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OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2006) Política, turismo e outros ensaios. http://profelipego.weebly.com/
SUMÁRIO
1. A formação do assistente social na atualidade brasileira
2. A ESG e o golpe de 1964
3. Governo Rondon Pacheco: política e industrialização em Minas Gerais
5. Turismo, sexo e negócios
6. Noções básicas para a elaboração de trabalhos na universidade
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1. A FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATUALIDADE BRASILEIRA
O assistente social, enquanto um agente transformador da sociedade, necessita de uma base teórica sólida em teoria política. Como intervir nos conflitos sociais, sem conhecer as concepções que estão por trás das ações coletivas e individuais? Como compreender a política brasileira, a ausência de recursos em áreas sociais, como educação e saúde, sem entender a influência de Maquiavel na política moderna?
Atualmente existe uma hegemonia do chamado neoliberalismo em quase todos os países do mundo. Muitas vezes esse conceito se confunde com globalização e até mesmo com revolução tecnológica. Alguns autores contrários ao neoliberalismo preferem utilizar outros termos, como é o caso de globalismo. A verdade é que a revolução tecnológica é um fato, não que ela não seja utilizada ideologicamente, mas sim que ela pode assumir vários significados, inclusive, atendendo aos interesses das classes populares. É o caso da Internet, onde aparece claramente a idéia de compartilhar coisas, idéias, informações, cultura... sem pagar! As grandes corporações ainda discutem formas de cobrar por seus produtos (como a música, por exemplo). Enquanto isso todo mundo compartilha o seu acervo livremente, trocando além de música, idéias, carinho e solidariedade. Não é por acaso que as empresas de softwares de MP 3 costumam afirmar que criam comunidades onde os usuários podem trocar as suas canções.
A proposta de comunidade está associada à luta pela cidadania. A diferença é que hoje ela não ocorre só no espaço real... ela existe também na esfera dos símbolos, dos imaginários, em suma, na esfera do ciberespaço. Na medida em que o assistente social crítico sempre buscou amenizar as diferenças sociais, lutando por um mundo mais justo e solidário, está claro que este profissional tem um papel fundamental na sociedade atual. Ele já acreditava em compartilhar antes mesmo das comunidades virtuais de MP 3 e criticava os excessos das elites antes do processo de globalização e concentração de capital em escala mundial.
Certamente não cabe ser do contra simplesmente. Não é possível usar os mesmos conceitos e estratégias de lutas do século XIX. Isso não significa abandonar as idéias de partidos e sindicatos, mas sim de dar um novo sentido a esta luta, levando em consideração as relações democráticas em todos os níveis. Não dá para fingir que não houve o movimento feminista, nem que a luta seria simplesmente entre dois setores (ou duas classes). Trata-se de pensar as relações políticas percebendo o ponto de vista da própria condição humana, em sua complexidade, e se for considerado especificamente o indivíduo, levar em consideração as múltiplas relações em que ele se vê inserido.
Nesta perspectiva, o assistente social, como todo profissional, deve pensar a sua própria condição como uma totalidade. O aspecto profissional não está dissociado do prazer pessoal. Como diz Domenico de Masi, numa sociedade pós-industrial, não faz mais sentido separar trabalho, estudo e prazer. Portanto, cada profissional só será capaz de contribuir efetivamente para a melhoria da comunidade, na medida em que ele perceba que ele faz parte dela, ou seja, a sua felicidade está ligada, depende e influencia o comportamento do outro. Não existe uma linha divisória entre o pessoal e o social. É tudo a mesma coisa. Estes níveis fazem partem da mesma totalidade, que no indivíduo (e fora dele) se coloca de maneira complexa, contraditória, múltipla. Não existe o caminho ou a solução, na verdade, seria mais correto levar em consideração a perspectiva de que os indivíduos fazem a sua própria história e, desta maneira, não se pode determinar o que será o futuro. Aliás, o futuro é só uma idéia, o que importa de fato é o fazer-se no cotidiano, é o viver agora, mas não de maneira individualista ou inconseqüente, mas, ao contrário, trata-se de perceber que o bem da comunidade está associado diretamente a sua própria felicidade pessoal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLEMAN, Daniel. Working Emocional Intelligence. New York: Bantam Books, 1998.
LÉVI, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34, 1996.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Cultrix, 1994.
MASI, Domenico de. Desenvolvimento sem trabalho. 4. ed., São Paulo: Esfera, 1999.
STEPHENS, Marks. Future business. PC Pro, London, (70): 254-259, august 2000.
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2. A ESG E O GOLPE DE 1964
Discutir o golpe militar brasileiro, significa retomar alguns temas que, atualmente, perderam a dimensão que tinham em 1964, como era o caso da chamada guerra fria – a luta entre o bloco capitalista, liderado pelos Estado Unidos, e o bloco comunista, com a extinta União Soviética a frente. Os governos norte-americano e soviético procuravam influenciar – algumas vezes até com intervenções militares – a política dos outros países, tentando fazer valer, cada um a sua maneira, a ideologia capitalista ou comunista.
O caso brasileiro não pode ser entendido fora deste contexto. O levante militar em 1964 começou em Minas Gerais, com os generais Mourão e Guedes, e contou com o apoio do governador Magalhães Pinto. A imprensa, no Estado, apoiava o discurso dos militares, inclusive antes do próprio golpe. Podemos perceber esta postura no editorial do jornal Estado de Minas, em 18 de Março de 1964:
"Ninguém tem mais o direito de iludir-se a respeito da realidade brasileira. Abrem-se agora apenas dois caminhos ao Brasil: a democracia ou o comunismo."
Não foi por acaso que, alguns dias depois, ocorreria o golpe militar. Analisando esta época, o general Leonidas Pires Gonçalves reconheceu que o principal motivo para fazer o golpe:
"foi a república sindicalista que estava se implantando neste país e a desordem subseqüente. (...) Eles estavam quebrando todas as regras que se podia ter, inclusive nas Forças Armadas."
Os militares viam com suspeitas a atuação do presidente João Goulart. Eles não confiavam em suas intenções políticas e faziam uma avaliação negativa sobre as ações de seu governo – sobretudo quando Goulart apoiava as greves dos trabalhadores e anistiava militares que tentavam romper a hierarquia nas forcas armadas, como foi "o movimento dos sargentos". De fato, os militares tentaram impedir a posse de Goulart ainda em 1961, o que forçou a adoção do parlamentarismo no Brasil e a limitação dos poderes do presidente da república. Em 1964, para os militares, o caso seria mais grave, pois Goulart já havia assumido todos os poderes do presidente num regime presidencialista e agia como um esquerdista. Em resumo, podemos dizer que o rompimento da hierarquia e da disciplina nas Forças Armadas e a possibilidade de mudança do regime foram apresentadas como as causas que legitimariam a ação militar em 1964. De acordo com o Marechal M. Poppe de Figueiredo:
"Chegamos, assim, aos dias recentes de 1964. O regime entrara em franca deterioração. Institucionalizou-se a subversão, uma vez que praticada por ordens partidas do próprio Governo. A corrupção lavrava despudoradamente. Iniciara-se a destruição das Forças Armadas, atingidas nos fundamentos de hierarquia e disciplina. Descambava-se, não se sabe bem, se para um regime socialista ou sindicalista. A Democracia corria grave perigo. Sensível ao clamor nacional, o Poder Militar, uma vez mais, intervém e as Forças Armadas fazem a Revolução de 1964."
O governo poderia ser questionado e mesmo "derrubado" na medida em que ele havia tornado-se uma agente de subversão. Os militares não podiam admitir que o presidente aceitasse a quebra de princípios básicos para as forcas armadas – como: hierarquia e disciplina. Somava-se ainda a intenção de Goulart de criar, no país, "um regime socialista ou sindicalista." Ou seja, o presidente deveria sair não apenas por suas "ações" mas também por suas "intenções". Como seria possível avaliar a verdadeira intenção do presidente da república?
O discurso do marechal torna-se mais problemático quando ele afirma que tudo isso foi necessário para salvar a "democracia" e realizar "Revolução de 1964". Entretanto, os fatos demonstravam o contrário: um presidente eleito democraticamente pela população seria afastado do cargo antes de terminar o seu mandato, porque uma pequena parcela do povo acreditava que ele iria criar um regime socialista no Brasil. Salvar a democracia? O que aconteceu de março de 1964 foi o oposto: o país entrou em uma ditadura – que cassou lideranças, fechou o congresso nacional, suspendeu o direito de habeas corpus, aprovou o Ato Institucional nº 14, que estabelecia a pena de morte, a prisão perpétua e o banimento - que durou até 1985. A estratégia dos atos institucionais (AIs) aparecia como uma forma de dizer que os militares respeitavam a constituição (de 1946?), que, portanto, seriam democráticos, e que os AIs eram apenas algumas medidas para legitimar a revolução.
Estes fatores seriam suficientes para explicar o golpe militar? Qual foi a influência da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) neste processo? Para entender a DSN, Eliézer Rizzo de Oliveira recua até a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Ele está correto. Primeiro, por que foi com esta guerra que o Brasil foi "obrigado" a definir-se internacionamente pró-Estados Unidos, entrando assim no seu campo de influência (tanto militar como econômica). Em segundo lugar, apesar das tentativas de se fazer da atuação da Força Expedicionária Brasileira (PEB) na Itália motivo de orgulho nacional, sabemos que entre os próprios militares se reconhecia as contradições e os problemas que os brasileiros enfrentaram na guerra. Em resumo, eles estavam mal preparados. Apesar das divergências de análises, neste ponto, pelo menos, estavam de acordo tanto a versão oficial da FEB – a do Marechal Mascarenhas - como a dos comandados:
- Marechal Mascarenhas: "Os três primeiros escalões de embarque integrantes da 1a D. I. chegaram a Itália com um treinamento incompleto e inadequado, e os dois últimos (4o e 5o escalões) partiram do Brasil praticamente sem instrução."
- Oficiais: "A instrução do 6o R.I., desde que nele fomos incluídos até a organização da Força Expedicionária Brasileira, sempre se calcou nos diversos regulamentos do Exército Brasileiro já por demais antigos, tendo-se em vista a evolução dos princípios táticos e estratégicos e dos armamentos usados na guerra que se desenrolava na Europa, desde 1939. Assim sendo, o Regimento começou a aprender a guerra moderna somente quando desembarcou na Itália e 90 % de seu adestramento foi feito na própria linha de frente, em combate com um inimigo experimentado, com sacrifício de vidas preciosas."
Mal preparada e desorganizada, principalmente se comparada com os militares norte-americanos, a FEB mostrou mais falhas e problemas do que pontos positivos:
"Muitos oficiais da FEB regressaram ao Brasil convictos da necessidade de acelerar o desenvolvimento econômico. Do ponto de vista militar, significaria promover o desenvolvimento da economia - abrindo-a inteiramente ao capital estrangeiro, se necessário - como condição para o desenvolvimento do próprio aparelho militar com vistas ao papel que o Brasil deveria desempenhar na defesa hemisférica. Nem todos oficiais pensavam do mesmo modo e houve mesmo um forte movimento entre eles, com base numa sólida convicção política de que o desenvolvimento nacional poderia dar-se em padrões nacionalistas. Esta polêmica ganhou um espaço político nacional: no caso do petróleo, opôs o General Juarez Távora aos Generais Horta Barbosa e Estillac Leal. O primeiro, ligado ao grupo criador da ESG; os últimos, principais líderes da corrente nacionalista que dirigia o Clube Militar."
Essa polêmica era reflexo do que ocorria na sociedade brasileira. Havia até o golpe de 1964, dois projetos distintos de desenvolvimento para o Brasil: um que abria o país ao capital estrangeiro e outro com uma ênfase mais nacionalista. O golpe militar resolveu essa polêmica pela direita, adotando, portanto, um modelo de crescimento baseado no capital multinacional. Para se chegar neste ponto, a criação da Escola Superior de Guerra (ESG) foi fundamental, pois a base do discurso anticomunista estava na ideologia de segurança nacional. Assim, a criação da ESG deve ser entendida:
"enquanto instrumento de relação orgânica entre setores militares e grupos ou setores das classes dominantes, entre grupos militares e outros setores do aparelho de Estado (magistrados, políticos, educadores, embaixadores – numa dimensão política e burocrático-administrativa), com o objetivo de promover um determinado tipo de desenvolvimento econômico (de tipo capitalista), dirigido por um grupo específico (as elites) e dotado de una ideologia (ideologia de segurança nacional) e de uma opção estratégica (o Mundo Ocidental), sob a hegemonia dos Estados Unidos."
Certamente um dos elementos mais importantes da ideologia de segurança nacional foi a ampliação do conceito de guerra, ou seja, além do inimigo externo, havia também a guerra interna. De acordo com o Marechal M. Poppe de Figueiredo:
"A necessidade de combater a ambos os inimigos, o interno e o externo para que se realizassem os destinos da nacionalidade, fez com que a expresso 'defesa nacional', defesa do território contra o que se referia a agressão militar, era pois de natureza estritamente militar. (...) Transformou-se em 'Segurança Nacional', definida como a garantia de conquista e manutenção dos objetivos nacionais - assim entendidos os interesses e aspirações sedimentadas no espírito da nacionalidade - a despeito de ações contrárias ou antagonismo, de qualquer natureza, vindos do território nacional ou de fora dele."
Um dos articuladores deste discurso - e responsável também pela criação da ESG - foi Golbery do Couto e Silva. Para ele, o conceito de guerra havia mudado:
"De guerra estritamente militar passou ela, assim, a guerra total, tanto econômica e financeira e política e psicológica e científica como guerra de exércitos, esquadras e aviações; de guerra total a guerra global."
Em outras palavras, admitir uma guerra global, era admitir uma guerra interna e uma guerra externa. Isso seria possível com um inimigo que estava em todo lugar – tanto dentro como fora do Brasil: o comunista. Exatamente para combater esse inimigo, as forças armadas deixariam a sua função - defender o país de um inimigo externo - e passariam a se envolver na política nacional, assumindo os postos de principais mandatários da nação. Ou seja, entre 1964 e 1985, para ser presidente da república era necessário ser um general do exército brasileiro.
O que serviu de eixo teórico para a criação da ESG – o anticomunismo -, serviu também como o principal motivo para justificar o golpe de 1964. A retórica de revolução e democracia, contudo, não se sustentou diante das práticas autoritárias do regime que durante 21 anos privou os brasileiros dos direitos de exercer a verdadeira cidadania num governo republicano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Maria Celina de; SOARES, Gláucio A. D. e CASTRO, Celso (org.) Visões do Golpe: a memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
BRANCO, Humberto A. Castello e outros. A Revolução de 31 de março: 2o aniversário. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1966.
FIGUEIREDO, Marechal M. Poppe de. A Revolução de 1964: um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970.
MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas. A F. E. B. Pelo seu comandante. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1947.
MORAIS, Berta e outros. Depoimento de oficiais da reserva sobre a F. E. B. São Paulo: s/e, 1950.
OLIVEIRA, Eliéser Rizzo. A Doutrina de Segurança Nacional: pensamento político e projeto estratégico. In.: Militares: pensamento e ação política. Campinas: Papirus, 1987.
SILVA, Golbery Couto e. Conjuntura política nacional, o poder executivo & geopolítica no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1981.
SILVA, José Wilson da. O reacionarismo militar na Terra de Santa Cruz. Porto Alegre: Sulina, 1989.
