimento de rebeldia dos jovens devem ter contribuído para o rótulo. Contudo, algumas décadas depois, o rock não assusta mais. Ao contrário, foi incorporado na indústria cultural e seus líderes, antes rebeldes, passaram a receber condecorações da rainha da Inglaterra, como "Sir" Mick Jagger.
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TEMPO, TRABALHO E PROPRIEDADE
Quando faltam argumentos para os pais, nas discussões com os filhos, eles utilizam dois discursos: o do trabalho e o da propriedade. Ou seja, um deles costuma dizer: "eu TRABALHO e sustento essa casa" ou "essa CASA é minha, quando você morar no que é seu..." Claro que não são só os pais. Estes discursos são utilizados em brigas de casais ou mesmo entre amigos que dividem o mesmo lugar.
Historicamente, o trabalho foi mal visto nas sociedades, era associado a punição ou a tortura. No capitalismo, há o elogio do trabalho e a propriedade individual aparece como símbolo de riqueza. Dahrendorf (apud Masi, p. 82) destaca:
" A educação era orientada como preparação para o mundo do trabalho, o tempo livre como descanso para o novo trabalho, a aposentadoria como recompensa por uma vida de trabalho. Além disso, o trabalho não era apenas considerado necessário para ganhar a vida, mas também como valor em si. Havia um orgulho no trabalho e nas realizações no trabalho. A preguiça era estigmatizada."
Esse mundo não existe mais, porém a ideologia permanece. A base do discurso é o sentimento de culpa: se eu trabalhei o dia inteiro, eu posso tomar um chopp no fim do dia. O trabalho é a referência. Tenho que sofrer primeiro (e muito - o dia inteiro, por exemplo), para ter prazer no final (poucas horas no "happy hour"). Tudo existe em função do trabalho. O tempo livre não existe sozinho. Ele é o intervalo para um "novo trabalho."
Muitas pessoas não precisam trabalhar e trabalham. Por quê? Porque são cobradas. O ócio é criticado. O trabalho ganhou um "valor em si." Isso significa que ele existe mesmo quando não é necessário. Por isso, aliás, as pessoas passam horas dentro de uma repartição pública ou de um escritório fingindo que trabalham. Na verdade, ficam jogando paciência no computador ou navegando na internet ou, pior, gastam o tempo em reuniões para inventar regras (improdutivas) para controlar o tempo dos outros.
Tempo. Eis a palavra chave. Como você "vive" o seu tempo, no "aqui e agora"? "Tempo é dinheiro?" Então as pessoas estão muito pobres, afinal elas não têm tempo para nada...
Os homens, em cada época, definem o conceito de tempo e a maneira correta de usá-lo. O que se vive hoje tem a ver com o capitalismo (não é por acaso que o tempo é associado ao dinheiro). O problema é que vender o seu tempo para o outro seria como vender a sua alma, na medida em que você venderia aquilo que você é. Tempo perdido (ou tempo vendido) é tempo não recuperado. Não se vive o mesmo momento duas vezes. É uma escolha. Abrir mão de viver o "aqui e agora" é simplesmente abrir mão de viver.
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EGO JORNALISMO
Teoricamente, o jornalista é um profissional que resume ou analisa um fato que aconteceu. O importante é o fato. Porém, nos últimos tempos, aparece cada vez mais o chamado "Ego Journalism", ou seja, o jornalista se considera mais importante do que a notícia ou do que o entrevistado.
É comum em críticas de shows musicais, o jornalista falar dele mesmo, fazer análises (pseudo) filosóficas e só no final fazer considerações sobre o seu objeto. Toni Iommi ficou indignado com uma crítica que o seu grupo Black Sabbath recebeu nos Estados Unidos, publicada num jornal. O problema não foi o conteúdo da crítica e sim que, por algum motivo, o show não pôde ser realizado ! O jornalista publicou uma crítica de algo que simplesmente não aconteceu.
Pela natureza do seu trabalho, o fotógrafo não deveria aparecer nas fotos que tira. Não é o que acontece. Existe fotógrafo que dá um jeito da "sua" sombra aparecer na foto. Outros aparecem nos espelhos, atrás do seu objeto, uma celebridade, como que querendo fazer parte de um mundo que não é o seu. Esse é o dilema do jornalista. Ele entrevista presidentes, participa de banquetes, é convidado para trabalhar em eventos e festas de milionários, mas ele não pertence aqueles lugares.