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3. GOVERNO RONDON PACHECO: POLÍTICA E INDUSTRIALIZAÇÃO EM MINAS GERAIS
Rondon Pacheco foi indicado para ser governador de Minas Gerais em 1971, durante o regime militar (1964-1985), quando o presidente da república era o general Médici, que se orgulhava de ser um seguidor do movimento de 64, que, na sua opinião, realizou os desejos da população brasileira do período:
"As instituições democráticas não foram assaltadas pelos militares, mas, de fato, foram sustentadas pelos mesmos, na hora em que os próprios homens que ocupavam o Poder Nacional iniciaram a destruição dos mais altos valores da nacionalidade. Essa é a verdade revolucionária que precisa ser compreendida, e de que não aceito e nem aceitarei contestação."
Essa última frase de Médici, aliás, demonstrava não apenas o caráter autoritário do seu discurso como seria a marca registrada do seu governo, o mais autoritário dos cinco generais presidentes. Provavelmente o sucesso de sua política econômica tenha dado sustentação aos seus atos ditatoriais. Nesta época, o país chegou a obter um PIB acima de 10 % ao ano. Foi o chamado período do "Milagre Brasileiro", com a hegemonia do discurso dos tecnocratas e o esvaziamento da ação dos políticos e das instituições democráticas – como o próprio fechamento do Congresso Nacional. Foi neste contexto que Rondon Pacheco foi indicado como governador de Minas Gerais. Além de ter sido o presidente nacional da ARENA – o partido do governo -, Pacheco foi um dos ministros favoráveis na aprovação do Ato Institucional n. 5. Certamente, com essas credenciais, ele havia se tornado um político de confiança dos militares.
Diante da realidade ditada pelo governo Médici, Rondon Pacheco adotou como o eixo de sua administração o discurso do desenvolvimento. O próprio governador fazia questão de ressaltar este ponto na campanha da ARENA mineira para as eleições de 1970:
"A nova arrancada do desenvolvimento e do trabalho não representa a minha promessa, mas o meu compromisso. Se esta é a aspiração do povo, se é este o nosso compromisso, se é este o programa da Arena, eu peço ao povo que vote com os candidatos da Arena. Todos juntos faremos uma pirâmide, que vai desde os municípios até o Presidente Médici , em função do programa da revolução de 64, que é o desenvolvimento integrado pela justiça social."
Havia, portanto, uma preocupação de Rondon Pacheco de colocar Minas Gerais caminhando na mesma direção do governo federal. Neste sentido, o governador mineiro procurou apoiar também a retórica da segurança nacional encaminhada pelos militares, afinal, de acordo com o seu discurso: "o desenvolvimento de Minas é hoje uma exigência da própria segurança nacional." Não importava, portanto, se foi em nome desta "segurança" que se criou o AI-5, dando poderes especiais ao governo para implantar efetivamente no Brasil aquilo que Jacob Gorender chamou de "terrorismo de Estado" (torturas, mortes, enfim, desrespeito completo aos direitos humanos).
No que dizia respeito ao crescimento do Estado, a temática fundamental do governo Rondon Pacheco foi a industrialização. Aliás, esta era uma reivindicação antiga dos mineiros, que desde o início deste século, tentavam tirar Minas Gerais da sua condição de atraso em relação ao desenvolvimento industrial de São Paulo e do Rio de Janeiro. Para tanto, ao longo dos anos tentou-se criar uma infra-estrutura para a industrialização do Estado, através do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, do Plano de Eletrificação, da criação da CEMIG (l951) e da USIMINAS (l956) e da construção das hidrelétricas Furnas e Três Marias. A partir da década de 60 foi criado o Banco de Desenvolvimento em Minas Gerais (BDMG), o Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI) - e a Companhia de Distritos Industriais (CDI). Para Clélio Campolina Diniz, com estas condições "estava (...) amadurecido o arranjo institucional de apoio à industrialização, sustentado diretamente no tripé BDMG-INDI-CDI e indiretamente na Secretaria da Fazenda e no sistema de incentivos fiscais."
A implantação de um novo modelo econômico no país - o chamado "Milagre Brasileiro" - contribuiu também para o fortalecimento da economia mineira, quando "ao esgotar a capacidade ociosa e atingir o limite técnico e econômico para a expansão das indústrias existentes, ensejou a necessidade de um novo pacote de projetos. Para esse novo pacote de projetos, ocorreu uma tendência à desconcentração espacial de São Paulo, na qual Minas Gerais se apresentava como localização privilegiada."
Assim, Minas Gerais viveu seu período de grande crescimento econômico, a partir de 1971, com o governo Rondon Pacheco. Tratou-se da chamada "Nova Industrialização Mineira". Os dados comprovavam este avanço: "uma taxa média de crescimento de 16,4% ao ano no período de 1970-77, contra 6,9% ao ano na década de 1960."
Esta expansão industrial foi baseada nas indústrias de bens de produção ocorrendo uma modernização das indústrias mineiras no sentido da oligopolização e de uma maior concentração de capital. Esta modernização permitiu as indústriasdo Estado concorrerem com as de outras regiões em nível de igualdade.
O projeto da nova industrialização mineira levantava uma questão polêmica - a descentralização econômica:
"Inicialmente a CDI, ao ser criada, propunha um programa de desconcentração industrial, tendo construído distritos industriais em Montes Claros, Pirapora, Uberlândia, Uberaba, Juiz de Fora. Posteriormente a pressão dos interesses econômicos, levaram a CDI à implantação de uma série de distritos industriais na periferia de Belo Horizonte: Betim, Nova Lima, Vespasiana, Santa Luzia."
Clélio Campolina concluiu, portanto, que este projeto, de fato, "desenvolveu sua estratégia de apoio irrestrito ao capital estrangeiro e de concentração em torno de Belo Horizonte." Essa também foi a conclusão de Tarcízio R. Quirino, Laura de Michelis e José M. de Medeiros:
"A região de Belo Horizonte continua aumentando a concentração da industrialização, não só porque recebe a maior proporção relativa de todos os ramos dinâmicos, mas também porque concentra a maioria dos projetos, tanto de expansão como de implantação."
O porta-voz da expansão industrial não foi o empresariado mineiro. Os agentes fundamentais neste processo foram o próprio Estado e o capital internacional. Neste sentido, podemos citar a atuação de Rondon Pacheco, que envolveu-se pessoalmente no processo que garantiria a vinda da FIAT para o Estado:
"Antes da minha posse, estive em Turim mantendo contatos com a direção da Fiat, objetivando a instalação de suas fábricas de automóveis, tratores e autopeças em Minas."
Em suma, os políticos mineiros estavam afinados com o regime militar no que dizia respeito à problemática do desenvolvimento. Outro ponto em comum entre eles era a questão da união. Se no nível federal pregava-se a união nacional, no nível estadual a união dos mineiros era colocada como fundamental para o crescimento do Estado (e também da nação). Nas palavras do governador Rondon Pacheco:
"Quando o Brasil dá uma decisiva arrancada para o desenvolvimento e a integração, sigamos as mesmas aspirações. Ofereçamos à Pátria o exemplo diuturno da vontade de construirmos Minas Gerais como fundamento e parte do Brasil grande, integrada e atuante no curso do seu destino histórico."
No discurso do governador, Minas Gerais aparecia como um exemplo para o resto da nação. A idéia do Brasil grande – tão comum entre os porta-vozes do regime militar – também era destaque em sua fala. Entretanto, desenvolvimento e união eram somente conceitos utilizados nos discursos oficiais. As condições sociais, nesta fase, não tinham melhorado:
"A relação entre o crescimento da produtividade e o salário médio indica que os ganhos de produtividade foram fundamentalmente apropriados pelo capital. Em Minas Gerais, enquanto a produtividade cresceu de 239% no período de l959/70, o salário médio cresceu de l93%, o que confirma nossa afirmação. Entre 1970 e 1974 a produtividade aumentou de 164% e os salários médios de 116%. O resultado foi que a participação dos salários do pessoal ligado à produção na apropriação do produto industrial caiu de 20,5% em 1959 para 16,6 em 1970 e 11,7 em 1974."
Em suma, este modelo de industrialização baseava-se na concentração de capital, ou seja, ao mesmo tempo que ocorria o crescimento econômico, havia uma redução de salários. Os governos federal e estadual procuravam garantir esse quadro com o apoio dos políticos e as vitórias nas eleições, como ocorreu em 1970:
"O massacre eleitoral do MDB - uma derrota bem maior do que a das eleições legislativas de l966 - surpreendeu não somente o partido da oposição, como também a ARENA e o governo, para quem a existência de uma oposição demasiadamente fraca não era de modo algum conveniente."
Em outras palavras, era justamente a oposição que garantia o caráter "democrático" do regime, como reconhecia o presidente da Assembléia Legislativa Mineira, o arenista Homero Santos: "o bipartidarismo é necessário ao funcionamento do legislativo, pois não se pode entender o regime democrático sem a existência de oposição."
Além do massacre do MDB, outro ponto que chamou a atenção nas eleições de l970 foi a quantidade de votos nulos e em branco (Senado: 27,7%; Câmara Federal: 30,3 % e Assembléias Estaduais: 26,8%). Aliás, isso levou a esquerda armada a cometer mais um erro de interpretação de conjuntura, na medida em que ela via esse "acontecimento como vitória dela e evidência do isolamento político-social da ditadura militar."
Nas eleições de 1970, o MDB mineiro que sempre teve uma tendência moderada, após o AI-5, aumentou ainda mais o seu apoio e/ou adesão ao regime militar, comprometendo, inclusive, a sua própria reorganização partidária:
"As dificuldades que o MDB enfrenta para atender aos prazos fixados pelo Ato Complementar no. 54 - reconhecidas pelo próprio líder Sílvio Menicucci - poderão provocar uma debandada no partido em Minas e, ontem, na Assembléia, já se informava que vários deputados oposicionistas estão na iminência de ingressar na Arena."
Com o AI-5, portanto, os emedebistas mineiros defendiam que a postura do partido era de fiscalização, "mas de forma construtiva" e contra qualquer forma de "revanchismo e contestação e sectarismo", chegando inclusive, a elogiar as medidas do governo e da "revolução" de 64.
Esta postura do MDB mineiro era questionada pela imprensa:
"a dura e melancólica verdade é que o MDB de Minas, há muito, deixou de lado as suas características oposicionistas. Sua bancada na Assembléia Legislativa está dividida ao meio. Uns aderem no âmbito estadual, outros na esfera federal, tirando do partido toda e qualquer mensagem ao seu possível eleitorado, ao eleitorado que discorda da situação dominante."
Alguns fatores influíram para que o MDB mineiro tivesse esta postura política. A nível nacional, o partido havia mudado sua linha política de radicalização até 1968, optando pela moderação, o que fortalecia a tendência adesista dos emedebistas mineiros. Além disto, a conjuntura política pós-AI-5, com as inúmeras cassações e as dificuldades de reorganização partidária, minava a possibilidade de resistência do partido. Para Carlos Castello Branco:
"Quanto ao MDB, são conhecidas suas limitações decorrentes das condições gerais do país aos seus candidatos parece ser facultada apenas uma afirmação de princípio democrático em termos genéricos e a divulgação de críticas de natureza administrativa nas esferas regionais e municipais. Alguns dirigentes da oposição estão conformados com o quadro que lhes permite pedir votos sem correr riscos. Outros, no entanto, parecem estar no pressuposto de que os eleitores os entenderão e saberão perdoar-lhes, em face das circunstâncias, o mau jeito do discurso peco e a pouca energia de reivindicação. Afinal sobre eles, como sobre todos nós, pesa a ameaça do Ato Institucional no. 5."
Os eleitores, no entanto, não perdoaram a moderação e a omissão dos candidatos emedebistas. O partido sofreu, como já foi dito, uma derrota maior que a das eleições de 1966. "O MDB, que fora punido pelo regime por ter assumido uma posição mais radical na crise política de 1968, acabou também por ser punido pelo eleitorado em 1970 por ter ido longe demais na sua atitude de moderação."
Para justificar a derrota nas eleições de 1970, o deputado Nilson Gontijo, vice-líder da bancada do MDB na Assembléia Legislativa, enumerou alguns pontos, como:
"a participação do governador eleito Rondon Pacheco na campanha eleitoral do partido do governo (...) a pobreza financeira dos candidatos [emedebistas], (...) máquina do governo trabalhando a favor dos candidatos arenistas, (...) mau aproveitamento dos horários cedidos pelo TRE nas rádios e televisões."
Ou seja, o principal ponto na derrota das eleições - o excesso de moderação do partido oposicionista - nem era citado na avaliação do MDB mineiro, que procurava nas ações do outro - ARENA /governo - os motivos para o seu próprio fracasso. Em termos nacionais, as lideranças tentaram realizar algumas mudanças:
"No período de 1971 a 1974, o MDB iria tratar de mudar sua orientação, no sentido de tentar construir uma imagem oposicionista mais favorável junto ao eleitorado. (...) O primeiro sinal de mudança teve a ver com a cúpula do partido: os líderes não eleitos em 1970 renunciavam a seus cargos na Executiva Nacional. Conseqüentemente, a presidência nacional foi para o vice-presidente, deputado Ulisses Guimarães, político paulista do ex-PSD, cujo talento político seria posteriormente um fator de revitalização do MDB. Talvez o fato mais importante tenha sido a indicação do deputado Pedroso Horta para líder da oposição na Câmara Federal - uma clara indicação do reconhecimento do fracasso da linha excessivamente moderada do partido, pois este era um dos poucos emedebistas que criticara vigorosamente a regime em 1970."
Entretanto, a mudança nas lideranças emedebistas não significou o fim da divisão do partido, como ficou claro "na crise (...) provocada pela entrevista do deputado Pedroso Horta" em fevereiro de 1971. Nesta entrevista, ele "não apenas exigia a revogação do AI-5 e o estabelecimento da democracia, mas também tocava em um ponto bastante sensível do regime: denunciava o uso de tortura em prisioneiros políticos, mencionando casos específicos como o assassinato por envenenamento de um líder sindical no Hospital Militar de São Paulo, além do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, que fora preso no Rio de Janeiro."
Em Minas Gerais, a oposição continuava na linha moderada. Tancredo Neves esclarecia a postura dos mineiros:
"A posição a ser adotada pelo MDB (...) segue a linha do pronunciamento do líder oposicionista Pedroso Horta. Porém, a oposição atuará dentro de seu papel com serenidade, tranqüila e atuante, visando assim a conscientização nacional."
No entanto, a postura de moderação do MDB mineiro acabava, na prática, divergindo da linha política adotada pelas novas lideranças emedebistas no plano nacional. Não foi por acaso, aliás, que na reunião do partido em Recife, "foi rechaçada pela maioria a idéia lançada pelo presidente do MDB mineiro, deputado Tancredo Neves, (...) de uma maior aproximação com o governo federal."
Apesar do MDB mineiro fazer oposição ao governador Rondon Pacheco, em alguns momentos, quando se tratava dos "interesses de Minas Gerais", o partido apoiava as iniciativas do governador, como foi o caso da Açominas.
E quanto às eleições de 1972 e 1974? Se no primeiro caso confirmou-se a vitória do governo, no segundo, veio a surpresa com a vitória da oposição. O que mudou? A vitória do partido governista nas eleições municipais de 1972 não representou nenhuma novidade, afinal, este tipo de eleição favorecia a ARENA, pois havia uma "situação de dependência dos governos municipais em relação aos estaduais - há tanto tempo arraigada no sistema político brasileiro e agravada em l964. (...) Deve-se lembrar ainda que o clima político repressivo existente nas eleições de l970 repetiu-se em l972. Em agosto de l972, o líder da ARENA foi à tribuna da Câmara Federal para denunciar o envolvimento do MDB com o Partido Comunista Brasileiro (PCB)." Este recurso, aliás, era sempre resgatado em épocas de eleição ou para justificar as cassações.
Em Minas Gerais, a postura arenista não havia mudado: se de um lado reafirmava-se o apoio ao regime militar e ao movimento de l964, por outro, as divergências internas continuavam existindo no partido, apesar do governador Rondon Pacheco tentar negá-las em nome da unidade partidária:
"As antigas legendas partidárias são fantasmas. Estão por aí, mas tendem a desaparecer. O meu governo está com base na Arena, com espírito de integração, para que possamos influir nos acontecimentos."
Este discurso de unidade não era uma característica exclusiva da ARENA mineira, mas, ao contrário, representava uma preocupação do partido a nível nacional. Aliás, esta temática esteve presente no projeto governista para as eleições de 1974, quando o papel de articulador coube mais uma vez ao presidente nacional da ARENA, na época, Petrônio Portela. Depois de vários estudos e articulações, faltando somente duas semanas para as eleições, "ele foi ao palácio do governo relatar a situação do partido em cada Estado, e para assegurar ao presidente Geisel que não haveria qualquer derrota crucial nas eleições."
Petrônio Portella estava errado. Para surpresa dos arenistas (e até dos emedebistas), a vitória das eleições de l974 foi do partido da oposição, sobretudo em relação ao Senado.
Quanto a atuação do MDB, o que mudou de 1972 para 1974? Em relação às eleições de 1972, ao mesmo tempo que o MDB afirmava "que o país vai mal e que o eleitorado, querendo mudar para melhor, deve então votar na oposição," ele, para não perder votos, dizia que também era "partido de revolução", ou seja, de acordo com o deputado Silvio de Abreu:
"a Arena é o partido da revolução tanto quanto MDB. Ambos nasceram juntos, são fruto do mesmo ato revolucionário. Os dois são da revolução e servem à revolução, hoje irreversível, aceitam a institucionalidade. (...) A balela de que a Arena é o partido da revolução e que o governo nada fará em benefício dos municípios que elegerem prefeitos do MDB precisa ficar desmascarada de vez."
Como vimos, a repressão que existia nas eleições de 1970 se repetiu em 1972, com os arenistas insistindo que a vitória da oposição significaria perda aos municípios e alertando, ainda, para um suposto envolvimento do PCB com o partido oposicionista. Havia também o uso da máquina governamental nas campanhas dos candidatos situacionistas.
Todo este quadro, portanto, confirmou mais uma derrota do MDB nas eleições brasileiras. A situação política mudaria somente nas eleições de 1974, e, para tanto, o lançamento da "candidatura" de Ulysses Guimarães para a presidência da república, foi um passo muito importante. De acordo com Fernando Henrique Cardoso, "a anticampanha do anticandidato à Presidência e a luta anterior de Pedroso Horta foram importantes para permitir o ressurgimento da oposição partidária em 1974."
A campanha de Ulysses Guimarães "serviria não só para denunciar a falsidade da ‘eleição’ do Presidente da República, mas também para sensibilizar o eleitorado, lançando assim sementes que poderiam frutificar na campanha para as eleições legislativas do ano seguinte." No entanto, esta campanha não conseguiu unir as facções emedebistas - autênticas e moderadas - , como ficou claro na própria escolha do anticandidato à presidência da repúblicaeleição, quando, além dos votos "obtidos por Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho,(...) foram registrados 21 votos em branco, oriundos do grupo dissidente do MDB."
Em relação ao processo de escolha do presidente da república,a vitória, claro, ficou com o candidato da situação, o general Geisel, com 400 votos, enquanto que Ulysses Guimarães obteve somente 76 votos. Em Minas Gerais, o MDB também enfrentava problemas com a divisão do partido entre moderados e autênticos além de atritos entre os deputados oposicionistas e a direção regional do partido, o que, aliás, era negado pelo líder emedebista Tarcísio Delgado, que tentava mostrar uma imagem de união e de apoio à candidatura Ulysses Guimarães.
Analisando a relação entre a anticandidatura de Ulysses Guimarães e as eleições de 1974, Fernando Henrique Cardoso, em 1978, afirmou:
"Nas eleições de 1974, o Governo Geisel garantiu certa margem de liberdade na campanha, especialmente através da imprensa, rádio e TV. Graças a isso, a resistência da anticandidatura de 1973 - simbólica - pôde aumentar durante a campanha de 1974, quando o eleitorado viu, pela primeira vez depois de 1968, líderes que falaram na TV sobre os temas que preocupavam nas conversas de botequim, nas filas, nas feiras e nas famílias: custo de vida, educação para os filhos, saúde, falta de boa moradia, baixo salário e necessidade de menos controle político e da volta ao Estado de Direito."
Esta liberdade influiria na vitória emedebista nas eleições de 1974, na medida em que, "em um clima político menos tenso, o MDB conseguiu expressar, e assim canalizar, a insatisfação de amplos setores do eleitorado." Diante disto, para se garantir, o governo tratou de mudar mais uma vez as regras do jogo, criando a Lei Falcão, limitando, assim, o espaço de atuação da oposição.
Em Minas Gerais, as eleições de 1974 significaram não somente um crescimento do MDB, como também a confirmação de uma nova liderança: Itamar Franco. Ele, apesar de desacreditado - o próprio Tancredo Neves abriu mão de sua candidatura, pois "achava arriscado concorrer ao Senado quando havia uma só vaga em disputa" -, tornou-se senador vencendo o candidato da ARENA com uma margem de 170.000 votos. Itamar integrou a corrente dos ‘autênticos’ do MDB e aprofundou as suas divergências com o ‘moderado’ Tancredo Neves."
Durante o período em que Minas Gerais foi governada por Rondon Pacheco, uma temática importante que também agitou o debate político foi se o governo estadual deveria ter uma linha mais técnica ou mais política. De fato, Rondon Pacheco sofreu críticas de "diversos políticos mineiros, que o acusaram de fazer uma administração calcada numa perspectiva acentuadamente técnica em detrimento das relações políticas tradicionais no Estado." Apesar da postura do governador estar de acordo com a orientação do governo Médici - aliança entre tecnocratas e militares da linha dura contra os velhos métodos de se fazer política - e ter o apoio dos empresários, em Minas Gerais muitos políticos resistiram em aceitar esta nova realidade. Durante o seu governo, portanto, houve um embate sobre qual modelo político deveria ser adotado: um com ênfase no aspecto técnico, ou outro, no qual predominava o aspecto político. Para alguns políticos, de fato Rondon Pacheco adotava um novo estilo na política mineira em nome do desenvolvimento do Estado. Este estilo, apesar das críticas, foi defendido por políticos tanto da ARENA como do MDB, como demonstram, respectivamente, os depoimentos abaixo:
- Francelino Pereira: "a insistência e a teimosia de colocação de ambições pessoais e de velhas práticas demagógicas acima das transformações que a revolução vem consolidando em todo o País, estão prejudicando, interna e externamente, o processo de mudança que o governador Rondon Pacheco está implantando em Minas."
- Dalton Canabrava: "É melancólica a crise sem glória que envolve, de um lado, o governador, e de outro, a Arena. Os mesmos que na campanha eleitoral apareceram ao lado do governador, sorridentes, hoje tentam fragmentar a imagem monolítica que tanto se queria projetar para a opinião pública. Os arenistas (...) em vez de se comportarem assim porque discordam do programa que vem sendo executado pela Secretaria da Fazenda ou porque estão contrários às linhas básicas do Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, agem desta maneira porque o governador Rondon Pacheco, como delegado da revolução em nosso Estado, não admite os vícios do passado e quer colocar nas cabeças dos deputados da Arena que os tempos mudaram, que a revolução, como forma de sobrevivência histórica, tem de combater os métodos clássicos de fazer política, tais como a remoção de professoras apenas porque são filiadas a uma ou outra facção do partido e a nomeação de delegados de polícia orientados para hostilizar os seus adversários."
Apesar de adotar um novo estilo na política mineira, apoiando-se em uma administração mais técnica, Rondon Pacheco, não abandonou o discurso tradicionalista, que buscava no passado elementos para justificar a ação do presente. Assim, Rondon Pacheco também utilizou o mito de Tiradentes tanto para justificar o desenvolvimento - "Tiradentes é um símbolo do idealista autêntico, que sonhou com um País independente e progressista" - como a questão da unidade nacional - "o sentimento nacional da Inconfidência Mineira passa a representar hoje e cada vez mais, um marco definidor da ascensão do Brasil dentro da unidade e da grandeza de seus destinos considerados como objetivos e permanentes. Pois o 21 de abril (...) precede e prenuncia o 7 de setembro."
Além de usar o mito de Tiradentes, havia outro ponto que identificava Rondon Pacheco com a tradicional política mineira: a discrição, o político que falava pouco (esta característica foi elogiada também na escolha do governador seguinte, Aureliano Chaves). Contudo, estes aspectos não são suficientes para colocar o governo Rondon Pacheco no mesmo estilo das administrações anteriores. Ao contrário, a marca de seu governo que passará para os livros de história será aquela associada a nova industrialização mineira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARDOSO, Fernando Henrique. Democracia para mudar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
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CHAGAS, Carmo. Política, arte de Minas. São Paulo: Carthago A. Fonte, 1994.
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GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. 4. ed., São Paulo: Ática, 1990.
HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence (org.) A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KINZO, Maria D’Alva G. Oposição e autoritarismo: a gênese e a trajetória do MDB. São Paulo: Vértice, 1988.
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QUIRINO, Tarcízio R.; MICHELIS, Laura de e MEDEIROS, José M. de. A nova industrialização mineira: primeiros resultados. Fundação JP, Belo Horizonte, 7 (11): 2-11, nov. 1977, p.11.
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4. NOÇÕES BÁSICAS PARA A ELABORAÇÃO DE TRABALHOS NA UNIVERSIDADE
A primeira pergunta que surge sobre a aplicação das normas científicas é: padronizar para quê? Fala-se muito no rigor das normas da ABNT... e mais: sempre aparecem comentários afirmando que as normas mudaram, que existe uma "nova ABNT"... Isso sem falar nas diferenças entre as propostas dos livros de metodologia no Brasil.
Qual seria, então, o caminho a seguir? Não vamos inventar a roda... Existe um padrão internacional que é seguido, com certa flexibilidade por autores que publicam em inglês, francês, alemão e outras línguas. As diferenças são mínimas. Todos os livros apresentam bibliografias, notas de rodapé, citações. Ainda são usados termos considerados universais, como Idem, Ibidem, Op. Cit., entre outros.
Apesar da forma ser respeitada, que importa, nestes casos, é o conteúdo do trabalho. Nas livrarias destes países – como Inglaterra, França e Alemanha - não é comum encontrar livros de metodologia. Uma exceção é o "Como se escreve uma tese"de Umberto Eco, que ele fez pensando especificamente nas dificuldades dos estudantes italianos.
No Brasil, mesmo em defesas de dissertações ou de teses, ainda se gasta muito tempo discutindo a apresentação gráficado trabalho e as chamadas normas científicas. Algo que deveria servir como padrãotornou-se objeto de polêmicas. Muitos professores confundem as técnicas e chegam a "inventar" (indevidamente) alguns tipos de trabalhos (podendo pedir, por exemplo, uma análise temáticacom a "conclusão" do aluno - o que está incorreto, pois esta técnica trata somente da compreensão do texto, a interpretaçãoou crítica do aluno viria em outro tipo de trabalho). Do ponto de vista dos alunos, o caso é ainda mais grave. Para os estudantes universitários, fazer trabalhos é copiar as principais partes dos livros. Obviamente, este procedimento é inadequado, sobretudo se pensarmos que existem várias formas de trabalhos científicos.
Quando pensamos no ponto de vista do professor universitário, algumas questões devem ser pensadas:
. O que cobrar do aluno?
. Quando? No 1o e 2o períodos? Do 3o ao 6o períodos? No final do curso?
. Qual é o lugar do aluno? Leitor ou autor?
. Trata-se de um trabalho escrito ou de uma apresentação oral?
Primeiro, devemos lembrar que a melhor forma de organizar os estudos é através de fichas. Seja na graduação ou na pós-graduação, a base metodológica dos trabalhos está na elaboração de dois modelos de fichas: a ficha temáticae aficha bibliográfica. A estrutura destas fichas é simples: no primeiro caso, basta identificar o tema e no corpo da ficha virá todo tipo de informação (de várias fontes) que aborda aquele assunto; no segundo caso, coloca-se a referência bibliográfica e na ficha vem algum tipo de trabalho sobre o livro citado (esquema, resumos, análise textual, análise temática, resenha crítica, etc.).
Antonio Joaquim Severino se refere a estas fichas como ficha de documentação temática e ficha de documentação bibliográfica (ele ainda propõe uma ficha de documentação de autor). Para ele, o estudante universitário deve elaborar três tipos de documentação: a temática (que depende de um plano, quando se estabelecem os temas e os subtemas, como no caso de uma monografia), a bibliográfica (que se refere basicamente ao conteúdo dos livros) e a geral (a sua sugestão é guardar os materiais de fontes perecíveis - recorte de jornais, revistas, fotocópias, etc - em pastas, com os títulos e as devidas referências bibliográficas). Hoje, com o avanço da informática, pode-se tentar organizar toda esta documentação no próprio computador, utilizando técnicas modernas como o scanner e a internet.
Em relação à leitura de textos, são apresentadas três técnicas fundamentais. A análise textualé a fase de "preparação da leitura", quando o aluno vai esclarecer as suas dúvidas, pesquisando informações sobre o autor da obra e os autores citados no texto, vocabulário, doutrinas e fatos históricos, além de fazer um esquema no final do trabalho.
Após esta fase, o aluno parte para a análise temática, quando ele vai identificar o tema, o problema, a tese e a argumentação (raciocínio) do autor. Nesta fase, até para facilitar a compreensão do aluno, uma sugestão seria analisar separadamente estas questões.
A sua interpretação sobre a obra aparece somente na análise interpretativa. Duas etapas caracterizam esta fase: primeiro, o aluno vai comparar a unidade analisada com o pensamento geral do autor. Depois, ele compara esta unidade "com a cultura filosófica em geral." O seu objetivo, com este trabalho, é analisar adequadamente a obra, baseando-se em dois pontos fundamentais: a coerência e a originalidade do autor.
Outra técnica importante é o esquema, que tem como principal função apresentar uma visão global da obra analisada, baseando-se nas principais idéias do autor. A principal diferença do esquema e do resumo, é que este último é formado por parágrafos. Além disto, o resumo é feito com as próprias palavras do aluno. Se ele quiser copiar alguma frase do texto básico, ele deve utilizar aspas. Apesar destas características, que todos os resumos devem ter, podemos ainda analisar algumas diferenças entre eles.
No resumo pedagógico, além da análise das principais idéias do autor, admite-se no final a crítica do aluno. O resumo indicativo é mais sucinto. Em apenas um parágrafo, com frases curtas, indica-se as principais temáticas do texto básico. Já o resumo analítico é mais completo, na medida em que o aluno tem que explicar as idéias mais importantes do autor. No final deste resumo, apresentam-se as palavras-chave. Deve ser lembrado que a crítica do aluno, que não aparece nestes resumos (indicativo e analítico), vai se destacar no resumo crítico. Exatamente por isso, neste último tipo de resumo, "não pode haver citações."
Alguns professores insistem em cobrar resenhas dos alunos de primeiro período. Tecnicamente, essa postura não seria adequada, pois o aluno não teria condições de elaborar um crítica adequada sobre a obra de um autor. A resenha crítica, na verdade, deve ser classificada com uma forma de publicação. É comum encontrarmos em revistas científicas tanto resenhas, como artigos. A estrutura de uma resenha deve vir, no mínimo, com a referência bibliográfica da obra, numa primeira parte, sendo apresentadas as credenciais do autor, a sua conclusão e um resumo do seu livro. Numa segunda parte, viria a crítica do resenhista e, se for o caso, o público que seria indicado para ler tal obra.