Na entrevista de Vladimir Zhirinovsky à Plaboy norte-americana, a jornalista Jennifer Gould tentou chamar mais a atenção para si do revelar o pensamento do entrevistado. Em vários trechos da entrevista, ela abre parênteses e coloca a sua opinião, em itálico, sobre o que estava acontecendo e qual era o seu ponto de vista. Chega um momento que o leitor, interessando em ler sobre as idéias de Zhirinovsky, questiona quem seria Jennifer Gould ? O que ela teria a ver com o entrevistado ? Nada. É uma jornalista que aproveitou o interesse do público pelo seu entrevistado para aparecer, para mostrar a sua opinião. Ela levanta questões sobre o assédio sexual sofrido por jornalistas - temática polêmica, que deveria ser tratada nos tribunais ou em congressos da categoria. Ela chega afirmar que as mulheres trazem "para o mundo - somente coisas positivas" (p. 154) ao invés de se preocupar em mostrar o ponto de vista do entrevistado.
Muitas vezes, a vaidade é associada aos profissionais que atuam na comunicação social, como no jornalismo, nas relações públicas, na publicidade e na propaganda. Sem problemas. O que não pode acontecer é uma confusão nos papéis. Especificamente no caso do jornalista, não dá para querer ter mais destaque do que a notícia que dever ser divulgada.
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A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA
Historicamente, a diplomacia brasileira sempre foi pautada por posturas serenas e ficava distante de líderes internacionais polêmicos e radicais, como seriam os casos de Hugo Chávez da Venezuela e Mahmoud Ahmadinejad do Irã. O ex-presidente Lula mudou isso, achando que seria considerado uma nova liderança mundial. Entretanto, o efeito foi o contrário. A liderança brasileira tornou-se motivo de piada e comprometeu a imagem do país no cenário internacional.
Um exemplo foi uma sátira na tv de Israel (http://www.youtube.com/watch?v=gw78mc8zcnI). Lula foi mostrado como um líder inexperiente e desinformado, que não deveria interferir nas questões do oriente médio.
Outro exemplo foi o jornal norte-americano Washington Post. O jornalista Jackson Diel analisou os fracassos de Lula no exterior. Foi lembrado o apoio do presidente brasileiro ao Irã e a resposta negativa do governo desse país quando Lula ofereceu asilo à uma mulher condenada a morte. O jornal Folha de São Paulo, no artigo "Lula é melhor amigo dos tiranos do mundo democrático, diz colunista do Post" (03/08/2010), traduziu trechos do colunista norte-americano:
"Diehl diz que Lula 'foi mais uma vez humilhado por um de seus clientes', o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, 'patrocinador do terrorismo e que nega o Holocausto, a quem Lula publicamente abraçou - literalmente'. Segundo Diehl, o governo de Ahmadinejad usou de 'condescendência refinada' para descrever Lula como 'mole'."
Ironicamente, a sátira da tv israelense, quando mostrava um Lula mal informado, foi, de certa forma, confirmada na nota do governo do Irã - Lula "é uma pessoa muito humana e emotiva que provavelmente não recebeu informações suficientes sobre o caso", o que ainda deu a entender que o líder brasileiro seria "fraco", como lembrou Jackson Diel. Além disto a preocupação em dar asilo à uma condenada a morte contradizia com o apoio de presidente brasileiro ao governo cubano, como foi citado no jornal:
"O líder iraniano 'não é o único ditador a explorar o apoio incondicional de Lula', continua Diehl em seu artigo. 'Lula estava ocupado, alisando Raul e Fidel Castro em Cuba em fevereiro passado, quando o regime anunciou que um dissidente preso, Orlando Zapata Tamayo, morreu em greve de fome'."
A defesa constante de Hugo Chávez da Venezuela, que Lula insistia em dizer que era democrático, foi outro exemplo do seu governo no que dizia respeito à política externa.
Com dois meses de governo e diante das crises dos ditadores africanos - Egito e Líbia -, a presidente Dilma Roussef deu sinais que mudaria de rumo e que não seria uma aliada dos regimes autoritários. Na sua visita à Argentina, a presidente fez questão de receber as líderes das mães dos desaparecidos políticos. Tratou-se de uma postura clara em favor dos direitos humanos. Aparentemente, a diplomacia brasileira retomará o caminho certo nas relações internacionais.
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O MUNDINHO DO FELIPE
Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como "o mundinho do Felipe". Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu "mundinho". Mas o que seria isso?
Vejamos uma seqüência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no "mundo dela". As barreiras podem ser reais - uma cela numa prisão, por exemplo - ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:
"o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam." (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)
Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem "os cachorros de apartamento". Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.
No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu "cárcere". Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.
Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:
"Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão."
O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo "mesmo cárcere".
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