Para alunos em fase final do curso de graduação, alguns professores pedem trabalhos na forma de artigos científicos. A atitude é correta, pois serve como um incentivo para que, posteriormente, o aluno se interesse em publicar os seus trabalhos e divulgar as suas idéias. Deve ser lembrado, contudo, que o artigo deve obedecer uma estrutura técnica. Além do título e do nome do autor, no caso o próprio aluno, antes do texto do artigo, devem ser apresentados separadamente a sinopse – o resumo do artigo, algumas vezes também em inglês – e as credenciais do autor.
O corpo do artigo, como em outros trabalhos científicos, deve ser dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Em seguida deve ser apresentada a bibliografia e a relação das fontes. Se houver anexos ou apêndices, eles também devem ser apresentados no final do artigo.
É comum os alunos reclamarem dos seminárioscobrados pelos professores. Eles argumentam que quando o professor utiliza tal técnica, na verdade, ele não quer preparar aula e coloca os alunos para apresentar os textos da disciplina. Isso pode ser verdade caso durante a aula não ocorra nenhum debate e o próprio professor não se posicione sobre a discussão, inclusive corrigindo informações equivocadas. Existem casos ainda mais complicados, quando o professor pede ao aluno para apresentar um tema e o aluno traz um convidado que fala durante todo o tempo, sem a participação efetiva dos alunos ou do próprio professor. Seminário, claro, não é isso.
A estrutura de um seminário em sala de aula deve começar com a fala do professor, que associaria o tema ao conteúdo da disciplina e relacionaria as idéias discutidas na última aula com a sua proposta de debate para aquele dia. Em seguida, os alunos responsáveis pelo seminário fariam a sua apresentação, esclarecendo a dinâmica da atividade e quando seria o melhor momento para a discussão com toda a sala. Após a apresentação, viria o debate com a participação de todos, seguido das considerações finais do grupo que apresentou o seminário. O fechamento caberia ao professor, que analisaria a apresentação, o debate, indicando as falhas e os acertos do dia e antecipando o que ocorreria na próxima aula.
No que diz respeito à pesquisa (mesmo sendo somente bibliográfica), a melhor maneira do aluno apresentar o seu trabalho é adotando o modelo da monografia. Ou seja, no mínimo um trabalho deve ter: capa, página de rosto, sumário, introdução, desenvolvimento (os capítulos), conclusão e bibliografia. O aluno deve redigir o trabalho com as suas próprias palavras. Se ele quiser copiar alguma parte de um livro, ele deve utilizar aspas e citar a fonte (a maneira mais simples, é ele numerar a bibliografia e colocar o número do livro e a página após a citação entre parênteses).
Como vimos, é possível fazer esse trabalho somente com a pesquisa bibliográfica. Em trabalhos que os alunos irão utilizar fontes primárias, seria necessária a elaboração de um projeto de pesquisa. Ele é importante pois serve para o aluno como um mapa para que ele não fique perdido na hora da coleta de dados. Afinal, como ele poderia definir qual informação seria importante e qual seria secundária? Que tipo de fonte ele iria pesquisar? Qual seria a sua metodologia?
O projeto de pesquisa, além da capa, página de rosto, sumário, deve ser elaborado em um texto "corrido", separando cada item, por exemplo, com dois espaços entre as linhas.
A primeira coisa que deve ser definida no projeto é o tema da pesquisa. Trata-se basicamente do assunto do trabalho. Ele pode ser definido com uma ou duas palavras. Ele é diferente do título, que deve ser mais detalhado, dando uma noção do conteúdo do projeto.
Em seguida, sugere-se a delimitação do tema. Em um parágrafo, devem ser explicados os cortes feitos pelo pesquisador, como, por exemplo, restringindo a sua pesquisa a uma cidade ou delimitando a coleta de dados em um período especifico – como o governo Collor, entre 1990 e 1992.
A justificativa é um dos principais pontos do projeto. Trata-se de um texto no qual o pesquisador, com as suas palavras, discorrerá sobre a importância do tema e da pesquisa.
Os objetivos devem vir separados, diferenciando o geral dos específicos. O problema da pesquisa deve vir na forma de pergunta, com pelo menos duas variáveis. A hipótese seria a resposta provisória do problema. Ela pode ser subdividida em hipótese básica e hipóteses secundárias.
Não existe projeto sem metodologia. Aqui o aluno deve explicar como será feita a pesquisa e quais fontes ele pretende utilizar. No embasamento teórico, ele faz um texto explicando os principais conceitos que irão nortear a coleta de dados.
No projeto de pesquisa, poderia, ainda, ser apresentado um cronograma, quando o pesquisador explicaria o que seria feito e quando, e um orçamento, indicando os custos da pesquisa tanto em relação aos materiais usados como quanto a contratação de pessoal.
Poucos apresentam o instrumento de pesquisa. Alguns o confundem com os anexos ou os apêndices. O instrumento de pesquisa é usado quando o aluno deseja mostrar, por exemplo, o modelo de um formulário ou o roteiro de perguntas de uma entrevista.
Os anexos ou apêndices não devem vir no projeto e sim nos trabalhos finais, como as monografias ou relatórios de pesquisa, lembrando que ambos são documentos complementares ao trabalho, sendo que, enquanto o apêndice é um documento elaborado pelo próprio autor da pesquisa, os anexos seriam documentos criados por outros autores.
A última parte do projeto de pesquisa, claro, é a bibliografia. Recomenda-se separar os tipos de fontes usadas na elaboração do projeto, como artigos, livros ou mesmo material coletado na internet.
Um tema que gera certa polêmica é a elaboração de relatórios. Basicamente, podemos sugerir dois tipos de relatórios. Um seria o relatório técnico, aquele que os bolsistas entregam no final do semestre, descrevendo as atividades desenvolvidas no período. Esse modelo é simples: basta dividi-lo em três partes: primeiro, viriam os dados da instituição, do curso e do aluno, em seguida seriam apresentadas, em tópicos, as atividades feitas e, numa terceiro momento, seriam divulgadas as próximas etapas do trabalho. Em anexo viriam os comprovantes das atividades.
Esse tipo de relatório poderia ser utilizado, com algumas alterações, quando o professor pede um relatóriode uma visita técnica, por exemplo. Neste caso, após a apresentação dos dados gerais - instituição, curso e nome do aluno, entre outros – viria a descrição dos fatos mais importantes da visita. Aqui o professor poderia optar entre a apresentação por tópicos ou por parágrafos.
O outro tipo de relatório é o relatório de pesquisa. Trata-se de um trabalho mais elaborado, podendo ser, inclusive, cobrado, como trabalho de conclusão de curso. Esse relatório só pode ser feito depois da elaboração de um projeto e a realização de uma pesquisa tanto com fontes primárias como com fontes secundárias.
A apresentação do trabalho viria com a capa, página de rosto, sinopse e sumário. O corpo do texto começaria com a introdução, quando seriam analisados o tema, os objetivos, os problemas, as hipóteses e a justificativa da pesquisa. Em seguida, separadamente, viria a revisão da bibliografia, a metodologia, e o embasamento teórico. Esses itens, apesar de terem sido utilizados no projeto de pesquisa, podem ser melhorados no relatório.
Após o embasamento teórico viria a apresentação dos dados e sua análise, seguida pela interpretação dos resultados. Nestes casos, se houve uma pesquisa quantitativa, deve-se usar, na apresentação dos dados, gráficos, quadros e tabelas. Recomenda-se que o professor lembre ao aluno que o gráfico não pode ser apresentado sem a análise do estudante, como se fosse uma ilustração. No final do relatório de pesquisa, são apresentadas as conclusões, recomendações e sugestões, apêndices, anexos e bibliografia.
Muitos argumentam que são vários detalhes e que somente os professores de metodologia prestam atenção nestas técnicas. Outros, quando se deparam com qualquer problema na apresentação dos trabalhos, falam para os alunos que eles devem procurar o professor de metodologia, como se esse assunto fosse responsabilidade exclusiva desse profissional. Não é. De nada ainda existir um padrão de normas cientificas se todosos professores não cobrarem dos alunos essas técnicas no cotidiano da sala de aula.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 18. ed., São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1992.
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5. TURISMO, SEXO E NEGÓCIOS
Sex sells. Nenhuma novidade. No Brasil, o que chama atenção é a forma que a profissão assumiu. As "modernas" prostitutas são estudantes universitárias, algumas pertencentes a classe média. Encontram os seus clientes em cafés, boites, shopping centers e utilizam a internet como uma poderosa ferramenta de divulgação de seus trabalhos, através de sites ou comunidades virtuais, como o orkut. O caso Bruna Surfistinha ilustra bem esta realidade. Em suma, ela era uma garota de programa que descrevia os seus trabalhos na internet, no seu blog. Este material tornou-se o conteúdo de um dos livros mais vendidos, chamado "Doce Veneno do Escorpião", publicado pela editora Panda Books. Bruna Surfistinha virou celebridade. Foi capa da revista Época e participou de programas de televisão. A novidade, talvez, seja, como descreveu a revista, a opção pela "profissão mais antiga do mundo" feita por garotas de classe média, que estudam em universidades particulares, vivem em flats e consumem produtos caros.
Uma questão, contudo, deve ser levantada: as GPs – Garotas de Programas – seriam apenas uma invenção da mídia, uma moda passageira? Do ponto de vista do debate sobre a sexualidade, os brasileiros já viram outros "fenômenos". Um deles, na década de 1980, foi a Roberta Close, um travesti, "revelado" nos bailes de carnaval. Close virou sex symbol nacional, posando, inclusive, para a revista Playboy. Ele (a) foi capa de um livro com o sugestivo nome "O que é pós-moderno?", publicado pela editora Brasiliense. O título da música "Even better than the real thing" do U2 poderia sintetizar o que acontecia no país naquele momento.
Na década de 1970, período de censura e repressão do regime militar, havia as pornochanchadas. Atrizes famosas, como Vera Fischer, começaram nesta fase. Esses filmes seriam considerados "ingênuos" se comparados com a indústria de filmes pornográficos atual. De fato, a "revolução sexual" no Ocidente poderia ser considerada um fenômeno recente. Aliás, alguns fatores contribuíram para que ocorresse esta mudança no comportamento das pessoas. A invenção da pílula anti-concepcional foi fundamental neste processo, possibilitando o avanço do movimento feminista e a luta dos hippies pela bandeira de sexo drogas e rock n’ roll. Pode parecer estranho, mas no período dos anos dourados – década de 1950 – aconteceram fatos relevantes que possibilitaram a explosão na década seguinte: a criação do rock and roll como um movimento de massa, a geração beatnick, com suas idéias sintetizadas no livro "On the road" de Jack Kerouac e, não podemos esquecer, a criação da revista Playboy, em 1953, que tentava ser um espaço para o homem moderno e solteiro, de bom gosto, com fotos artísticas de belas mulheres. Talvez não tenha sido por acaso que um dos ícones do século XX tenha sido a capa do número 1 da revista: Marylin Monroe. No Brasil dos militares, a revista era proibida. Nos anos 1970, ela foi criada, mas sem poder usar o nome original – foi chamada então de Homem. Somente depois de julho de 1978, a revista passou a usar o nome Playboy.
Por volta de 1976, com a invenção do Computador Pessoal(Personal Computer - PC), começava uma revolução tecnológica que iria mudar drasticamente as relações trabalhistas e empresariais no mundo capitalista. A indústria tradicional, com os seus trabalhadores manuais, semi-analfabetos, perdia espaço para o setor de serviços ou para a nova indústria, baseada no trabalho intelectual.
Estas mudanças influenciaram decisivamente a indústria do turismo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, com o avanço tecnológico do transporte aéreo, que permitiu "encurtar" as distâncias, o setor não via um incentivo tão grande para o desenvolvimento de suas atividades. Em 1971, foi criado o primeiro mestrado da área, na Universidade George Washington. Tratou-se de um fato relevante, pois, a partir deste momento, seria possível discutir diretrizes mais elaboradas e mesmo científicas para o turismo, sobretudo levando em consideração o papel da Organização Mundial do Turismo (OMT) no incentivo da atividade. No Brasil, foi também em 1971, que foi criado o primeiro curso superior de turismo, pela então Faculdade Anhembi-Morumbi. Hoje, são quatro mestrados reconhecidos no país: USP, UNIVALI, UCS e UNA. Todos são mestrados na área de turismo. Existe ainda o mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi-Morumbi. Se até a década de 1980, não havia nem dez cursos de graduação no Brasil, a partir dos anos 1990, houve a criação de mais de 500 cursos.
O reconhecimento do turismo como atividade econômica relevante, levou ao desenvolvimento do turismo de negócios. Com este segmento, o turismo sexual tornou-se um problema para alguns destinos. No caso do Brasil, a conscientização, por parte do governo federal, de que o turismo sexual era algo prejudicial ao país, somente ocorreu nos últimos anos, sobretudo a partir da implementação da Política Nacional do Turismo (1996-1999). Antes, principalmente até a década de 1970, o Produto Brasil era associado a mulheres de biquíni nas praias e as mulatas do carnaval carioca. Atualmente, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro tenta proibir a venda de postais de turismo sexual. O governo federal, desde 1996, procurou destacar as potencialidades naturais, culturais e históricas do país, não divulgando a mulher brasileira como um "atrativo turístico". Estas medidas, contudo, não foram suficientes para desfazer, no mercado internacional, a imagem do Brasil associada ao turismo sexual. Internamente, o problema ocorre, entre outros motivos, por causa do crescimento do turismo de negócios e, em alguns casos, a ausência do turismo de lazer em muitos destinos nacionais.
Fernando Ohhrira aponta outras temáticas associadas ao turismo sexual: status, desemprego e mesmo as empresas turísticas de um destino de negócios. Relacionar a prostituição ao status não é um erro. Na matéria da revista Época de 30 de janeiro de 2006, foi descrito o interesse de meninas de classe média pelo universo das GPs. Isso seria explicado pelo status, dinheiro e mesmo a própria aventura.
O desemprego aumenta a prostituição? Não seria possível, pelo menos no imaginário das pessoas, dissociar esses dois temas. A justificativa da prostituição sempre esteve relacionada à questão financeira, por isso era usada a expressão "a venda do corpo."
Outro problema diz respeito às empresas turísticas. Elas, de fato, na maioria dos casos, funcionam como elementos complementares ao turismo sexual. Ou seja, os próprios funcionários do trade ajudam nas atividades das GPs. Isso ocorre com os restaurantes, com as dicas de taxistas e dos trabalhadores de aeroportos e, claro, com os funcionários dos hotéis, locais onde acontecem os encontros.
É difícil defender o turismo sexual como segmento econômico na medida em que o problema da pedofilia em países pobres cresce com a chegada de turistas estrangeiros. Isso foi demonstrado pelo Jornal da Globo, mostrando a realidade das praias do nordeste, com várias reportagens, que foram ao ar em março de 2006.
Em suma, mais do que moda ou aventura, casos como o de Bruna Surfistinha devem ser tratados como problemas sociais sérios, afinal, um país que não consegue oferecer aos seus jovens opções de estudos e de trabalhos decentes, não deve se orgulhar de uma imagem que mostra as suas mulheres e crianças como "atrativos turísticos".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RUBIN, Débora e AZEVEDO, Solange. Bruna Surfistinha: por que tantas meninas de classe media estão virando garotas de programa. Época, São Paulo, (402): 42-50, 30 de janeiro de 2006.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de (2006) Política, turismo e outros ensaios. http://profelipego.weebly.com/
SUMÁRIO
1. A formação do assistente social na atualidade brasileira
2. A ESG e o golpe de 1964
3. Governo Rondon Pacheco: política e industrialização em Minas Gerais
5. Turismo, sexo e negócios
6. Noções básicas para a elaboração de trabalhos na universidade
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1. A FORMAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATUALIDADE BRASILEIRA
O assistente social, enquanto um agente transformador da sociedade, necessita de uma base teórica sólida em teoria política. Como intervir nos conflitos sociais, sem conhecer as concepções que estão por trás das ações coletivas e individuais? Como compreender a política brasileira, a ausência de recursos em áreas sociais, como educação e saúde, sem entender a influência de Maquiavel na política moderna?
Atualmente existe uma hegemonia do chamado neoliberalismo em quase todos os países do mundo. Muitas vezes esse conceito se confunde com globalização e até mesmo com revolução tecnológica. Alguns autores contrários ao neoliberalismo preferem utilizar outros termos, como é o caso de globalismo. A verdade é que a revolução tecnológica é um fato, não que ela não seja utilizada ideologicamente, mas sim que ela pode assumir vários significados, inclusive, atendendo aos interesses das classes populares. É o caso da Internet, onde aparece claramente a idéia de compartilhar coisas, idéias, informações, cultura... sem pagar! As grandes corporações ainda discutem formas de cobrar por seus produtos (como a música, por exemplo). Enquanto isso todo mundo compartilha o seu acervo livremente, trocando além de música, idéias, carinho e solidariedade. Não é por acaso que as empresas de softwares de MP 3 costumam afirmar que criam comunidades onde os usuários podem trocar as suas canções.
A proposta de comunidade está associada à luta pela cidadania. A diferença é que hoje ela não ocorre só no espaço real... ela existe também na esfera dos símbolos, dos imaginários, em suma, na esfera do ciberespaço. Na medida em que o assistente social crítico sempre buscou amenizar as diferenças sociais, lutando por um mundo mais justo e solidário, está claro que este profissional tem um papel fundamental na sociedade atual. Ele já acreditava em compartilhar antes mesmo das comunidades virtuais de MP 3 e criticava os excessos das elites antes do processo de globalização e concentração de capital em escala mundial.
Certamente não cabe ser do contra simplesmente. Não é possível usar os mesmos conceitos e estratégias de lutas do século XIX. Isso não significa abandonar as idéias de partidos e sindicatos, mas sim de dar um novo sentido a esta luta, levando em consideração as relações democráticas em todos os níveis. Não dá para fingir que não houve o movimento feminista, nem que a luta seria simplesmente entre dois setores (ou duas classes). Trata-se de pensar as relações políticas percebendo o ponto de vista da própria condição humana, em sua complexidade, e se for considerado especificamente o indivíduo, levar em consideração as múltiplas relações em que ele se vê inserido.
Nesta perspectiva, o assistente social, como todo profissional, deve pensar a sua própria condição como uma totalidade. O aspecto profissional não está dissociado do prazer pessoal. Como diz Domenico de Masi, numa sociedade pós-industrial, não faz mais sentido separar trabalho, estudo e prazer. Portanto, cada profissional só será capaz de contribuir efetivamente para a melhoria da comunidade, na medida em que ele perceba que ele faz parte dela, ou seja, a sua felicidade está ligada, depende e influencia o comportamento do outro. Não existe uma linha divisória entre o pessoal e o social. É tudo a mesma coisa. Estes níveis fazem partem da mesma totalidade, que no indivíduo (e fora dele) se coloca de maneira complexa, contraditória, múltipla. Não existe o caminho ou a solução, na verdade, seria mais correto levar em consideração a perspectiva de que os indivíduos fazem a sua própria história e, desta maneira, não se pode determinar o que será o futuro. Aliás, o futuro é só uma idéia, o que importa de fato é o fazer-se no cotidiano, é o viver agora, mas não de maneira individualista ou inconseqüente, mas, ao contrário, trata-se de perceber que o bem da comunidade está associado diretamente a sua própria felicidade pessoal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLEMAN, Daniel. Working Emocional Intelligence. New York: Bantam Books, 1998.
LÉVI, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34, 1996.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Cultrix, 1994.
MASI, Domenico de. Desenvolvimento sem trabalho. 4. ed., São Paulo: Esfera, 1999.
STEPHENS, Marks. Future business. PC Pro, London, (70): 254-259, august 2000.
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2. A ESG E O GOLPE DE 1964
Discutir o golpe militar brasileiro, significa retomar alguns temas que, atualmente, perderam a dimensão que tinham em 1964, como era o caso da chamada guerra fria – a luta entre o bloco capitalista, liderado pelos Estado Unidos, e o bloco comunista, com a extinta União Soviética a frente. Os governos norte-americano e soviético procuravam influenciar – algumas vezes até com intervenções militares – a política dos outros países, tentando fazer valer, cada um a sua maneira, a ideologia capitalista ou comunista.
O caso brasileiro não pode ser entendido fora deste contexto. O levante militar em 1964 começou em Minas Gerais, com os generais Mourão e Guedes, e contou com o apoio do governador Magalhães Pinto. A imprensa, no Estado, apoiava o discurso dos militares, inclusive antes do próprio golpe. Podemos perceber esta postura no editorial do jornal Estado de Minas, em 18 de Março de 1964:
"Ninguém tem mais o direito de iludir-se a respeito da realidade brasileira. Abrem-se agora apenas dois caminhos ao Brasil: a democracia ou o comunismo."
Não foi por acaso que, alguns dias depois, ocorreria o golpe militar. Analisando esta época, o general Leonidas Pires Gonçalves reconheceu que o principal motivo para fazer o golpe:
"foi a república sindicalista que estava se implantando neste país e a desordem subseqüente. (...) Eles estavam quebrando todas as regras que se podia ter, inclusive nas Forças Armadas."
Os militares viam com suspeitas a atuação do presidente João Goulart. Eles não confiavam em suas intenções políticas e faziam uma avaliação negativa sobre as ações de seu governo – sobretudo quando Goulart apoiava as greves dos trabalhadores e anistiava militares que tentavam romper a hierarquia nas forcas armadas, como foi "o movimento dos sargentos". De fato, os militares tentaram impedir a posse de Goulart ainda em 1961, o que forçou a adoção do parlamentarismo no Brasil e a limitação dos poderes do presidente da república. Em 1964, para os militares, o caso seria mais grave, pois Goulart já havia assumido todos os poderes do presidente num regime presidencialista e agia como um esquerdista. Em resumo, podemos dizer que o rompimento da hierarquia e da disciplina nas Forças Armadas e a possibilidade de mudança do regime foram apresentadas como as causas que legitimariam a ação militar em 1964. De acordo com o Marechal M. Poppe de Figueiredo:
"Chegamos, assim, aos dias recentes de 1964. O regime entrara em franca deterioração. Institucionalizou-se a subversão, uma vez que praticada por ordens partidas do próprio Governo. A corrupção lavrava despudoradamente. Iniciara-se a destruição das Forças Armadas, atingidas nos fundamentos de hierarquia e disciplina. Descambava-se, não se sabe bem, se para um regime socialista ou sindicalista. A Democracia corria grave perigo. Sensível ao clamor nacional, o Poder Militar, uma vez mais, intervém e as Forças Armadas fazem a Revolução de 1964."
O governo poderia ser questionado e mesmo "derrubado" na medida em que ele havia tornado-se uma agente de subversão. Os militares não podiam admitir que o presidente aceitasse a quebra de princípios básicos para as forcas armadas – como: hierarquia e disciplina. Somava-se ainda a intenção de Goulart de criar, no país, "um regime socialista ou sindicalista." Ou seja, o presidente deveria sair não apenas por suas "ações" mas também por suas "intenções". Como seria possível avaliar a verdadeira intenção do presidente da república?
O discurso do marechal torna-se mais problemático quando ele afirma que tudo isso foi necessário para salvar a "democracia" e realizar "Revolução de 1964". Entretanto, os fatos demonstravam o contrário: um presidente eleito democraticamente pela população seria afastado do cargo antes de terminar o seu mandato, porque uma pequena parcela do povo acreditava que ele iria criar um regime socialista no Brasil. Salvar a democracia? O que aconteceu de março de 1964 foi o oposto: o país entrou em uma ditadura – que cassou lideranças, fechou o congresso nacional, suspendeu o direito de habeas corpus, aprovou o Ato Institucional nº 14, que estabelecia a pena de morte, a prisão perpétua e o banimento - que durou até 1985. A estratégia dos atos institucionais (AIs) aparecia como uma forma de dizer que os militares respeitavam a constituição (de 1946?), que, portanto, seriam democráticos, e que os AIs eram apenas algumas medidas para legitimar a revolução.
Estes fatores seriam suficientes para explicar o golpe militar? Qual foi a influência da Doutrina de Segurança Nacional (DSN) neste processo? Para entender a DSN, Eliézer Rizzo de Oliveira recua até a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Ele está correto. Primeiro, por que foi com esta guerra que o Brasil foi "obrigado" a definir-se internacionamente pró-Estados Unidos, entrando assim no seu campo de influência (tanto militar como econômica). Em segundo lugar, apesar das tentativas de se fazer da atuação da Força Expedicionária Brasileira (PEB) na Itália motivo de orgulho nacional, sabemos que entre os próprios militares se reconhecia as contradições e os problemas que os brasileiros enfrentaram na guerra. Em resumo, eles estavam mal preparados. Apesar das divergências de análises, neste ponto, pelo menos, estavam de acordo tanto a versão oficial da FEB – a do Marechal Mascarenhas - como a dos comandados:
- Marechal Mascarenhas: "Os três primeiros escalões de embarque integrantes da 1a D. I. chegaram a Itália com um treinamento incompleto e inadequado, e os dois últimos (4o e 5o escalões) partiram do Brasil praticamente sem instrução."
- Oficiais: "A instrução do 6o R.I., desde que nele fomos incluídos até a organização da Força Expedicionária Brasileira, sempre se calcou nos diversos regulamentos do Exército Brasileiro já por demais antigos, tendo-se em vista a evolução dos princípios táticos e estratégicos e dos armamentos usados na guerra que se desenrolava na Europa, desde 1939. Assim sendo, o Regimento começou a aprender a guerra moderna somente quando desembarcou na Itália e 90 % de seu adestramento foi feito na própria linha de frente, em combate com um inimigo experimentado, com sacrifício de vidas preciosas."
Mal preparada e desorganizada, principalmente se comparada com os militares norte-americanos, a FEB mostrou mais falhas e problemas do que pontos positivos:
"Muitos oficiais da FEB regressaram ao Brasil convictos da necessidade de acelerar o desenvolvimento econômico. Do ponto de vista militar, significaria promover o desenvolvimento da economia - abrindo-a inteiramente ao capital estrangeiro, se necessário - como condição para o desenvolvimento do próprio aparelho militar com vistas ao papel que o Brasil deveria desempenhar na defesa hemisférica. Nem todos oficiais pensavam do mesmo modo e houve mesmo um forte movimento entre eles, com base numa sólida convicção política de que o desenvolvimento nacional poderia dar-se em padrões nacionalistas. Esta polêmica ganhou um espaço político nacional: no caso do petróleo, opôs o General Juarez Távora aos Generais Horta Barbosa e Estillac Leal. O primeiro, ligado ao grupo criador da ESG; os últimos, principais líderes da corrente nacionalista que dirigia o Clube Militar."
Essa polêmica era reflexo do que ocorria na sociedade brasileira. Havia até o golpe de 1964, dois projetos distintos de desenvolvimento para o Brasil: um que abria o país ao capital estrangeiro e outro com uma ênfase mais nacionalista. O golpe militar resolveu essa polêmica pela direita, adotando, portanto, um modelo de crescimento baseado no capital multinacional. Para se chegar neste ponto, a criação da Escola Superior de Guerra (ESG) foi fundamental, pois a base do discurso anticomunista estava na ideologia de segurança nacional. Assim, a criação da ESG deve ser entendida:
"enquanto instrumento de relação orgânica entre setores militares e grupos ou setores das classes dominantes, entre grupos militares e outros setores do aparelho de Estado (magistrados, políticos, educadores, embaixadores – numa dimensão política e burocrático-administrativa), com o objetivo de promover um determinado tipo de desenvolvimento econômico (de tipo capitalista), dirigido por um grupo específico (as elites) e dotado de una ideologia (ideologia de segurança nacional) e de uma opção estratégica (o Mundo Ocidental), sob a hegemonia dos Estados Unidos."
Certamente um dos elementos mais importantes da ideologia de segurança nacional foi a ampliação do conceito de guerra, ou seja, além do inimigo externo, havia também a guerra interna. De acordo com o Marechal M. Poppe de Figueiredo:
"A necessidade de combater a ambos os inimigos, o interno e o externo para que se realizassem os destinos da nacionalidade, fez com que a expresso 'defesa nacional', defesa do território contra o que se referia a agressão militar, era pois de natureza estritamente militar. (...) Transformou-se em 'Segurança Nacional', definida como a garantia de conquista e manutenção dos objetivos nacionais - assim entendidos os interesses e aspirações sedimentadas no espírito da nacionalidade - a despeito de ações contrárias ou antagonismo, de qualquer natureza, vindos do território nacional ou de fora dele."
Um dos articuladores deste discurso - e responsável também pela criação da ESG - foi Golbery do Couto e Silva. Para ele, o conceito de guerra havia mudado:
"De guerra estritamente militar passou ela, assim, a guerra total, tanto econômica e financeira e política e psicológica e científica como guerra de exércitos, esquadras e aviações; de guerra total a guerra global."
Em outras palavras, admitir uma guerra global, era admitir uma guerra interna e uma guerra externa. Isso seria possível com um inimigo que estava em todo lugar – tanto dentro como fora do Brasil: o comunista. Exatamente para combater esse inimigo, as forças armadas deixariam a sua função - defender o país de um inimigo externo - e passariam a se envolver na política nacional, assumindo os postos de principais mandatários da nação. Ou seja, entre 1964 e 1985, para ser presidente da república era necessário ser um general do exército brasileiro.
O que serviu de eixo teórico para a criação da ESG – o anticomunismo -, serviu também como o principal motivo para justificar o golpe de 1964. A retórica de revolução e democracia, contudo, não se sustentou diante das práticas autoritárias do regime que durante 21 anos privou os brasileiros dos direitos de exercer a verdadeira cidadania num governo republicano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Maria Celina de; SOARES, Gláucio A. D. e CASTRO, Celso (org.) Visões do Golpe: a memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
BRANCO, Humberto A. Castello e outros. A Revolução de 31 de março: 2o aniversário. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1966.
FIGUEIREDO, Marechal M. Poppe de. A Revolução de 1964: um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970.
MORAES, Marechal J. B. Mascarenhas. A F. E. B. Pelo seu comandante. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1947.
MORAIS, Berta e outros. Depoimento de oficiais da reserva sobre a F. E. B. São Paulo: s/e, 1950.
OLIVEIRA, Eliéser Rizzo. A Doutrina de Segurança Nacional: pensamento político e projeto estratégico. In.: Militares: pensamento e ação política. Campinas: Papirus, 1987.
SILVA, Golbery Couto e. Conjuntura política nacional, o poder executivo & geopolítica no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1981.
SILVA, José Wilson da. O reacionarismo militar na Terra de Santa Cruz. Porto Alegre: Sulina, 1989.
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3. GOVERNO RONDON PACHECO: POLÍTICA E INDUSTRIALIZAÇÃO EM MINAS GERAIS
Rondon Pacheco foi indicado para ser governador de Minas Gerais em 1971, durante o regime militar (1964-1985), quando o presidente da república era o general Médici, que se orgulhava de ser um seguidor do movimento de 64, que, na sua opinião, realizou os desejos da população brasileira do período:
"As instituições democráticas não foram assaltadas pelos militares, mas, de fato, foram sustentadas pelos mesmos, na hora em que os próprios homens que ocupavam o Poder Nacional iniciaram a destruição dos mais altos valores da nacionalidade. Essa é a verdade revolucionária que precisa ser compreendida, e de que não aceito e nem aceitarei contestação."
Essa última frase de Médici, aliás, demonstrava não apenas o caráter autoritário do seu discurso como seria a marca registrada do seu governo, o mais autoritário dos cinco generais presidentes. Provavelmente o sucesso de sua política econômica tenha dado sustentação aos seus atos ditatoriais. Nesta época, o país chegou a obter um PIB acima de 10 % ao ano. Foi o chamado período do "Milagre Brasileiro", com a hegemonia do discurso dos tecnocratas e o esvaziamento da ação dos políticos e das instituições democráticas – como o próprio fechamento do Congresso Nacional. Foi neste contexto que Rondon Pacheco foi indicado como governador de Minas Gerais. Além de ter sido o presidente nacional da ARENA – o partido do governo -, Pacheco foi um dos ministros favoráveis na aprovação do Ato Institucional n. 5. Certamente, com essas credenciais, ele havia se tornado um político de confiança dos militares.
Diante da realidade ditada pelo governo Médici, Rondon Pacheco adotou como o eixo de sua administração o discurso do desenvolvimento. O próprio governador fazia questão de ressaltar este ponto na campanha da ARENA mineira para as eleições de 1970:
"A nova arrancada do desenvolvimento e do trabalho não representa a minha promessa, mas o meu compromisso. Se esta é a aspiração do povo, se é este o nosso compromisso, se é este o programa da Arena, eu peço ao povo que vote com os candidatos da Arena. Todos juntos faremos uma pirâmide, que vai desde os municípios até o Presidente Médici , em função do programa da revolução de 64, que é o desenvolvimento integrado pela justiça social."
Havia, portanto, uma preocupação de Rondon Pacheco de colocar Minas Gerais caminhando na mesma direção do governo federal. Neste sentido, o governador mineiro procurou apoiar também a retórica da segurança nacional encaminhada pelos militares, afinal, de acordo com o seu discurso: "o desenvolvimento de Minas é hoje uma exigência da própria segurança nacional." Não importava, portanto, se foi em nome desta "segurança" que se criou o AI-5, dando poderes especiais ao governo para implantar efetivamente no Brasil aquilo que Jacob Gorender chamou de "terrorismo de Estado" (torturas, mortes, enfim, desrespeito completo aos direitos humanos).
No que dizia respeito ao crescimento do Estado, a temática fundamental do governo Rondon Pacheco foi a industrialização. Aliás, esta era uma reivindicação antiga dos mineiros, que desde o início deste século, tentavam tirar Minas Gerais da sua condição de atraso em relação ao desenvolvimento industrial de São Paulo e do Rio de Janeiro. Para tanto, ao longo dos anos tentou-se criar uma infra-estrutura para a industrialização do Estado, através do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, do Plano de Eletrificação, da criação da CEMIG (l951) e da USIMINAS (l956) e da construção das hidrelétricas Furnas e Três Marias. A partir da década de 60 foi criado o Banco de Desenvolvimento em Minas Gerais (BDMG), o Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI) - e a Companhia de Distritos Industriais (CDI). Para Clélio Campolina Diniz, com estas condições "estava (...) amadurecido o arranjo institucional de apoio à industrialização, sustentado diretamente no tripé BDMG-INDI-CDI e indiretamente na Secretaria da Fazenda e no sistema de incentivos fiscais."
A implantação de um novo modelo econômico no país - o chamado "Milagre Brasileiro" - contribuiu também para o fortalecimento da economia mineira, quando "ao esgotar a capacidade ociosa e atingir o limite técnico e econômico para a expansão das indústrias existentes, ensejou a necessidade de um novo pacote de projetos. Para esse novo pacote de projetos, ocorreu uma tendência à desconcentração espacial de São Paulo, na qual Minas Gerais se apresentava como localização privilegiada."
Assim, Minas Gerais viveu seu período de grande crescimento econômico, a partir de 1971, com o governo Rondon Pacheco. Tratou-se da chamada "Nova Industrialização Mineira". Os dados comprovavam este avanço: "uma taxa média de crescimento de 16,4% ao ano no período de 1970-77, contra 6,9% ao ano na década de 1960."
Esta expansão industrial foi baseada nas indústrias de bens de produção ocorrendo uma modernização das indústrias mineiras no sentido da oligopolização e de uma maior concentração de capital. Esta modernização permitiu as indústriasdo Estado concorrerem com as de outras regiões em nível de igualdade.
O projeto da nova industrialização mineira levantava uma questão polêmica - a descentralização econômica:
"Inicialmente a CDI, ao ser criada, propunha um programa de desconcentração industrial, tendo construído distritos industriais em Montes Claros, Pirapora, Uberlândia, Uberaba, Juiz de Fora. Posteriormente a pressão dos interesses econômicos, levaram a CDI à implantação de uma série de distritos industriais na periferia de Belo Horizonte: Betim, Nova Lima, Vespasiana, Santa Luzia."
Clélio Campolina concluiu, portanto, que este projeto, de fato, "desenvolveu sua estratégia de apoio irrestrito ao capital estrangeiro e de concentração em torno de Belo Horizonte." Essa também foi a conclusão de Tarcízio R. Quirino, Laura de Michelis e José M. de Medeiros:
"A região de Belo Horizonte continua aumentando a concentração da industrialização, não só porque recebe a maior proporção relativa de todos os ramos dinâmicos, mas também porque concentra a maioria dos projetos, tanto de expansão como de implantação."
O porta-voz da expansão industrial não foi o empresariado mineiro. Os agentes fundamentais neste processo foram o próprio Estado e o capital internacional. Neste sentido, podemos citar a atuação de Rondon Pacheco, que envolveu-se pessoalmente no processo que garantiria a vinda da FIAT para o Estado:
"Antes da minha posse, estive em Turim mantendo contatos com a direção da Fiat, objetivando a instalação de suas fábricas de automóveis, tratores e autopeças em Minas."
Em suma, os políticos mineiros estavam afinados com o regime militar no que dizia respeito à problemática do desenvolvimento. Outro ponto em comum entre eles era a questão da união. Se no nível federal pregava-se a união nacional, no nível estadual a união dos mineiros era colocada como fundamental para o crescimento do Estado (e também da nação). Nas palavras do governador Rondon Pacheco:
"Quando o Brasil dá uma decisiva arrancada para o desenvolvimento e a integração, sigamos as mesmas aspirações. Ofereçamos à Pátria o exemplo diuturno da vontade de construirmos Minas Gerais como fundamento e parte do Brasil grande, integrada e atuante no curso do seu destino histórico."
No discurso do governador, Minas Gerais aparecia como um exemplo para o resto da nação. A idéia do Brasil grande – tão comum entre os porta-vozes do regime militar – também era destaque em sua fala. Entretanto, desenvolvimento e união eram somente conceitos utilizados nos discursos oficiais. As condições sociais, nesta fase, não tinham melhorado:
"A relação entre o crescimento da produtividade e o salário médio indica que os ganhos de produtividade foram fundamentalmente apropriados pelo capital. Em Minas Gerais, enquanto a produtividade cresceu de 239% no período de l959/70, o salário médio cresceu de l93%, o que confirma nossa afirmação. Entre 1970 e 1974 a produtividade aumentou de 164% e os salários médios de 116%. O resultado foi que a participação dos salários do pessoal ligado à produção na apropriação do produto industrial caiu de 20,5% em 1959 para 16,6 em 1970 e 11,7 em 1974."
Em suma, este modelo de industrialização baseava-se na concentração de capital, ou seja, ao mesmo tempo que ocorria o crescimento econômico, havia uma redução de salários. Os governos federal e estadual procuravam garantir esse quadro com o apoio dos políticos e as vitórias nas eleições, como ocorreu em 1970:
"O massacre eleitoral do MDB - uma derrota bem maior do que a das eleições legislativas de l966 - surpreendeu não somente o partido da oposição, como também a ARENA e o governo, para quem a existência de uma oposição demasiadamente fraca não era de modo algum conveniente."
Em outras palavras, era justamente a oposição que garantia o caráter "democrático" do regime, como reconhecia o presidente da Assembléia Legislativa Mineira, o arenista Homero Santos: "o bipartidarismo é necessário ao funcionamento do legislativo, pois não se pode entender o regime democrático sem a existência de oposição."
Além do massacre do MDB, outro ponto que chamou a atenção nas eleições de l970 foi a quantidade de votos nulos e em branco (Senado: 27,7%; Câmara Federal: 30,3 % e Assembléias Estaduais: 26,8%). Aliás, isso levou a esquerda armada a cometer mais um erro de interpretação de conjuntura, na medida em que ela via esse "acontecimento como vitória dela e evidência do isolamento político-social da ditadura militar."
Nas eleições de 1970, o MDB mineiro que sempre teve uma tendência moderada, após o AI-5, aumentou ainda mais o seu apoio e/ou adesão ao regime militar, comprometendo, inclusive, a sua própria reorganização partidária:
"As dificuldades que o MDB enfrenta para atender aos prazos fixados pelo Ato Complementar no. 54 - reconhecidas pelo próprio líder Sílvio Menicucci - poderão provocar uma debandada no partido em Minas e, ontem, na Assembléia, já se informava que vários deputados oposicionistas estão na iminência de ingressar na Arena."
Com o AI-5, portanto, os emedebistas mineiros defendiam que a postura do partido era de fiscalização, "mas de forma construtiva" e contra qualquer forma de "revanchismo e contestação e sectarismo", chegando inclusive, a elogiar as medidas do governo e da "revolução" de 64.
Esta postura do MDB mineiro era questionada pela imprensa:
"a dura e melancólica verdade é que o MDB de Minas, há muito, deixou de lado as suas características oposicionistas. Sua bancada na Assembléia Legislativa está dividida ao meio. Uns aderem no âmbito estadual, outros na esfera federal, tirando do partido toda e qualquer mensagem ao seu possível eleitorado, ao eleitorado que discorda da situação dominante."
Alguns fatores influíram para que o MDB mineiro tivesse esta postura política. A nível nacional, o partido havia mudado sua linha política de radicalização até 1968, optando pela moderação, o que fortalecia a tendência adesista dos emedebistas mineiros. Além disto, a conjuntura política pós-AI-5, com as inúmeras cassações e as dificuldades de reorganização partidária, minava a possibilidade de resistência do partido. Para Carlos Castello Branco:
"Quanto ao MDB, são conhecidas suas limitações decorrentes das condições gerais do país aos seus candidatos parece ser facultada apenas uma afirmação de princípio democrático em termos genéricos e a divulgação de críticas de natureza administrativa nas esferas regionais e municipais. Alguns dirigentes da oposição estão conformados com o quadro que lhes permite pedir votos sem correr riscos. Outros, no entanto, parecem estar no pressuposto de que os eleitores os entenderão e saberão perdoar-lhes, em face das circunstâncias, o mau jeito do discurso peco e a pouca energia de reivindicação. Afinal sobre eles, como sobre todos nós, pesa a ameaça do Ato Institucional no. 5."
Os eleitores, no entanto, não perdoaram a moderação e a omissão dos candidatos emedebistas. O partido sofreu, como já foi dito, uma derrota maior que a das eleições de 1966. "O MDB, que fora punido pelo regime por ter assumido uma posição mais radical na crise política de 1968, acabou também por ser punido pelo eleitorado em 1970 por ter ido longe demais na sua atitude de moderação."
Para justificar a derrota nas eleições de 1970, o deputado Nilson Gontijo, vice-líder da bancada do MDB na Assembléia Legislativa, enumerou alguns pontos, como:
"a participação do governador eleito Rondon Pacheco na campanha eleitoral do partido do governo (...) a pobreza financeira dos candidatos [emedebistas], (...) máquina do governo trabalhando a favor dos candidatos arenistas, (...) mau aproveitamento dos horários cedidos pelo TRE nas rádios e televisões."
Ou seja, o principal ponto na derrota das eleições - o excesso de moderação do partido oposicionista - nem era citado na avaliação do MDB mineiro, que procurava nas ações do outro - ARENA /governo - os motivos para o seu próprio fracasso. Em termos nacionais, as lideranças tentaram realizar algumas mudanças:
"No período de 1971 a 1974, o MDB iria tratar de mudar sua orientação, no sentido de tentar construir uma imagem oposicionista mais favorável junto ao eleitorado. (...) O primeiro sinal de mudança teve a ver com a cúpula do partido: os líderes não eleitos em 1970 renunciavam a seus cargos na Executiva Nacional. Conseqüentemente, a presidência nacional foi para o vice-presidente, deputado Ulisses Guimarães, político paulista do ex-PSD, cujo talento político seria posteriormente um fator de revitalização do MDB. Talvez o fato mais importante tenha sido a indicação do deputado Pedroso Horta para líder da oposição na Câmara Federal - uma clara indicação do reconhecimento do fracasso da linha excessivamente moderada do partido, pois este era um dos poucos emedebistas que criticara vigorosamente a regime em 1970."
Entretanto, a mudança nas lideranças emedebistas não significou o fim da divisão do partido, como ficou claro "na crise (...) provocada pela entrevista do deputado Pedroso Horta" em fevereiro de 1971. Nesta entrevista, ele "não apenas exigia a revogação do AI-5 e o estabelecimento da democracia, mas também tocava em um ponto bastante sensível do regime: denunciava o uso de tortura em prisioneiros políticos, mencionando casos específicos como o assassinato por envenenamento de um líder sindical no Hospital Militar de São Paulo, além do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, que fora preso no Rio de Janeiro."
Em Minas Gerais, a oposição continuava na linha moderada. Tancredo Neves esclarecia a postura dos mineiros:
"A posição a ser adotada pelo MDB (...) segue a linha do pronunciamento do líder oposicionista Pedroso Horta. Porém, a oposição atuará dentro de seu papel com serenidade, tranqüila e atuante, visando assim a conscientização nacional."
No entanto, a postura de moderação do MDB mineiro acabava, na prática, divergindo da linha política adotada pelas novas lideranças emedebistas no plano nacional. Não foi por acaso, aliás, que na reunião do partido em Recife, "foi rechaçada pela maioria a idéia lançada pelo presidente do MDB mineiro, deputado Tancredo Neves, (...) de uma maior aproximação com o governo federal."
Apesar do MDB mineiro fazer oposição ao governador Rondon Pacheco, em alguns momentos, quando se tratava dos "interesses de Minas Gerais", o partido apoiava as iniciativas do governador, como foi o caso da Açominas.
E quanto às eleições de 1972 e 1974? Se no primeiro caso confirmou-se a vitória do governo, no segundo, veio a surpresa com a vitória da oposição. O que mudou? A vitória do partido governista nas eleições municipais de 1972 não representou nenhuma novidade, afinal, este tipo de eleição favorecia a ARENA, pois havia uma "situação de dependência dos governos municipais em relação aos estaduais - há tanto tempo arraigada no sistema político brasileiro e agravada em l964. (...) Deve-se lembrar ainda que o clima político repressivo existente nas eleições de l970 repetiu-se em l972. Em agosto de l972, o líder da ARENA foi à tribuna da Câmara Federal para denunciar o envolvimento do MDB com o Partido Comunista Brasileiro (PCB)." Este recurso, aliás, era sempre resgatado em épocas de eleição ou para justificar as cassações.
Em Minas Gerais, a postura arenista não havia mudado: se de um lado reafirmava-se o apoio ao regime militar e ao movimento de l964, por outro, as divergências internas continuavam existindo no partido, apesar do governador Rondon Pacheco tentar negá-las em nome da unidade partidária:
"As antigas legendas partidárias são fantasmas. Estão por aí, mas tendem a desaparecer. O meu governo está com base na Arena, com espírito de integração, para que possamos influir nos acontecimentos."
Este discurso de unidade não era uma característica exclusiva da ARENA mineira, mas, ao contrário, representava uma preocupação do partido a nível nacional. Aliás, esta temática esteve presente no projeto governista para as eleições de 1974, quando o papel de articulador coube mais uma vez ao presidente nacional da ARENA, na época, Petrônio Portela. Depois de vários estudos e articulações, faltando somente duas semanas para as eleições, "ele foi ao palácio do governo relatar a situação do partido em cada Estado, e para assegurar ao presidente Geisel que não haveria qualquer derrota crucial nas eleições."
Petrônio Portella estava errado. Para surpresa dos arenistas (e até dos emedebistas), a vitória das eleições de l974 foi do partido da oposição, sobretudo em relação ao Senado.
Quanto a atuação do MDB, o que mudou de 1972 para 1974? Em relação às eleições de 1972, ao mesmo tempo que o MDB afirmava "que o país vai mal e que o eleitorado, querendo mudar para melhor, deve então votar na oposição," ele, para não perder votos, dizia que também era "partido de revolução", ou seja, de acordo com o deputado Silvio de Abreu:
"a Arena é o partido da revolução tanto quanto MDB. Ambos nasceram juntos, são fruto do mesmo ato revolucionário. Os dois são da revolução e servem à revolução, hoje irreversível, aceitam a institucionalidade. (...) A balela de que a Arena é o partido da revolução e que o governo nada fará em benefício dos municípios que elegerem prefeitos do MDB precisa ficar desmascarada de vez."
Como vimos, a repressão que existia nas eleições de 1970 se repetiu em 1972, com os arenistas insistindo que a vitória da oposição significaria perda aos municípios e alertando, ainda, para um suposto envolvimento do PCB com o partido oposicionista. Havia também o uso da máquina governamental nas campanhas dos candidatos situacionistas.
Todo este quadro, portanto, confirmou mais uma derrota do MDB nas eleições brasileiras. A situação política mudaria somente nas eleições de 1974, e, para tanto, o lançamento da "candidatura" de Ulysses Guimarães para a presidência da república, foi um passo muito importante. De acordo com Fernando Henrique Cardoso, "a anticampanha do anticandidato à Presidência e a luta anterior de Pedroso Horta foram importantes para permitir o ressurgimento da oposição partidária em 1974."
A campanha de Ulysses Guimarães "serviria não só para denunciar a falsidade da ‘eleição’ do Presidente da República, mas também para sensibilizar o eleitorado, lançando assim sementes que poderiam frutificar na campanha para as eleições legislativas do ano seguinte." No entanto, esta campanha não conseguiu unir as facções emedebistas - autênticas e moderadas - , como ficou claro na própria escolha do anticandidato à presidência da repúblicaeleição, quando, além dos votos "obtidos por Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho,(...) foram registrados 21 votos em branco, oriundos do grupo dissidente do MDB."
Em relação ao processo de escolha do presidente da república,a vitória, claro, ficou com o candidato da situação, o general Geisel, com 400 votos, enquanto que Ulysses Guimarães obteve somente 76 votos. Em Minas Gerais, o MDB também enfrentava problemas com a divisão do partido entre moderados e autênticos além de atritos entre os deputados oposicionistas e a direção regional do partido, o que, aliás, era negado pelo líder emedebista Tarcísio Delgado, que tentava mostrar uma imagem de união e de apoio à candidatura Ulysses Guimarães.
Analisando a relação entre a anticandidatura de Ulysses Guimarães e as eleições de 1974, Fernando Henrique Cardoso, em 1978, afirmou:
"Nas eleições de 1974, o Governo Geisel garantiu certa margem de liberdade na campanha, especialmente através da imprensa, rádio e TV. Graças a isso, a resistência da anticandidatura de 1973 - simbólica - pôde aumentar durante a campanha de 1974, quando o eleitorado viu, pela primeira vez depois de 1968, líderes que falaram na TV sobre os temas que preocupavam nas conversas de botequim, nas filas, nas feiras e nas famílias: custo de vida, educação para os filhos, saúde, falta de boa moradia, baixo salário e necessidade de menos controle político e da volta ao Estado de Direito."
Esta liberdade influiria na vitória emedebista nas eleições de 1974, na medida em que, "em um clima político menos tenso, o MDB conseguiu expressar, e assim canalizar, a insatisfação de amplos setores do eleitorado." Diante disto, para se garantir, o governo tratou de mudar mais uma vez as regras do jogo, criando a Lei Falcão, limitando, assim, o espaço de atuação da oposição.
Em Minas Gerais, as eleições de 1974 significaram não somente um crescimento do MDB, como também a confirmação de uma nova liderança: Itamar Franco. Ele, apesar de desacreditado - o próprio Tancredo Neves abriu mão de sua candidatura, pois "achava arriscado concorrer ao Senado quando havia uma só vaga em disputa" -, tornou-se senador vencendo o candidato da ARENA com uma margem de 170.000 votos. Itamar integrou a corrente dos ‘autênticos’ do MDB e aprofundou as suas divergências com o ‘moderado’ Tancredo Neves."
Durante o período em que Minas Gerais foi governada por Rondon Pacheco, uma temática importante que também agitou o debate político foi se o governo estadual deveria ter uma linha mais técnica ou mais política. De fato, Rondon Pacheco sofreu críticas de "diversos políticos mineiros, que o acusaram de fazer uma administração calcada numa perspectiva acentuadamente técnica em detrimento das relações políticas tradicionais no Estado." Apesar da postura do governador estar de acordo com a orientação do governo Médici - aliança entre tecnocratas e militares da linha dura contra os velhos métodos de se fazer política - e ter o apoio dos empresários, em Minas Gerais muitos políticos resistiram em aceitar esta nova realidade. Durante o seu governo, portanto, houve um embate sobre qual modelo político deveria ser adotado: um com ênfase no aspecto técnico, ou outro, no qual predominava o aspecto político. Para alguns políticos, de fato Rondon Pacheco adotava um novo estilo na política mineira em nome do desenvolvimento do Estado. Este estilo, apesar das críticas, foi defendido por políticos tanto da ARENA como do MDB, como demonstram, respectivamente, os depoimentos abaixo:
- Francelino Pereira: "a insistência e a teimosia de colocação de ambições pessoais e de velhas práticas demagógicas acima das transformações que a revolução vem consolidando em todo o País, estão prejudicando, interna e externamente, o processo de mudança que o governador Rondon Pacheco está implantando em Minas."
- Dalton Canabrava: "É melancólica a crise sem glória que envolve, de um lado, o governador, e de outro, a Arena. Os mesmos que na campanha eleitoral apareceram ao lado do governador, sorridentes, hoje tentam fragmentar a imagem monolítica que tanto se queria projetar para a opinião pública. Os arenistas (...) em vez de se comportarem assim porque discordam do programa que vem sendo executado pela Secretaria da Fazenda ou porque estão contrários às linhas básicas do Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, agem desta maneira porque o governador Rondon Pacheco, como delegado da revolução em nosso Estado, não admite os vícios do passado e quer colocar nas cabeças dos deputados da Arena que os tempos mudaram, que a revolução, como forma de sobrevivência histórica, tem de combater os métodos clássicos de fazer política, tais como a remoção de professoras apenas porque são filiadas a uma ou outra facção do partido e a nomeação de delegados de polícia orientados para hostilizar os seus adversários."
Apesar de adotar um novo estilo na política mineira, apoiando-se em uma administração mais técnica, Rondon Pacheco, não abandonou o discurso tradicionalista, que buscava no passado elementos para justificar a ação do presente. Assim, Rondon Pacheco também utilizou o mito de Tiradentes tanto para justificar o desenvolvimento - "Tiradentes é um símbolo do idealista autêntico, que sonhou com um País independente e progressista" - como a questão da unidade nacional - "o sentimento nacional da Inconfidência Mineira passa a representar hoje e cada vez mais, um marco definidor da ascensão do Brasil dentro da unidade e da grandeza de seus destinos considerados como objetivos e permanentes. Pois o 21 de abril (...) precede e prenuncia o 7 de setembro."
Além de usar o mito de Tiradentes, havia outro ponto que identificava Rondon Pacheco com a tradicional política mineira: a discrição, o político que falava pouco (esta característica foi elogiada também na escolha do governador seguinte, Aureliano Chaves). Contudo, estes aspectos não são suficientes para colocar o governo Rondon Pacheco no mesmo estilo das administrações anteriores. Ao contrário, a marca de seu governo que passará para os livros de história será aquela associada a nova industrialização mineira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARDOSO, Fernando Henrique. Democracia para mudar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CHAGAS, Carmo. Política, arte de Minas. São Paulo: Carthago A. Fonte, 1994.
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HOBSBAWM, Eric e RANGER, Terence (org.) A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KINZO, Maria D’Alva G. Oposição e autoritarismo: a gênese e a trajetória do MDB. São Paulo: Vértice, 1988.
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QUIRINO, Tarcízio R.; MICHELIS, Laura de e MEDEIROS, José M. de. A nova industrialização mineira: primeiros resultados. Fundação JP, Belo Horizonte, 7 (11): 2-11, nov. 1977, p.11.
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4. NOÇÕES BÁSICAS PARA A ELABORAÇÃO DE TRABALHOS NA UNIVERSIDADE
A primeira pergunta que surge sobre a aplicação das normas científicas é: padronizar para quê? Fala-se muito no rigor das normas da ABNT... e mais: sempre aparecem comentários afirmando que as normas mudaram, que existe uma "nova ABNT"... Isso sem falar nas diferenças entre as propostas dos livros de metodologia no Brasil.
Qual seria, então, o caminho a seguir? Não vamos inventar a roda... Existe um padrão internacional que é seguido, com certa flexibilidade por autores que publicam em inglês, francês, alemão e outras línguas. As diferenças são mínimas. Todos os livros apresentam bibliografias, notas de rodapé, citações. Ainda são usados termos considerados universais, como Idem, Ibidem, Op. Cit., entre outros.
Apesar da forma ser respeitada, que importa, nestes casos, é o conteúdo do trabalho. Nas livrarias destes países – como Inglaterra, França e Alemanha - não é comum encontrar livros de metodologia. Uma exceção é o "Como se escreve uma tese"de Umberto Eco, que ele fez pensando especificamente nas dificuldades dos estudantes italianos.
No Brasil, mesmo em defesas de dissertações ou de teses, ainda se gasta muito tempo discutindo a apresentação gráficado trabalho e as chamadas normas científicas. Algo que deveria servir como padrãotornou-se objeto de polêmicas. Muitos professores confundem as técnicas e chegam a "inventar" (indevidamente) alguns tipos de trabalhos (podendo pedir, por exemplo, uma análise temáticacom a "conclusão" do aluno - o que está incorreto, pois esta técnica trata somente da compreensão do texto, a interpretaçãoou crítica do aluno viria em outro tipo de trabalho). Do ponto de vista dos alunos, o caso é ainda mais grave. Para os estudantes universitários, fazer trabalhos é copiar as principais partes dos livros. Obviamente, este procedimento é inadequado, sobretudo se pensarmos que existem várias formas de trabalhos científicos.
Quando pensamos no ponto de vista do professor universitário, algumas questões devem ser pensadas:
. O que cobrar do aluno?
. Quando? No 1o e 2o períodos? Do 3o ao 6o períodos? No final do curso?
. Qual é o lugar do aluno? Leitor ou autor?
. Trata-se de um trabalho escrito ou de uma apresentação oral?
Primeiro, devemos lembrar que a melhor forma de organizar os estudos é através de fichas. Seja na graduação ou na pós-graduação, a base metodológica dos trabalhos está na elaboração de dois modelos de fichas: a ficha temáticae aficha bibliográfica. A estrutura destas fichas é simples: no primeiro caso, basta identificar o tema e no corpo da ficha virá todo tipo de informação (de várias fontes) que aborda aquele assunto; no segundo caso, coloca-se a referência bibliográfica e na ficha vem algum tipo de trabalho sobre o livro citado (esquema, resumos, análise textual, análise temática, resenha crítica, etc.).
Antonio Joaquim Severino se refere a estas fichas como ficha de documentação temática e ficha de documentação bibliográfica (ele ainda propõe uma ficha de documentação de autor). Para ele, o estudante universitário deve elaborar três tipos de documentação: a temática (que depende de um plano, quando se estabelecem os temas e os subtemas, como no caso de uma monografia), a bibliográfica (que se refere basicamente ao conteúdo dos livros) e a geral (a sua sugestão é guardar os materiais de fontes perecíveis - recorte de jornais, revistas, fotocópias, etc - em pastas, com os títulos e as devidas referências bibliográficas). Hoje, com o avanço da informática, pode-se tentar organizar toda esta documentação no próprio computador, utilizando técnicas modernas como o scanner e a internet.
Em relação à leitura de textos, são apresentadas três técnicas fundamentais. A análise textualé a fase de "preparação da leitura", quando o aluno vai esclarecer as suas dúvidas, pesquisando informações sobre o autor da obra e os autores citados no texto, vocabulário, doutrinas e fatos históricos, além de fazer um esquema no final do trabalho.
Após esta fase, o aluno parte para a análise temática, quando ele vai identificar o tema, o problema, a tese e a argumentação (raciocínio) do autor. Nesta fase, até para facilitar a compreensão do aluno, uma sugestão seria analisar separadamente estas questões.
A sua interpretação sobre a obra aparece somente na análise interpretativa. Duas etapas caracterizam esta fase: primeiro, o aluno vai comparar a unidade analisada com o pensamento geral do autor. Depois, ele compara esta unidade "com a cultura filosófica em geral." O seu objetivo, com este trabalho, é analisar adequadamente a obra, baseando-se em dois pontos fundamentais: a coerência e a originalidade do autor.
Outra técnica importante é o esquema, que tem como principal função apresentar uma visão global da obra analisada, baseando-se nas principais idéias do autor. A principal diferença do esquema e do resumo, é que este último é formado por parágrafos. Além disto, o resumo é feito com as próprias palavras do aluno. Se ele quiser copiar alguma frase do texto básico, ele deve utilizar aspas. Apesar destas características, que todos os resumos devem ter, podemos ainda analisar algumas diferenças entre eles.
No resumo pedagógico, além da análise das principais idéias do autor, admite-se no final a crítica do aluno. O resumo indicativo é mais sucinto. Em apenas um parágrafo, com frases curtas, indica-se as principais temáticas do texto básico. Já o resumo analítico é mais completo, na medida em que o aluno tem que explicar as idéias mais importantes do autor. No final deste resumo, apresentam-se as palavras-chave. Deve ser lembrado que a crítica do aluno, que não aparece nestes resumos (indicativo e analítico), vai se destacar no resumo crítico. Exatamente por isso, neste último tipo de resumo, "não pode haver citações."
Alguns professores insistem em cobrar resenhas dos alunos de primeiro período. Tecnicamente, essa postura não seria adequada, pois o aluno não teria condições de elaborar um crítica adequada sobre a obra de um autor. A resenha crítica, na verdade, deve ser classificada com uma forma de publicação. É comum encontrarmos em revistas científicas tanto resenhas, como artigos. A estrutura de uma resenha deve vir, no mínimo, com a referência bibliográfica da obra, numa primeira parte, sendo apresentadas as credenciais do autor, a sua conclusão e um resumo do seu livro. Numa segunda parte, viria a crítica do resenhista e, se for o caso, o público que seria indicado para ler tal obra.
Para alunos em fase final do curso de graduação, alguns professores pedem trabalhos na forma de artigos científicos. A atitude é correta, pois serve como um incentivo para que, posteriormente, o aluno se interesse em publicar os seus trabalhos e divulgar as suas idéias. Deve ser lembrado, contudo, que o artigo deve obedecer uma estrutura técnica. Além do título e do nome do autor, no caso o próprio aluno, antes do texto do artigo, devem ser apresentados separadamente a sinopse – o resumo do artigo, algumas vezes também em inglês – e as credenciais do autor.
O corpo do artigo, como em outros trabalhos científicos, deve ser dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Em seguida deve ser apresentada a bibliografia e a relação das fontes. Se houver anexos ou apêndices, eles também devem ser apresentados no final do artigo.
É comum os alunos reclamarem dos seminárioscobrados pelos professores. Eles argumentam que quando o professor utiliza tal técnica, na verdade, ele não quer preparar aula e coloca os alunos para apresentar os textos da disciplina. Isso pode ser verdade caso durante a aula não ocorra nenhum debate e o próprio professor não se posicione sobre a discussão, inclusive corrigindo informações equivocadas. Existem casos ainda mais complicados, quando o professor pede ao aluno para apresentar um tema e o aluno traz um convidado que fala durante todo o tempo, sem a participação efetiva dos alunos ou do próprio professor. Seminário, claro, não é isso.
A estrutura de um seminário em sala de aula deve começar com a fala do professor, que associaria o tema ao conteúdo da disciplina e relacionaria as idéias discutidas na última aula com a sua proposta de debate para aquele dia. Em seguida, os alunos responsáveis pelo seminário fariam a sua apresentação, esclarecendo a dinâmica da atividade e quando seria o melhor momento para a discussão com toda a sala. Após a apresentação, viria o debate com a participação de todos, seguido das considerações finais do grupo que apresentou o seminário. O fechamento caberia ao professor, que analisaria a apresentação, o debate, indicando as falhas e os acertos do dia e antecipando o que ocorreria na próxima aula.
No que diz respeito à pesquisa (mesmo sendo somente bibliográfica), a melhor maneira do aluno apresentar o seu trabalho é adotando o modelo da monografia. Ou seja, no mínimo um trabalho deve ter: capa, página de rosto, sumário, introdução, desenvolvimento (os capítulos), conclusão e bibliografia. O aluno deve redigir o trabalho com as suas próprias palavras. Se ele quiser copiar alguma parte de um livro, ele deve utilizar aspas e citar a fonte (a maneira mais simples, é ele numerar a bibliografia e colocar o número do livro e a página após a citação entre parênteses).
Como vimos, é possível fazer esse trabalho somente com a pesquisa bibliográfica. Em trabalhos que os alunos irão utilizar fontes primárias, seria necessária a elaboração de um projeto de pesquisa. Ele é importante pois serve para o aluno como um mapa para que ele não fique perdido na hora da coleta de dados. Afinal, como ele poderia definir qual informação seria importante e qual seria secundária? Que tipo de fonte ele iria pesquisar? Qual seria a sua metodologia?
O projeto de pesquisa, além da capa, página de rosto, sumário, deve ser elaborado em um texto "corrido", separando cada item, por exemplo, com dois espaços entre as linhas.
A primeira coisa que deve ser definida no projeto é o tema da pesquisa. Trata-se basicamente do assunto do trabalho. Ele pode ser definido com uma ou duas palavras. Ele é diferente do título, que deve ser mais detalhado, dando uma noção do conteúdo do projeto.
Em seguida, sugere-se a delimitação do tema. Em um parágrafo, devem ser explicados os cortes feitos pelo pesquisador, como, por exemplo, restringindo a sua pesquisa a uma cidade ou delimitando a coleta de dados em um período especifico – como o governo Collor, entre 1990 e 1992.
A justificativa é um dos principais pontos do projeto. Trata-se de um texto no qual o pesquisador, com as suas palavras, discorrerá sobre a importância do tema e da pesquisa.
Os objetivos devem vir separados, diferenciando o geral dos específicos. O problema da pesquisa deve vir na forma de pergunta, com pelo menos duas variáveis. A hipótese seria a resposta provisória do problema. Ela pode ser subdividida em hipótese básica e hipóteses secundárias.
Não existe projeto sem metodologia. Aqui o aluno deve explicar como será feita a pesquisa e quais fontes ele pretende utilizar. No embasamento teórico, ele faz um texto explicando os principais conceitos que irão nortear a coleta de dados.
No projeto de pesquisa, poderia, ainda, ser apresentado um cronograma, quando o pesquisador explicaria o que seria feito e quando, e um orçamento, indicando os custos da pesquisa tanto em relação aos materiais usados como quanto a contratação de pessoal.
Poucos apresentam o instrumento de pesquisa. Alguns o confundem com os anexos ou os apêndices. O instrumento de pesquisa é usado quando o aluno deseja mostrar, por exemplo, o modelo de um formulário ou o roteiro de perguntas de uma entrevista.
Os anexos ou apêndices não devem vir no projeto e sim nos trabalhos finais, como as monografias ou relatórios de pesquisa, lembrando que ambos são documentos complementares ao trabalho, sendo que, enquanto o apêndice é um documento elaborado pelo próprio autor da pesquisa, os anexos seriam documentos criados por outros autores.
A última parte do projeto de pesquisa, claro, é a bibliografia. Recomenda-se separar os tipos de fontes usadas na elaboração do projeto, como artigos, livros ou mesmo material coletado na internet.
Um tema que gera certa polêmica é a elaboração de relatórios. Basicamente, podemos sugerir dois tipos de relatórios. Um seria o relatório técnico, aquele que os bolsistas entregam no final do semestre, descrevendo as atividades desenvolvidas no período. Esse modelo é simples: basta dividi-lo em três partes: primeiro, viriam os dados da instituição, do curso e do aluno, em seguida seriam apresentadas, em tópicos, as atividades feitas e, numa terceiro momento, seriam divulgadas as próximas etapas do trabalho. Em anexo viriam os comprovantes das atividades.
Esse tipo de relatório poderia ser utilizado, com algumas alterações, quando o professor pede um relatóriode uma visita técnica, por exemplo. Neste caso, após a apresentação dos dados gerais - instituição, curso e nome do aluno, entre outros – viria a descrição dos fatos mais importantes da visita. Aqui o professor poderia optar entre a apresentação por tópicos ou por parágrafos.
O outro tipo de relatório é o relatório de pesquisa. Trata-se de um trabalho mais elaborado, podendo ser, inclusive, cobrado, como trabalho de conclusão de curso. Esse relatório só pode ser feito depois da elaboração de um projeto e a realização de uma pesquisa tanto com fontes primárias como com fontes secundárias.
A apresentação do trabalho viria com a capa, página de rosto, sinopse e sumário. O corpo do texto começaria com a introdução, quando seriam analisados o tema, os objetivos, os problemas, as hipóteses e a justificativa da pesquisa. Em seguida, separadamente, viria a revisão da bibliografia, a metodologia, e o embasamento teórico. Esses itens, apesar de terem sido utilizados no projeto de pesquisa, podem ser melhorados no relatório.
Após o embasamento teórico viria a apresentação dos dados e sua análise, seguida pela interpretação dos resultados. Nestes casos, se houve uma pesquisa quantitativa, deve-se usar, na apresentação dos dados, gráficos, quadros e tabelas. Recomenda-se que o professor lembre ao aluno que o gráfico não pode ser apresentado sem a análise do estudante, como se fosse uma ilustração. No final do relatório de pesquisa, são apresentadas as conclusões, recomendações e sugestões, apêndices, anexos e bibliografia.
Muitos argumentam que são vários detalhes e que somente os professores de metodologia prestam atenção nestas técnicas. Outros, quando se deparam com qualquer problema na apresentação dos trabalhos, falam para os alunos que eles devem procurar o professor de metodologia, como se esse assunto fosse responsabilidade exclusiva desse profissional. Não é. De nada ainda existir um padrão de normas cientificas se todosos professores não cobrarem dos alunos essas técnicas no cotidiano da sala de aula.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 18. ed., São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1992.
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5. TURISMO, SEXO E NEGÓCIOS
Sex sells. Nenhuma novidade. No Brasil, o que chama atenção é a forma que a profissão assumiu. As "modernas" prostitutas são estudantes universitárias, algumas pertencentes a classe média. Encontram os seus clientes em cafés, boites, shopping centers e utilizam a internet como uma poderosa ferramenta de divulgação de seus trabalhos, através de sites ou comunidades virtuais, como o orkut. O caso Bruna Surfistinha ilustra bem esta realidade. Em suma, ela era uma garota de programa que descrevia os seus trabalhos na internet, no seu blog. Este material tornou-se o conteúdo de um dos livros mais vendidos, chamado "Doce Veneno do Escorpião", publicado pela editora Panda Books. Bruna Surfistinha virou celebridade. Foi capa da revista Época e participou de programas de televisão. A novidade, talvez, seja, como descreveu a revista, a opção pela "profissão mais antiga do mundo" feita por garotas de classe média, que estudam em universidades particulares, vivem em flats e consumem produtos caros.
Uma questão, contudo, deve ser levantada: as GPs – Garotas de Programas – seriam apenas uma invenção da mídia, uma moda passageira? Do ponto de vista do debate sobre a sexualidade, os brasileiros já viram outros "fenômenos". Um deles, na década de 1980, foi a Roberta Close, um travesti, "revelado" nos bailes de carnaval. Close virou sex symbol nacional, posando, inclusive, para a revista Playboy. Ele (a) foi capa de um livro com o sugestivo nome "O que é pós-moderno?", publicado pela editora Brasiliense. O título da música "Even better than the real thing" do U2 poderia sintetizar o que acontecia no país naquele momento.
Na década de 1970, período de censura e repressão do regime militar, havia as pornochanchadas. Atrizes famosas, como Vera Fischer, começaram nesta fase. Esses filmes seriam considerados "ingênuos" se comparados com a indústria de filmes pornográficos atual. De fato, a "revolução sexual" no Ocidente poderia ser considerada um fenômeno recente. Aliás, alguns fatores contribuíram para que ocorresse esta mudança no comportamento das pessoas. A invenção da pílula anti-concepcional foi fundamental neste processo, possibilitando o avanço do movimento feminista e a luta dos hippies pela bandeira de sexo drogas e rock n’ roll. Pode parecer estranho, mas no período dos anos dourados – década de 1950 – aconteceram fatos relevantes que possibilitaram a explosão na década seguinte: a criação do rock and roll como um movimento de massa, a geração beatnick, com suas idéias sintetizadas no livro "On the road" de Jack Kerouac e, não podemos esquecer, a criação da revista Playboy, em 1953, que tentava ser um espaço para o homem moderno e solteiro, de bom gosto, com fotos artísticas de belas mulheres. Talvez não tenha sido por acaso que um dos ícones do século XX tenha sido a capa do número 1 da revista: Marylin Monroe. No Brasil dos militares, a revista era proibida. Nos anos 1970, ela foi criada, mas sem poder usar o nome original – foi chamada então de Homem. Somente depois de julho de 1978, a revista passou a usar o nome Playboy.
Por volta de 1976, com a invenção do Computador Pessoal(Personal Computer - PC), começava uma revolução tecnológica que iria mudar drasticamente as relações trabalhistas e empresariais no mundo capitalista. A indústria tradicional, com os seus trabalhadores manuais, semi-analfabetos, perdia espaço para o setor de serviços ou para a nova indústria, baseada no trabalho intelectual.
Estas mudanças influenciaram decisivamente a indústria do turismo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, com o avanço tecnológico do transporte aéreo, que permitiu "encurtar" as distâncias, o setor não via um incentivo tão grande para o desenvolvimento de suas atividades. Em 1971, foi criado o primeiro mestrado da área, na Universidade George Washington. Tratou-se de um fato relevante, pois, a partir deste momento, seria possível discutir diretrizes mais elaboradas e mesmo científicas para o turismo, sobretudo levando em consideração o papel da Organização Mundial do Turismo (OMT) no incentivo da atividade. No Brasil, foi também em 1971, que foi criado o primeiro curso superior de turismo, pela então Faculdade Anhembi-Morumbi. Hoje, são quatro mestrados reconhecidos no país: USP, UNIVALI, UCS e UNA. Todos são mestrados na área de turismo. Existe ainda o mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi-Morumbi. Se até a década de 1980, não havia nem dez cursos de graduação no Brasil, a partir dos anos 1990, houve a criação de mais de 500 cursos.
O reconhecimento do turismo como atividade econômica relevante, levou ao desenvolvimento do turismo de negócios. Com este segmento, o turismo sexual tornou-se um problema para alguns destinos. No caso do Brasil, a conscientização, por parte do governo federal, de que o turismo sexual era algo prejudicial ao país, somente ocorreu nos últimos anos, sobretudo a partir da implementação da Política Nacional do Turismo (1996-1999). Antes, principalmente até a década de 1970, o Produto Brasil era associado a mulheres de biquíni nas praias e as mulatas do carnaval carioca. Atualmente, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro tenta proibir a venda de postais de turismo sexual. O governo federal, desde 1996, procurou destacar as potencialidades naturais, culturais e históricas do país, não divulgando a mulher brasileira como um "atrativo turístico". Estas medidas, contudo, não foram suficientes para desfazer, no mercado internacional, a imagem do Brasil associada ao turismo sexual. Internamente, o problema ocorre, entre outros motivos, por causa do crescimento do turismo de negócios e, em alguns casos, a ausência do turismo de lazer em muitos destinos nacionais.
Fernando Ohhrira aponta outras temáticas associadas ao turismo sexual: status, desemprego e mesmo as empresas turísticas de um destino de negócios. Relacionar a prostituição ao status não é um erro. Na matéria da revista Época de 30 de janeiro de 2006, foi descrito o interesse de meninas de classe média pelo universo das GPs. Isso seria explicado pelo status, dinheiro e mesmo a própria aventura.
O desemprego aumenta a prostituição? Não seria possível, pelo menos no imaginário das pessoas, dissociar esses dois temas. A justificativa da prostituição sempre esteve relacionada à questão financeira, por isso era usada a expressão "a venda do corpo."
Outro problema diz respeito às empresas turísticas. Elas, de fato, na maioria dos casos, funcionam como elementos complementares ao turismo sexual. Ou seja, os próprios funcionários do trade ajudam nas atividades das GPs. Isso ocorre com os restaurantes, com as dicas de taxistas e dos trabalhadores de aeroportos e, claro, com os funcionários dos hotéis, locais onde acontecem os encontros.
É difícil defender o turismo sexual como segmento econômico na medida em que o problema da pedofilia em países pobres cresce com a chegada de turistas estrangeiros. Isso foi demonstrado pelo Jornal da Globo, mostrando a realidade das praias do nordeste, com várias reportagens, que foram ao ar em março de 2006.
Em suma, mais do que moda ou aventura, casos como o de Bruna Surfistinha devem ser tratados como problemas sociais sérios, afinal, um país que não consegue oferecer aos seus jovens opções de estudos e de trabalhos decentes, não deve se orgulhar de uma imagem que mostra as suas mulheres e crianças como "atrativos turísticos".
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